quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

INSTITUTO DE CERAMOLOGIA CONDORHUASI





Nos últimos dois anos, 2009 e 2010 dediquei-me a estudar o curso de Cerâmica, à distância, do Instituto Condorhuasi de Ceramologia. O Instituto Condorhuasi é comandado pelo Maestro Jorge Fernandes Chiti, autor de mais de 40 livros e conhecido de quase todos os ceramistas. Seu Dicionário Cerâmico é o mais completo do ramo. Lá se encontra tudo, qualquer dúvida, qualquer termo cerâmico, sem falha, estará lá. São três volume, indispensáveis numa biblioteca cerâmica. El Maestro, Chiti como é conhecido aqui no Brasil, tem seu Instituto em Buenos Aires e anualmente dá cursos intensivos e, também, promove a Bienal de Cerâmica = condorhuasi@sinectis.com.ar =A Tecnicatura é um curso completo, dividido em 3 semestres. Todavia, eu demorei quatro semestres para completar. Durante estes dois anos, estive, permanentemente, com 15 livros do Maestro, sempre à vista, estudando, mandando as lições, com as fotos das aulas práticas. O Curso é em espanhol e foi interessante passar dois anos, mandando as lições com as fotos das práticas, consultando dicionário e livro de gramática.
EstaTecnicatura abarca praticamente todas as áreas da cerâmica Artesanal e Artística e, também, a arqueológica Argentina.
São mandadas as lições, via email, com as questões, que para respondê-las e estuda-las necessitam-se os livros correspondentes. Os preços dos livros são baixissimos, comparadas ao nosso padrão nacional. Custam de 35 a 40 reais cada um. Evidentemente, são os livros do Maestro.

MODULO 1 = ARCILLAS/PASTAS Y VASIJAS
MODULO 2 = ESMALTES/ESCULTURAS Y MURAL
MODULO 3 = HORNOS CERÁMICOS
ENGOBES
CERÁMICA ARQUEOLOGICA ARGENTINA

Estou anexando várias fotos das aulas práticas,que podem ser encaixadas nas lições acima. Por comodidade, as fotos pertencem ao módulo 2. Vejam que tem uma foto de um mostruário de cores. Tratam-se de vidrados alcalinos e plúmbicos com adição de óxido de cobre para que se veja a diferença de coloração nestes dois tipos de vidrados. Os vidrados alcalinos podem ser usados em utensílios culinários, enquanto que os plúmbicos não. Evidentemente que em todo curso é dado um enfoque sobre a toxidade dos vidrados e o livro Toxicologia Cerámica, do Maestro, disseca todos os compostos e elementos químicos tóxicos na cerâmica, com os quais o ceramista deve ter MUITO CUIDADO!
Neste módulo, 2, aprende-se a técnica Condorhuasi para preparo de soluções de vidrados e adição de óxidos corantes. No de escultura, além do estudo de escultura teórico, necessitam-se modelar algumas peças para poder completar as lições. No de Mural estudam-se as proporções áureas, sequência Fibonacci, e exercícios correspondentes. Aprende-se, a usar a pasta auto-fraguante que podem ser deixado ao tempo, sem queima, com algum percentual de cimento. A placa colorida são engobes naturais de argilas encontradas nas cercanias de minha casa, que é pródiga em argilas coloridas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OS CICLOS NATURAIS (digitando)





Na nossa vida diária, as aves e as plantas, as pedras, água, enfim, quase tudo é um pano de fundo, uma paisagem por onde a gente se locomove. Agora, nesta semana de lua cheia, tive a oportunidade de, da minha casa mesmo, de uma varanda colocada estrategicamente virada para o norte, ver a lua nascer, atrás do Pico Paraná. O Pico Paraná, na Serra do Mar, na Região Metropolitana de Curitiba, é o ponto mais alto do sul do Brasil, 1964 m de altitude. Num momento de paz e tranquilidade apreciei a ascensão do astro e agradeci por estar em casa e desfrutar de um acontecimento corriqueiro, mas de especial valor prá mim. Sempre tenho observado os céus noturnos, espetáculos de aurora e ocaso, mas não me lembrava de ter presenciado a lua nascer tão ao norte. Sei, estamos no solstício de verão, preciso consultar algum astrônomo amador , para saber se é uma ocasião especial da lua nascer tão ao norte. A foto é o registro do momento, em primeiro plano os galhos da Araucária angustifolia, o nosso em extinção pinheiro paraná.
Completei sessenta anos de idade, lembro sempre o Murilo Mendes, poeta, "Vim para conhecer as influencias do tempo...." Quero olhar com mais calma ao meu redor. Tenho observado as aves. Os canarinhos da terra, beija-flores, ticos-ticos, baitacas, bem-te-vis, corruíras, pintassilgos, saíras, sanhaços, sabiás do peito branco e vermelho, mais o sabiá preto, este fantástico cantador que quase não repete o canto, e outros mais, mais e mais. Resolvi começar a prestar a atenção nas aves que vivem aqui no terreno do qual eu sou dono mas que me sinto apenas um guardião da natureza. O que elas fazem o dia inteiro? Onde dormem? O que comem? Que delícia poder compartilhar destas coisas simples. O Tico-Tico, por exemplo. Como ele é bobinho, como ele é simples! Um casal estava se relacionando no início da primavera. Depois, fizeram um ninho num monte de capim que estava dentro da horta. Era um monte de uns 70 cm de altura e o ninho estava lá simples, mimetizado pela cor das plantas secas. 3 ovos apareceram e , em seguida, três filhotes, começaram a crescer rapidamente. Fiquei com medo, inicialmente, de que algum chopim tivesse aproveitado o local para chopinzar o espaço alheio. Não gosto de ficar me aproximando demais dos ninhos, para que as aves não fiquem desconfiadas e nem deixar o meu cheiro no ninho, para não espantar os donos do pedaço. O Tico-Tico escolhe cada lugar à toa para fazer ninho( No ano passado fizeram um ninho no centro de um xaxim, que ao crescer, pois as folhas se desenrolam, o ninho, com ovos, foi jogado pro espaço)!
Logo depois o casal, estava na tarefa de buscar comida o dia inteiro para os tres filhotes. O casal estava dividido, o tempo inteiro chamando para marcar presença e deixar os filhotes tranquilos. Qualquer ameaça de perigo, todos se escondiam e silenciavam. O filhote da foto é aquele que apresenta algumas manchas escuras no peito, vejam como é desengonçado. O pai (ou mãe) já mais tranquilo, senhor de si, mais elegante.
Numa dessas manhãs em que me levanto muito cedo, no escuro, preparo um chimarrão e espero o dia amanhecer, vi, logo cedo, um tico-tico tomando banho nas folhas da parreira molhadas com o orvalho noturno. Cena lindíssima, bucólica, enternecedora.
O Tico-Tico é muito simples, é muito bobinho, está o dia inteiro ao redor da casa. Dorme com os filhotes no limoeiro e está o dia inteiro ao redor da casa, catando insetos, alguma comidinha que esteja dando sopa.Entra inúmeras vezes dentro da cozinha, procura farelo de pão, qualquer sobre e se manda para levar pros filhotes. O Tico-Tico é muito simples é muito bobinho, é a ave que eu mais gosto.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CERÂMICA ARQUEOLÓGICA








Estou, cada vez mais, interessado em arqueologia cerâmica. Não sei o que me pegou, mas comecei a fazer um curso de Cerâmica Arqueológica Argentina, com o Maestro J.F.Chiti, que me obrigou a estudar e fiquei vazio ao me perguntar sobre a arqueologia cerâmica Brasileira.
Assim, fui estudar e hoje os formatos que ando fazendo, torneados, são, principalmente, formatos arqueológicos.
Nas fotos que apresento, primeiro começo mostrando uma urna tupi-guarani, pertencente ao museu da Universidade Federal do Paraná. Na segunda foto, um detalhe da decoração chamada ungulada, pois foram feitas pressionando as unhas sobre um pedaço de argila grudado na urna. Tenho tentado entender como a modelagem dessas peças eram feitas. Acredito que começavam pela boca e depois iam subinho, com rolinhos até fecharem o final da peça. Depois, quando estavam mais secas, podia-se virar, colocar apoiada no chão, sobre um côncavo e proceder ao acabamento interno. Mas a informação que recebi é de que foram modeladas de baixo para cima, o que parece meio difícil. Para compreender isso deve-se imaginar que foram feitas por partes, começando, depois esperando secar um pouco para poder continuar. Na foto 3, são desenhos de formatos caingangues, indios que habitaram o Paraná, principalmente. Este desenho foi fornecido pelo Prof.Igor Smitz, da Universidade Fed. do PR. Estes formatos não tem base, possivelmente são para ficarem apoiadas sobre buracos escavados no chão. A outra foto é um torneado com engobe de óxido de ferro, com decoração de cabeça de serpente serpente, característico de cerâmica shamânica da américa do Sul. Este desenho foi copiado (apenas a cabeça da serpente) do livro La Simbólica, de J.F. Chiti.Os outros dois vasos já fazem parte desta influencia que estou sofrendo.
Estou sempre trabalhando com massas nas quais adiciono muito anti-plástico. Principalmente chamote de tijolo, areia grossa, arenito malha 20. Misturo, também, nestas massas algum antiplástico que encontro pelos locais onde ando, sempre com o olhar atento para materiais que posso incorporar nas massas.
Está longe do meu pensamento comprar massa pronta. Acho facílimo preparar uma massa para grês ou para queima em baixa temperatura. Claro que outros antiplásticos eu uso, o talco, feldspato, caulim, mas estes são materiais que compro nas mineradoras aqui na região metropolitana de Curitiba.

VALE DO SOL - Morretes - PR


Completei o curso de Cerâmica Básica na Comunidade Vale do Sol. Queimamos as peças que estavam secas, no forno que construímos na primeira parte do curso. Foi difícil o caso da lenha. Na verdade, tenho dificuldade em conscientizar sobre a qualidade da lenha necessário para fazer uma boa queima. Lenha que esteja verde, não tem jeito.O forno não sobe a temperatura. Ao invés disso, quase tira a temperatura do forno. Quando se controla com um pirômetro digital, por exemplo, a gente percebe claramente que não é a intensidade do fogo que controla o ascenso da temperatura. O forno funciona como um carburador de carro. No escapamento não pode sair fumaça. Uma boa queima é limpa, tranquila. Tá certo, demora-se muito tempo para compreender como funciona um forno, como deve ser controlado. Acredito que são necessárias mais de 10 queimas para que a pessoa comece a entender como funciona uma queima de cerâmica à lenha. Ã gás não é diferente. Não é só aumentar a quantidade de gás num forno para que ele aumente a temperatura. Precisa-se aprender a calibrar. Isso só com o tempo e simplifica quando alguém que conhece a parada direciona e acalma o foguista.
A melhor lenha que se dispõe, que eu conheço, é o eucalipto. Lenhas de baixa densidade, como a bracatinha e a vassoura (aqui em Curitiba), a vieira, no litoral, permitem uma queima perfeita. Enfim precisa-se conhecer as lenhas que existem na região, para escolher. Todavia as de maior densidade como as goiabeiras, só servem no início da queima. No final, quando se precisa grande intensidade de fogo, somente lenhas leves e muito bem estacionadas, secas. Cabe também salientar que elas devem ser finas, mais ou menos uns 5 cm de diâmetro e o comprimento do tamanho do forno, para poder colocar a lenha suavente e alcançar o fundo da fornalha do forno.
Nesta queima, como a lenha era verde, o final foi preocupante, fomos salvos por umas 4 toras de eucalipto, velhas, que estavam disponíveis, as quais tivemos que rachar com machados em achas finas.
As peças estavam secas e o resultado foi muito bom. O forno funcionou perfeitamente e apenas uma peça estourou. É um sucesso quando apenas uma peça estoura dentro do forno, porque é um curso onde todos estão aprendendo e é comum a modelagem com algum defeito, principalmente bolha de ar dentro da peça. Todavia, com um ciclo de queima de 9 horas, que é o que fazemos, o resultado quase sempre é positivo.
Todavia, a turma era muito esperta, animada e as peças ficaram boas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

VENDAS - QUEM QUER COMPRAR?

Uma das grandes dificuldades, talvez a maior delas, seja a sobrevivência do ceramista, vendendo seu próprio trabalho. Fazer cerâmica é uma delícia, vender o tormendo da maioria. Venda é um assunto próprio. Tem pessoas com talento especial para isso. São poucos os ceramistas vendedores. É essencial um esquema de vendas para sobrevivência. Estudar cerâmica, produzir e depois vender. Não estou contando com as etapas de montagem do ateliê. Fornos, espaço físico, marombas, plaqueiras, matérias primas, etc. No meu caso, como funciona: sim, tenho dificuldades em colocar o produto que eu faço nas prateleiras de terceiros para vender. No meu ateliê é onde mais vendo meu trabalho. Moro fora da cidade, na área rural. Quando alguém me visita, vem exclusivamente ao meu ateliê, porque fora isso, nada mais tem nas cercanias. Estou com ateliê na Serra do Mar, cercado de verde, etc, mas, comercialmente, não tem nada. Tenho um esquema montado, fruto de décadas de estudo e trabalho e pesquisa em cerâmica. Dou aulas, vivências, ensino a fazer fornos, produzir massas, vidrados, de alta, baixa e média temperatura. Quando me visitam, vendo meu trabalho e minhas peças. Neste mês andei participando de Bazares, esquemas de vendas de final de ano. Não tenho peças em lojas, porque não tenho tempo de sair e oferecer.
Vendas consignadas é muito chato, embora seja uma saída. O produto fica numa prateleira e temos que continuar controlando para ver se vendeu, etc. Somando um monte de peças em consignação, fica um estoque virtual. Prefiro não vender em consignação. Acho melhor melhor vender mais barato, aceitar cheque pré-datado, parcelar, etc.
Lojas de decoração são uma jogada. Várias pessoas me falaram sobre isso. Fui em lojas destes produtos e vi que é um caminho. Há, também, a necessidade de encontrar um produto do gosto popular. Junto com isso, a qualidade das peças é essencial. Estou martelando firme para conseguir um bom resultado. É muito agradável vender as peças e poder continuar com uma linha de trabalho. Acho que em Cunha -SP encontrou-se uma fórmula interessante. O mercado consumidor paulista é gigante, chamar a clientela para ver a abertura de fornos e aquela quantidade de ateliês cerâmicos realmente foi um boa idéia. Tem espaço para todos. Aqueles que apresentam melhor qualidade e bom marketing conseguem seus objetivos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A PARÁBOLA DO RIO SAGRADO



Não resisti à tentação. Como fui dar aula na Comunidade Vale do Sol, às margens do Rio Sagrado, aproveito para contar o que escrevi, em cima de um fato real, lá acontecido há muitos anos que tornei conhecido pelo nome de Parábola do Rio Sagrado e que agora espalho para vocês. O tom bíblico faz parte. Qualquer semelhança com pessoas reais que estão por aí não é mera coincidência. Foi assim:

"Eis que estavam às margens do Rio Sagrado um jovem Manauara e seus amigos, numa tarde de verão, prontos para entrarem na água, quando acercou-se deles


um ribeirinho que os alertou da seguinte forma:
-Meus amigos, está chovendo na Serra e, daqui a pouco, chegará uma Cabeça de Água muito forte e é mister que vocês não estejam dentro dágua!
Mas o jovem Manauara, os sobrolhos encrespando, responde ao gentil ribeirinho com torvo acento (emprestado de Ijucapirama, do Gonçalves Dias):
- Vocês, ribeirinhos de riozinhos, regatinhos e fios d'água, sois imbeles e fracos, nós outros, corajosos manauras, que nos criamos às margens do Amazonas, o Maior Rio do Mundo, nem Pororoca tememos!
- Já ouvi falar do Amazonas, o Maior Rio do Mundo, respondeu humildemente o ribeirinho, e sei que suas águas aumentam devagar e são massa de medo de tão grande. O Rio Sagrado é pequeno e justamente por isso e por estar aos pés da Serra do Mar, quando chove nas cabeceiras vem uma cabeça de água que arrasta tudo o que tem pela frente e não foram poucos os que se arrependeram de não terem saído da água.
- Pode ir que o negócio aqui conosco está garantido, encerrou o assunto o orgulhoso amazonense.
O ribeirinho retirou-se, cabisbaixo, vendo que nada mais poderia fazer. Ato seguinte, o manaura entrou na água, mas, seus amigos, desconfiados, ficaram à margem, com medo. Instantes depois as águas começaram, rapidamente, a crescer, o manaura pulou sobre uma pedra no meio do rio. Em seguida as águas já lhe iam pelos joelhos e o pavor tomou conta. Esquecera seu olhar altivo e gritava por socorro a plenos pulmões. Como o rio continuava a subir rapidamente, num pulo olímpico agarrou-se num galho que se curvou dentro dágua com o peso e foi descendo junto com o personagem que ora estava mergulhando, ora estava acima dágua, agarrado ao galho.
Lá do alto, o Senhor das Esferas contemplava tristemente sua criatura, meneando suas longas madeixas. Porém, num ato de compaixão, permitiu que o ribeirinho escutasse os gritos desesperados do afogando.
Em segundos o ribeirinho já estava jogando uma forte corda que imediatamente foi agarrada com unhas e dentes.Qual peixe sendo puxado das profundezas assim chegou ao barranco o manauara, tendo engolido alguns galões de água e arrobas de areia trazidas pela sua boca que viera aberta, traçando forte sulco no fundo do rio. Os amigos do manaura eram um bloco só, agarrados, mudos, apavorados, inclinados para lá e para cá, absorvendo a cena com esbugalhados olhos.
O ribeirinho estava tranquilo, fizera a sua parte. Largou o manaura deitado, devolvendo a água bebida e desmaiado ficou por um tempo que não se pode medir pela eternidade dos quinze minutos.
Ainda zonzo e vomitando o que restava, sem forças para levantar, sentou-se no chão com as pernas abertas, exclamando junto com um sonoro arroto:
- A água do Amazonas é bem mais doce!!
Moral da história: Pruma pretensão exacerbada, não há lição que adiante!

domingo, 14 de novembro de 2010

CERÂMICA BÁSICA - VALE DO SOL-Morretes-PR





Dei uma semana de curso de cerâmica básica na Comunidade Terapêutica Vale do Sol, no município de Morretes, aqui no litoral do Paraná. Como sempre, saí à busca de argilas plásticas para compor uma massa trabalhável. Não é difícil! Estamos no pé da Serra do Mar, que é um maciço de granito e granito, que é feito de quartzo, feldspato e mica, vai se decompondo ao longo dos milhões de anos e vai formando (o feldspato, principalmente) argila, caulim, misturando com sília e mica, finamente moída (ou decomposta). Claro, são novos compostos formados, os argilo-minerais, partículas finíssimas que permitem a existência da plasticidade. O caulim já tem partículas maiores e por isso não é plástico, porém, com alto teor de alumina, é o material refratário por excelência. Como os argilominerais são constituídas por lâminas, a plasticidade existe devido ao escorregamento das lâminas, à semelhança de duas placas de vidros com água entre eles: os vidros escorregam entre sí. A plasticidade existe graças a isso. Mas, por definição, plasticidade é a propriedade da argila de receber uma deformação e não voltar ao seu estado original. Ou seja, a deformação permanece após a aplicação da força.
Este aprendizado de composição de massa para modelagem é muito interessante. É um aprendizado real, concreto. Depois de uns 3 dias o aluno entende como funciona a plasticidade, adição de materiais anti-plásticos e quantidade de água (mais ou menos 40%). Aos poucos vou melhorando as técnicas, como colar placas, rolinhos, modelado livre.
Sempre gosto de preparar massas com bastante anti-plástico, principalmente chamote de tijolo passado em malha 25, num percentual de 20%. Também é bom um pouco, 10%, de areia da mesma malha. Sabe-se que a areia muito fina não é muito bom misturar, pois favorece à gretagem das peças, ao contrário da areia média, também aí pela malha 25. O negócio é que, tendo encontrado uma argila plástica, o restante é mais fácil. No areal de Matinhos onde consegui a argila plástica, notei a forma especial com que o encarregado do local olhou para a argila que considerou plástica. Pegou um pouco de argila e colocou entre o indicador e o polegar. Apertou estes dedos e prestou atenção em como a argila tendia a grudar os dedos e emitindo um som quando abria os dedos. Este grudado entre os dedos é que significava para ele a plasticidade do material. Sempre é possível aprender algo das pessoas com quem a gente se encontra e tem conhecimento visto por outro viés. Outra coisa interessando foi a observação de um aluno sobre o modo de abrir uma pelota de massa para fazer panela. Explico como posicionar o dedo indicador, encurvando-o e apoiando no polegar, para que fique firme. Ele disse: "ah, como segurar a linha prá pescar bagre!"Matou a charada!
No mais, vejam pelas fotos a gana no trabalho de construção do forno. Começamos a construir lá pelas 9 da manhã e terminamos às 5 da tarde. Num dia de trabalho está lá, pronto, um forno cerâmico, com ele já é possível transformar o barro, a massa, em pedra.
O Rio da foto passa dentro do terreno da Comunidade, rio de pedras, limpo, barulhento, típico dos pés da Serra do Mar (Rio Sagrado).

VIDRADOS TRADICIONAIS - CELADÓN





Sempre gostei da cor Agua Marinha, desde verde cor de água, por extensão, os demais verdes, da natureza, essa infinita variedade de tons realçados principalmente na primavera. Os verdes Celadón , da cerâmica, atraem-me sobremaneira.
Tenho tentado sempre compor vidrados Celadón que exige algo mais do que comprar um vidrado pronto e queimar. Ultimamente tenho conseguido alguns verdes que me deixaram satisfeito. O verde azeitona, mais, ainda ,


um verde mais claro. Tons diferentes de verde celadón. Ainda estou pesquisando, mas o caminho está feito.
Estou trabalhando com algumas formulações encontradas na literatura e, também, pesquisando alguma variação em função do comportamento das matérias-primas. Por exemplo, achei fantástico transformar uma argila de coloração vermelha, que contem de 5 a 8% de óxido de ferro (pode ter mais ou menos, mas não muito longe disso) num vidrado de cor verde. Ou seja, fazer um celadon a partir de uma argila natural, encontrada num barranco que nos chamou a a tenção pela sua coloração. O Celadón exige uma redução na queima e tem de ser de alta temperatura.
Testei alguns Celadóns, o resultado está melhorando. Vejam, por exemplo, a peça com o celadón onde aparece uma figura feminina encostada. É um verde Oliva, um dos verdes Celadón conhecidos na literatura. Este verde foi obtido com argila de barranco, vermelha, na proporção de 5% na formulação. Esta argila, para ser usada, precisa moída muito bem em almofariz, durante uns 15 minutos e depois passar em peneira malha 100. Bem, esta formulação foi a seguinte:
46% - feldespato de sódio,
18% carbonato de cálcio,
18 % dolomita,
10% caulim,
10% quartzo e
5% de argila vermelha.
Esta formulação foi muito moída em almofariz, passado em malha 100, e preparado com CMC e água.
A queima de Celadón tem que ser feita em redução, para que a coloração verde apareça. A temperatura de queima foi 1263 oC, num ciclo de 5 horas. Cada peça das acima vendo por R$ 350,00.
Nas bordas das peças das duas figuras passei um engobe de argila vermelha, juntamente com 30% de base alcalina, mais um pouco, à olho, de pó de basalto. O resultado fica meio vitrificado, devido à alta temperatura. Para ficar fosco, poder-se-ia baixar o percentual debase alcalina para 10, ou até menos. Quando se baixa demais o percentual de base alcalina, que é o fundente, precisa-se aumentar o teor de feldspato de sódio, ou passar o engobe quando a peça ainda estiver úmida, às vezes no mesmo dia em que foiu modelada, ou no outro9 dia. Em todos os casos, para o engobe grudar precisa ser passado quando a peça estiver úmida, ou, então, um opouco de base alcalina.
As figuras estão na cor natural dos grês que eu preparo aqui no meu ateliê, usando, também, um pouco de argila vermelha plástica..
Sempre tenho necessidade de modelar figurativos, aproveitando os anos que fui gastando para aprender a modelar. Também, sempre relembrando o curso que fiz com o Israel Kislansky, de São Paulo,com modelo vivo, que apesar de curto, foi cheio de informações de técnicas de modelagem da figura humana.Em Curitiba não se conseguiu quorum para que o Israel continuasse vindo aqui, nos finais de semana, dar aula, lamentavelmente.

sábado, 30 de outubro de 2010

TIBAGI/AMPLIANDO O CONHECIMENTO






Para terminar esta semana nova de curso em Tibagi, começamos a trabalhar com queima de vidrado.É um início. O forno mais barato possível para chegar a 1000 graus centígrados é o de latão, com fibra, usado para queima de raku.Como uma associação chamada Guacecília (nome tirado do ninho de cerâmica feito por vespas) está se consolidando, o dinheiro para comprar qualquer material ou equipamento é raso, quase nulo e fica difícil o rateio. Mas encontrei um forno praticamente novo aqui em Curitiba, por preço de pechincha, e levei de carro. Vieram de quebra duas placas/prateleiras e os suportes improvisamos com tijolo comum mesmo, cortados no tamanho desejado. Levei dois tubos de maçarico que comprei, somente os corpos, com o formato correto do tubo de Venturi. Montamos com bico de gás, cabos e registros e por menos de 100 reais o resultado estava pronto. Funcionou muito bem, para atingir 1000 graus em 50 minutos. Comprei alguns cones pirométricos e levei meu controlador digital para acompanhar a queima. Resultado: excelente. Todavia, não é bem assim.....Ensinar uma nova técnica, levar equipamentos e tentar treinar em três tardes, é muito arriscado. É uma atitude temerária que eu jogo confiando na equipe e porque não encontro outra alternativa. Este curso que eu ministro é patrocinado pelo SenarPR, todavia, é de Cerâmica Básica, não contempla aperfeiçoamente maior do que o simples início, com produção de massas, técnicas básicas, construção de forno para queima de biscoito. É um curso rápido e, para quem quem quer aprender e evoluir na cerâmica, é preciso mais.
Comecei com vidrados alcalinos, não tóxicos, até que a queima seja bem assimilada. O resultado? Achei bom! Quero continuar e, neste sentido , estamos elaborando um projeto e tentaremos encontrar apoio junto à iniciativa privada, para reforçar a compra de equipamentos e infraestrutura. Está sendo dada a continuidade....

domingo, 24 de outubro de 2010

ARQUEOLOGIA CERÂMICA/LÍTICA






Já escrevi anteriormente que a Legislação Brasileira é meio capenga na questão arqueológica. Isto porque se você encontrar no terreno da sua casa, qualquer objeto de origem arqueológica, ele pertence ao Estado. O que acontece é que grande parte dos achados são simplesmente ignorados,. Ou seja, se você não notar a existência de um sítio arqueológico, é só passar com o trator em cima, daí estará tudo bem. Isto simplifica a coisa. É claro que a Legislação tem como objetivo proteger o Patrimônio Nacional e da Humanidade, mas, talvez devesse ser de outra forma. É também vedado a um particular possuir acervo arqueológico. Daí, também, alguém, já disse: olha, eu não tenho uma pedra de machadinha assim assada, não tenho uma ponta de flexa de tandos centímetros, e daí prá frente, descrevendo todo o acervo como não tendo, não se comprometendo por possuir em seu poder patrimônio do Estado, apenas negando o que tem.
Estive novamente em Tibagi, no Estado do Paraná, onde tem muitos sítios arqueológicos. Claro que não dá para comparar com Santarém, com aquela maravilha de cerâmica arqueológica, e neste sentido eu acabo de comprar um livro editado em 2002, mas somente agora que me chegou às mãos, comprado através da Estante Virtual, chamado : Cerâmica Arqueológica da Amazônia, Vasilhas da Coleção Tapajônica MAE-USP, de Denise Maria Cavalcante Gomes. Comprei outros livros de arqueologia cerâmica Brasileira, mas é difícil encontrar, mas encontrado, são razoavelmente baratos. Com este mencionado acima estou mergulhado, maravilhado com a cerâmica Santarém, em sua denominação mais genérica. Como estou interessado na composição da massa que eles usaram, percebo que a os mesmos antiplásticos são adicionados às massas, em toda parte, com pequena variação. Principalmente silica (areia), cinzas (de fogueira ou de cascas de árvores escolhidas principalmente pelo alto teor de sílica), cacos moídos de cerâmicas queimadas, inclusive pó de ossos de alguém que queriam reverenciar e, assim, incorporando estas cinzas de ossos na própria massa cerâmica. Os ossos, depois de calcinados, podem ser moídos facilmente, em almofarizes, usando mão de pilão. Estes objetos, de pedra, mão de pilão, amofariz, são encontrados em profusão, em todo sítio arqueológico. Eu próprio não tenho uma mão de pilão que não foi achada aqui perto da minha casa, em Quatro Barras, Região Metropolitana de Curitiba. Gostaria de não encontrar um mortero (como chamam os espanhóis para o almofariz), pois seria muito bacana poder usar no preparo de engobes, moagem de argilas, vidrados, no meu ateliê cerâmico. Tenho um almofariz e pilão em porcelana, para moagem de pigmentos e receitas de vidrados e engobes, mas usar um artefato indígena é muito legal.
A peça cerâmica com boca em cone, é uma cuscuzeira. Ganhei em Tibagi. A pessoa que me deu por sua vez ganhou de alguém que estava jogando fora. Ela tem sinais de que foi muito usada. A decoração na borda superior foi feito por mãos pequenas, bem como a da parte inicial do cone, de baixo prá cima. A outra panela tem um engobe brunido na parte superior, panela feita por mãos habilidosas. com espessura muito regular e o "pegador" pequeno. Também veio de Tibagi.
As pontas de flexas, as mãos de pilão e as machadinhas foram fotografadas por aí....

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

TRABALHANDO EM TIBAGI






Sempre vi em Tibagi uma cidade própria para desenvolvimento de artesanato e qualidade, com expressão local, personalizado. Notei logo porque existe um fluxo de turistas muito grande nesta cidade, inclusive internacionais, devido ao Canion do Guartelá. Além disso, Tibagi tem outras belezas, como a cachoeira da foto (tem muitas outras), mais um passado histórico, tanto colonial com a exploração de diamantes, como pré-colombiano já que foi habitat de nossos indígenas, donos da terra. Neste sentido tem as inscrições rupestres no canion do Guartelá e mais, no museu da cidade, cerâmica, pedras de machadinhas, outros utilitários (mão de pilão, quebra-cocos, etc), pontas de flexas de antiguidade milenar. Encontram-se muitos, quase facilmente, estes artefatos indígenas. Vejam só, a gente está encontrando o lixo de nossos antepassados que aqui habitaram durante milênios. Este lixo está perfeitamente encaixado com a natureza, pois uma flexa, que é ponta de pedra, se não for olhada com olhos treinados, nem se nota que está no chão, portanto, não é poluição. As pedras, também, estão espalhadas e precisam ser vistas por olho de lince. Já vi pessoas que possuíam pedras de machadinhas, tinham em suas casas como peso, segura-porta, escolhido pela beleza da pedra, mas não davam o valor arqueológico. Onde quero chegar com isso? É que com milênios de civilização, nossos indígenas praticamente não deixaram rastros, e nós, depositários da civilização descendente da Suméria/Egito/Grécia/Latina/Renascença/Revolução Industrial/Relatividade/Huble(telescópio/Viagens Lunares/Exploração do Sistema Solar, os últimos ítens em apenas 100 anos), estamos entupindo o PLANETA de lixo plástico,humano, radioativo, etc, etc. É lamentável este olhar sobre os indígenas e a nossa vida atual, descabida, desenfreada, totalmente desubicada da realidade Cósmica. Os ïndios não deixaram pegadas, nós somos uma vergonha.....
Assim, resolvi sofrer a influência indígena e fiz esse prato com a cabeça de Serpente, que aparece muito na cerâmica arqueológica. Também a panela é de influencia indígena, argentina, da Cultura Aguada. Faço isso com muito respeito e admiração pelos antigos donos da nossa América (ainda não devidamente indenizados). Vejam a foto das pedras arqueológicas, todas encontradas em Tibagi. Calmamente, mas com profundidade, estou entrando no mundo arqueológico cerâmico .

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

TIBAGI/OUTUBRO




Voltei a Tibagi para mais um curso.
A primeira vez depois de uma turma ter participado do Congresso Nacional de Cerâmica e do Salão Brasileiro de Cerâmica, de Curitiba. Trouxe um forno para Raku que consegui por preço mais baixo. Isso melhora, em muito, a qualidade do produto final,afinal de contas começa-se a produzir cerâmica vitrificada. Esta turma que está querendo aperfeiçoar-se em cerâmica já está sendo notada na cidade e ganharam um espaço próprio para trabalho. O espaço é simples, com mesas improvisadas, prateleiras pelas paredes laterais, mas é um espaço próprio. Os cursos que dei anteriormente foram em espaços pertencentes a terceiros. Hoje fomos fazer uma queima de biscoito cerâmico numa chácara, de uma aluna que construiu um forno do modelo que eu projetei. Fizemos uma queima muito boa, em 8 horas. Realmente é muito interessante ver que o curso apresenta resultado positivo. Tomar iniciativa de construir uma forno no seu terreno, fora da cidade, ainda levar outros amigos para produzirem peças e a participarem da queima é um fato concreto.
Claro, os produtos finais tem que ser melhorados, o acabamento, a concepção das peças, tudo tem que ser melhorado já e sempre, não tem fim. Mas, principalmente, nesta fase, é fundamental apresentar algo que tenha condições de ser vendido no mercado consumidor. O objetivo final é o de vender, transformar o trabalho em dinheiro, tornar o artesão/artista indepente, donos da sua vida, sem depender de emprego. Isso é o que quero conseguir. E, claro, a um baixíssimo custo.
Tibagi ainda continua, penso eu cá com meus botões, sem valorizar a grande cidade que é. Por que digo isso? Porque eu valorizo demais um Rio do Porte do Rio Tibagi, mas parece que não dão muita bola praele. Enquanto isso, as garças continuam vindo dormir na mesma árvore que vi meses atrás, na beira do rio. Tirei a foto com baixíssima velocidade e deu tempo para eu aparecer também, jogo solitário de entardecer (já estava escuro)....As garças estão mais barulhentas é a Primavera, um novo ciclo de reprodução recomeça.
A foto da paisagem são campos de trigo, prontos para colheita. Trigo, símbolo de fartura na mesa.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Modelado Livre




Recebi a visita de Gilda Bigaton que está iniciando-se na cerâmica, para uma aula de assuntos variados do metiê cerâmico. Mostrei meu ateliê, como confecciono massas de baixa, alta temperatura, para panelas, raku, etc. Me espaço é razoavelmente grande, trabalho sozinho e encontro prazer em dar aulas individuais. Escolhemos um tema livre para a parte prática e como encaixar nas aulas que ela tivera anteriormente. Preparamos na hora uma massa própria para modelar. Fizemos exercício de modelado de um rosto(máscara) e de um pé. Para modelar um pé eu sigo as orientações do Mestre Israel Kislansky= construção de um paralelepípedo retangular, depois colocar a joanete, o dedão, adicionando os outros dedos, sempre seguindo uma sequência, uma regra de construção e depois finalizando o pé. Para os rosto, desenvolvi um método, usando as proporções clássicas, dividindo o rosto em três partes, riscando o nariz e retirando os excessos, Misturei outras técnicas, para simplificar a figura e o resultado aparece nas fotos.
A figura humana sempre me atrai e tento melhorar sempre que posso, aí vai um estudo que estou fazendo para um painel figurativo.
No meio da minha correria pela sobrevivência financeira, encontro espaço para fazer um monte de outras coisas. Pequenas obsessões, grandes vontades, quero aproveitar a minha vida, como disse o Gullar no alto de seis oitenta e picos anos, quero é ser FELIZ.
Vejo muitos filmes. Espanto-me com a diversidade e quantidade de filmes a serem assistidos. Semana passado loquei o filme chamado Nome Próprio, com a Leandra Leal, do Murilo Mendes. Sempre me toca quando os filmes referem-se à juventude e especialmente com mulheres liberadas, independentes. A interpretação da Leandra Leal por vezes é um pouco tímida, mas, em momentos ela consegue realmente dar a devida força ao personagem. Interpretar a mulher independente, que a maioria dos homens tem medo, talvez não seja um desafio tão grande, porque penso que seja um desejo de todas as mulheres, ou quase todas, mas ser uma mulher independente, segura de si, sabendo o quer da vida e dos homens, isso é mais difícil. A maioria dos homens tem medo dessas mulheres, não conseguem ver a grandeza delas (eu vejo), principalmente nesta nossa sociedade que preserva certos valores decadentes de fidelidade, relacionamentos, etc, onde grassa a lei do alicate. Gostei bastante do filme, porque gosto destas mulheres, admiro-as, tenho atração por elas. Lembrei do filme do Bigas Luna, As Idades de Lulu. Penso que a Kiki de Montparnasse devia ter sido assim…

Finalização curso Cacatu-Antonina





Para completar o curso em Cacatu, realizei duas queimas seguidas. No curso de junho não me agradei muito da queima, todavia a lenha estava molhada e não era de boa chama, o forno recém construído e o tempo muito úmido.
Desta vez fui atrás de lenha da melhor qualidade. Sempre é difícil conscientizar as pessoas sobre a necessidade de uma lenha apropriada para cerâmica, que não funciona igual ao forno para pão. Encontrei boas toras de eucalipto que foram rachadas em finas lâminas longitudinais, com comprimento um pouco maior do que a profundidade do forno. A lenha precisa ser de chama, não de brasa.O resultado foi bom, porém achei que o forno demorava demais para lançar a temperatura para a câmara de cocção (local onde se colocam as peças). A queima ficou perfeita, mas achei o funcionamento devagar. O tempo de queima foi de 9 horas. Este forno eu mesmo concebi, há alguns anos atrás, baseado na experiência que eu tinha em estudar a literatura sobre fornos e a cerâmica artesanal existente nas proximidades de Curitiba. Como já construí mais de 30 destes fornos, pude acompanhar as queimas deles. Nem todos comportaram-se igualmente, aliás, cada forno é um caso particular, com alguma variação do modelo padrão. Dentro do forno, acima da fornalha, tem passagem de calor na parte dianteira, na traseira e na parte central. Senti que neste forno de Cacatu o calor não subia e notei que o espaço da parte dianteira não estava condizente. Depois da da queima sempre dou uma checada na fuligem que restou dentro do forno, se existir fuligem, e percebi que, realmente, o calor tivera alguma resistência na parte dianteira. Mudei o espaço, aumentei, pois é desmontável, deixei uma distância de aproximadamente 10 cm na parte dianteira e na traseira. No centro, dos dois lados, um buraco de 10 x 10 cm2. Desta vez funcionou como um relógio., Queima perfeita, padrão, deu gosto de ver o forninho funcionando. Deixo um buraco de um tijolo na parte posterior bem no nível do chão, como respiro. Então, como demonstração, o fechamento ou abertura deste respiro modificava a entrada da chama para dentro ou para fora do forno, na parte dianteira (entrada da fornalha).
Foi muito legal a comprovação de eficiência e transmissão de conhecimento.
Cacatu tem o privilégio de estar aos pés da Serra do Mar. Da chácara da Márcia Ito, onde foi realizado o curso, pode-se vislumbrar o maciço, com o Pico Paraná dominando . Ainda, de quebra, tem a Natureza exuberante ao redor deste espaço do Estado do Paraná mais preservado, de Mata Atlântica e pude observar até jacarés tomando banho de sol numa lagoa, na própria chácara. Pensei que estivessem extintos nessa região.... Ainda descobrimos pedras sabão que são silicatos de magnésio, material de primeira qualidade (reduzida a pó), a qual, junto com o chamote (tijolo moído e peneirado, médio= 0,5 mm) e a sílica (areia) mediana (o,5mm), são os componentes para resistir ao choque térmico de panelas que vão ao fogo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

FORNO DE ALTA-GÁS-construçãO



Tenho sido consultado por muitas pessoas para cursos no meu ateliê. O Rafael, da foto, veio de Florianópolis, interessado na construção de um forno à gás. O forno à gás que construí, todo calculado, usando os dados do Maestro Chiti, com tijolo isolante, cilíndrico, é um forno muito prático. Primeiro porque é feito com tijolos isolantes, em cunha, sem rejunte, e pode ser desmontado e montado em menos de meia hora. Isso facilita muito a vida dos ceramistas, principalmente daqueles que dispoem de pouco espaço para montar seu ateliê. Além da praticidade, seu funcionamento é simples, gasta pouquíssimo combustível, atinge rapidamente a temperatura desejada. Tenho uma apostilinha de montagem do forno e vou explicando a sequencia.
Outra grande vantagem do forno é que, por ser feito em módulos, pode ser aumentado ou diminuído, de acordo com a necessidade. Por exemplo, se o ceramista tem uma peça maior do que o forno, em altura, pode ser adicionada uma camada de tijolos, aumentando a altura. Claro que daí muda o volume do forno e a capacidade do maçarico, a entrada e saída de ar devem estar preparados para isso, mas é simples.
Foi um dia tranquilo, o Rafael, vegetariano, com o astral característico das pessoas que não comem carne, foi anotando e, sendo arquiteto, tirou de letra a montagem do forno, talvez até melhore um pouco.
Enquanto isso, as Baitacas (psitacídeos característicos aqui da região) começaram a procurar espaços entre as telhas do meu ateliê para fazerem ninho, o que é um grande astral. Muito bom, muito bom....

VIDRADO DE CINZAS/AULA INDIVIDUAL



Através do meu blog, fui contactado por uma mineira, Sonia Guimarães, que está morando em Dubai que quis aproveitar sua passagem pelo Brasil para ampliar seu conhecimento cerâmico. Marquei com ela um dia de aula no meu ateliê. O interesse dela era em vidrados de Cinzas. Bom, estava com o material do Congresso de Cerâmica, da oficina que tinha ministrado. Tenho o forno de alta, em formato cilíndrico, de fácil manuseio, que atinge até 1350 graus centígrados, com apenas um maçarico de 50 kcal, que, num ciclo de 4 horas gasta menos de um bujão de gás de 13 kgs. Foi tranquilo. O assunto foi se estendendo para cerâmica indígena, arqueológica, pré-colombiana. Daí cada interesse vai longe e tenho uma admiração pela cerâmica de Santarem, arqueológica, o que proporcionou um bom bate e volta.
A Sonia é mineira de São José do Goiabal, mora há muito tempo em Dubai, menina interessada, perguntadeira, que foi anotando e gravando tudo o que queria, daí formando um momento de trabalho e estudo muito proveitoso.
Há anos que venho estudando cerâmica e estou atravessando um momento de retorno pelo meu trabalho. Tenho um amplo campo de estudo e pesquisa pela frente. Meu interesse é pelos vidrados de cinzas e de rochas. Vidrados de basalto, marrons, acho belíssimos, usando granito, também, rochas que encontro por onde vou, escórias, argilas de diferentes colorações. Tudo isso me interessa e estou pesquisando.
Enquanto isso, as primavera vem se antecipando e os sabiás laranjeira começaram a cantar timidamente ao mesmo tempo em que florescem as laranjeiras, tudo a ver, tudo a ver...