quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

INSTITUTO DE CERAMOLOGIA CONDORHUASI





Nos últimos dois anos, 2009 e 2010 dediquei-me a estudar o curso de Cerâmica, à distância, do Instituto Condorhuasi de Ceramologia. O Instituto Condorhuasi é comandado pelo Maestro Jorge Fernandes Chiti, autor de mais de 40 livros e conhecido de quase todos os ceramistas. Seu Dicionário Cerâmico é o mais completo do ramo. Lá se encontra tudo, qualquer dúvida, qualquer termo cerâmico, sem falha, estará lá. São três volume, indispensáveis numa biblioteca cerâmica. El Maestro, Chiti como é conhecido aqui no Brasil, tem seu Instituto em Buenos Aires e anualmente dá cursos intensivos e, também, promove a Bienal de Cerâmica = condorhuasi@sinectis.com.ar =A Tecnicatura é um curso completo, dividido em 3 semestres. Todavia, eu demorei quatro semestres para completar. Durante estes dois anos, estive, permanentemente, com 15 livros do Maestro, sempre à vista, estudando, mandando as lições, com as fotos das aulas práticas. O Curso é em espanhol e foi interessante passar dois anos, mandando as lições com as fotos das práticas, consultando dicionário e livro de gramática.
EstaTecnicatura abarca praticamente todas as áreas da cerâmica Artesanal e Artística e, também, a arqueológica Argentina.
São mandadas as lições, via email, com as questões, que para respondê-las e estuda-las necessitam-se os livros correspondentes. Os preços dos livros são baixissimos, comparadas ao nosso padrão nacional. Custam de 35 a 40 reais cada um. Evidentemente, são os livros do Maestro.

MODULO 1 = ARCILLAS/PASTAS Y VASIJAS
MODULO 2 = ESMALTES/ESCULTURAS Y MURAL
MODULO 3 = HORNOS CERÁMICOS
ENGOBES
CERÁMICA ARQUEOLOGICA ARGENTINA

Estou anexando várias fotos das aulas práticas,que podem ser encaixadas nas lições acima. Por comodidade, as fotos pertencem ao módulo 2. Vejam que tem uma foto de um mostruário de cores. Tratam-se de vidrados alcalinos e plúmbicos com adição de óxido de cobre para que se veja a diferença de coloração nestes dois tipos de vidrados. Os vidrados alcalinos podem ser usados em utensílios culinários, enquanto que os plúmbicos não. Evidentemente que em todo curso é dado um enfoque sobre a toxidade dos vidrados e o livro Toxicologia Cerámica, do Maestro, disseca todos os compostos e elementos químicos tóxicos na cerâmica, com os quais o ceramista deve ter MUITO CUIDADO!
Neste módulo, 2, aprende-se a técnica Condorhuasi para preparo de soluções de vidrados e adição de óxidos corantes. No de escultura, além do estudo de escultura teórico, necessitam-se modelar algumas peças para poder completar as lições. No de Mural estudam-se as proporções áureas, sequência Fibonacci, e exercícios correspondentes. Aprende-se, a usar a pasta auto-fraguante que podem ser deixado ao tempo, sem queima, com algum percentual de cimento. A placa colorida são engobes naturais de argilas encontradas nas cercanias de minha casa, que é pródiga em argilas coloridas.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OS CICLOS NATURAIS (digitando)





Na nossa vida diária, as aves e as plantas, as pedras, água, enfim, quase tudo é um pano de fundo, uma paisagem por onde a gente se locomove. Agora, nesta semana de lua cheia, tive a oportunidade de, da minha casa mesmo, de uma varanda colocada estrategicamente virada para o norte, ver a lua nascer, atrás do Pico Paraná. O Pico Paraná, na Serra do Mar, na Região Metropolitana de Curitiba, é o ponto mais alto do sul do Brasil, 1964 m de altitude. Num momento de paz e tranquilidade apreciei a ascensão do astro e agradeci por estar em casa e desfrutar de um acontecimento corriqueiro, mas de especial valor prá mim. Sempre tenho observado os céus noturnos, espetáculos de aurora e ocaso, mas não me lembrava de ter presenciado a lua nascer tão ao norte. Sei, estamos no solstício de verão, preciso consultar algum astrônomo amador , para saber se é uma ocasião especial da lua nascer tão ao norte. A foto é o registro do momento, em primeiro plano os galhos da Araucária angustifolia, o nosso em extinção pinheiro paraná.
Completei sessenta anos de idade, lembro sempre o Murilo Mendes, poeta, "Vim para conhecer as influencias do tempo...." Quero olhar com mais calma ao meu redor. Tenho observado as aves. Os canarinhos da terra, beija-flores, ticos-ticos, baitacas, bem-te-vis, corruíras, pintassilgos, saíras, sanhaços, sabiás do peito branco e vermelho, mais o sabiá preto, este fantástico cantador que quase não repete o canto, e outros mais, mais e mais. Resolvi começar a prestar a atenção nas aves que vivem aqui no terreno do qual eu sou dono mas que me sinto apenas um guardião da natureza. O que elas fazem o dia inteiro? Onde dormem? O que comem? Que delícia poder compartilhar destas coisas simples. O Tico-Tico, por exemplo. Como ele é bobinho, como ele é simples! Um casal estava se relacionando no início da primavera. Depois, fizeram um ninho num monte de capim que estava dentro da horta. Era um monte de uns 70 cm de altura e o ninho estava lá simples, mimetizado pela cor das plantas secas. 3 ovos apareceram e , em seguida, três filhotes, começaram a crescer rapidamente. Fiquei com medo, inicialmente, de que algum chopim tivesse aproveitado o local para chopinzar o espaço alheio. Não gosto de ficar me aproximando demais dos ninhos, para que as aves não fiquem desconfiadas e nem deixar o meu cheiro no ninho, para não espantar os donos do pedaço. O Tico-Tico escolhe cada lugar à toa para fazer ninho( No ano passado fizeram um ninho no centro de um xaxim, que ao crescer, pois as folhas se desenrolam, o ninho, com ovos, foi jogado pro espaço)!
Logo depois o casal, estava na tarefa de buscar comida o dia inteiro para os tres filhotes. O casal estava dividido, o tempo inteiro chamando para marcar presença e deixar os filhotes tranquilos. Qualquer ameaça de perigo, todos se escondiam e silenciavam. O filhote da foto é aquele que apresenta algumas manchas escuras no peito, vejam como é desengonçado. O pai (ou mãe) já mais tranquilo, senhor de si, mais elegante.
Numa dessas manhãs em que me levanto muito cedo, no escuro, preparo um chimarrão e espero o dia amanhecer, vi, logo cedo, um tico-tico tomando banho nas folhas da parreira molhadas com o orvalho noturno. Cena lindíssima, bucólica, enternecedora.
O Tico-Tico é muito simples, é muito bobinho, está o dia inteiro ao redor da casa. Dorme com os filhotes no limoeiro e está o dia inteiro ao redor da casa, catando insetos, alguma comidinha que esteja dando sopa.Entra inúmeras vezes dentro da cozinha, procura farelo de pão, qualquer sobre e se manda para levar pros filhotes. O Tico-Tico é muito simples é muito bobinho, é a ave que eu mais gosto.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CERÂMICA ARQUEOLÓGICA








Estou, cada vez mais, interessado em arqueologia cerâmica. Não sei o que me pegou, mas comecei a fazer um curso de Cerâmica Arqueológica Argentina, com o Maestro J.F.Chiti, que me obrigou a estudar e fiquei vazio ao me perguntar sobre a arqueologia cerâmica Brasileira.
Assim, fui estudar e hoje os formatos que ando fazendo, torneados, são, principalmente, formatos arqueológicos.
Nas fotos que apresento, primeiro começo mostrando uma urna tupi-guarani, pertencente ao museu da Universidade Federal do Paraná. Na segunda foto, um detalhe da decoração chamada ungulada, pois foram feitas pressionando as unhas sobre um pedaço de argila grudado na urna. Tenho tentado entender como a modelagem dessas peças eram feitas. Acredito que começavam pela boca e depois iam subinho, com rolinhos até fecharem o final da peça. Depois, quando estavam mais secas, podia-se virar, colocar apoiada no chão, sobre um côncavo e proceder ao acabamento interno. Mas a informação que recebi é de que foram modeladas de baixo para cima, o que parece meio difícil. Para compreender isso deve-se imaginar que foram feitas por partes, começando, depois esperando secar um pouco para poder continuar. Na foto 3, são desenhos de formatos caingangues, indios que habitaram o Paraná, principalmente. Este desenho foi fornecido pelo Prof.Igor Smitz, da Universidade Fed. do PR. Estes formatos não tem base, possivelmente são para ficarem apoiadas sobre buracos escavados no chão. A outra foto é um torneado com engobe de óxido de ferro, com decoração de cabeça de serpente serpente, característico de cerâmica shamânica da américa do Sul. Este desenho foi copiado (apenas a cabeça da serpente) do livro La Simbólica, de J.F. Chiti.Os outros dois vasos já fazem parte desta influencia que estou sofrendo.
Estou sempre trabalhando com massas nas quais adiciono muito anti-plástico. Principalmente chamote de tijolo, areia grossa, arenito malha 20. Misturo, também, nestas massas algum antiplástico que encontro pelos locais onde ando, sempre com o olhar atento para materiais que posso incorporar nas massas.
Está longe do meu pensamento comprar massa pronta. Acho facílimo preparar uma massa para grês ou para queima em baixa temperatura. Claro que outros antiplásticos eu uso, o talco, feldspato, caulim, mas estes são materiais que compro nas mineradoras aqui na região metropolitana de Curitiba.

VALE DO SOL - Morretes - PR


Completei o curso de Cerâmica Básica na Comunidade Vale do Sol. Queimamos as peças que estavam secas, no forno que construímos na primeira parte do curso. Foi difícil o caso da lenha. Na verdade, tenho dificuldade em conscientizar sobre a qualidade da lenha necessário para fazer uma boa queima. Lenha que esteja verde, não tem jeito.O forno não sobe a temperatura. Ao invés disso, quase tira a temperatura do forno. Quando se controla com um pirômetro digital, por exemplo, a gente percebe claramente que não é a intensidade do fogo que controla o ascenso da temperatura. O forno funciona como um carburador de carro. No escapamento não pode sair fumaça. Uma boa queima é limpa, tranquila. Tá certo, demora-se muito tempo para compreender como funciona um forno, como deve ser controlado. Acredito que são necessárias mais de 10 queimas para que a pessoa comece a entender como funciona uma queima de cerâmica à lenha. Ã gás não é diferente. Não é só aumentar a quantidade de gás num forno para que ele aumente a temperatura. Precisa-se aprender a calibrar. Isso só com o tempo e simplifica quando alguém que conhece a parada direciona e acalma o foguista.
A melhor lenha que se dispõe, que eu conheço, é o eucalipto. Lenhas de baixa densidade, como a bracatinha e a vassoura (aqui em Curitiba), a vieira, no litoral, permitem uma queima perfeita. Enfim precisa-se conhecer as lenhas que existem na região, para escolher. Todavia as de maior densidade como as goiabeiras, só servem no início da queima. No final, quando se precisa grande intensidade de fogo, somente lenhas leves e muito bem estacionadas, secas. Cabe também salientar que elas devem ser finas, mais ou menos uns 5 cm de diâmetro e o comprimento do tamanho do forno, para poder colocar a lenha suavente e alcançar o fundo da fornalha do forno.
Nesta queima, como a lenha era verde, o final foi preocupante, fomos salvos por umas 4 toras de eucalipto, velhas, que estavam disponíveis, as quais tivemos que rachar com machados em achas finas.
As peças estavam secas e o resultado foi muito bom. O forno funcionou perfeitamente e apenas uma peça estourou. É um sucesso quando apenas uma peça estoura dentro do forno, porque é um curso onde todos estão aprendendo e é comum a modelagem com algum defeito, principalmente bolha de ar dentro da peça. Todavia, com um ciclo de queima de 9 horas, que é o que fazemos, o resultado quase sempre é positivo.
Todavia, a turma era muito esperta, animada e as peças ficaram boas.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

VENDAS - QUEM QUER COMPRAR?

Uma das grandes dificuldades, talvez a maior delas, seja a sobrevivência do ceramista, vendendo seu próprio trabalho. Fazer cerâmica é uma delícia, vender o tormendo da maioria. Venda é um assunto próprio. Tem pessoas com talento especial para isso. São poucos os ceramistas vendedores. É essencial um esquema de vendas para sobrevivência. Estudar cerâmica, produzir e depois vender. Não estou contando com as etapas de montagem do ateliê. Fornos, espaço físico, marombas, plaqueiras, matérias primas, etc. No meu caso, como funciona: sim, tenho dificuldades em colocar o produto que eu faço nas prateleiras de terceiros para vender. No meu ateliê é onde mais vendo meu trabalho. Moro fora da cidade, na área rural. Quando alguém me visita, vem exclusivamente ao meu ateliê, porque fora isso, nada mais tem nas cercanias. Estou com ateliê na Serra do Mar, cercado de verde, etc, mas, comercialmente, não tem nada. Tenho um esquema montado, fruto de décadas de estudo e trabalho e pesquisa em cerâmica. Dou aulas, vivências, ensino a fazer fornos, produzir massas, vidrados, de alta, baixa e média temperatura. Quando me visitam, vendo meu trabalho e minhas peças. Neste mês andei participando de Bazares, esquemas de vendas de final de ano. Não tenho peças em lojas, porque não tenho tempo de sair e oferecer.
Vendas consignadas é muito chato, embora seja uma saída. O produto fica numa prateleira e temos que continuar controlando para ver se vendeu, etc. Somando um monte de peças em consignação, fica um estoque virtual. Prefiro não vender em consignação. Acho melhor melhor vender mais barato, aceitar cheque pré-datado, parcelar, etc.
Lojas de decoração são uma jogada. Várias pessoas me falaram sobre isso. Fui em lojas destes produtos e vi que é um caminho. Há, também, a necessidade de encontrar um produto do gosto popular. Junto com isso, a qualidade das peças é essencial. Estou martelando firme para conseguir um bom resultado. É muito agradável vender as peças e poder continuar com uma linha de trabalho. Acho que em Cunha -SP encontrou-se uma fórmula interessante. O mercado consumidor paulista é gigante, chamar a clientela para ver a abertura de fornos e aquela quantidade de ateliês cerâmicos realmente foi um boa idéia. Tem espaço para todos. Aqueles que apresentam melhor qualidade e bom marketing conseguem seus objetivos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A PARÁBOLA DO RIO SAGRADO



Não resisti à tentação. Como fui dar aula na Comunidade Vale do Sol, às margens do Rio Sagrado, aproveito para contar o que escrevi, em cima de um fato real, lá acontecido há muitos anos que tornei conhecido pelo nome de Parábola do Rio Sagrado e que agora espalho para vocês. O tom bíblico faz parte. Qualquer semelhança com pessoas reais que estão por aí não é mera coincidência. Foi assim:

"Eis que estavam às margens do Rio Sagrado um jovem Manauara e seus amigos, numa tarde de verão, prontos para entrarem na água, quando acercou-se deles


um ribeirinho que os alertou da seguinte forma:
-Meus amigos, está chovendo na Serra e, daqui a pouco, chegará uma Cabeça de Água muito forte e é mister que vocês não estejam dentro dágua!
Mas o jovem Manauara, os sobrolhos encrespando, responde ao gentil ribeirinho com torvo acento (emprestado de Ijucapirama, do Gonçalves Dias):
- Vocês, ribeirinhos de riozinhos, regatinhos e fios d'água, sois imbeles e fracos, nós outros, corajosos manauras, que nos criamos às margens do Amazonas, o Maior Rio do Mundo, nem Pororoca tememos!
- Já ouvi falar do Amazonas, o Maior Rio do Mundo, respondeu humildemente o ribeirinho, e sei que suas águas aumentam devagar e são massa de medo de tão grande. O Rio Sagrado é pequeno e justamente por isso e por estar aos pés da Serra do Mar, quando chove nas cabeceiras vem uma cabeça de água que arrasta tudo o que tem pela frente e não foram poucos os que se arrependeram de não terem saído da água.
- Pode ir que o negócio aqui conosco está garantido, encerrou o assunto o orgulhoso amazonense.
O ribeirinho retirou-se, cabisbaixo, vendo que nada mais poderia fazer. Ato seguinte, o manaura entrou na água, mas, seus amigos, desconfiados, ficaram à margem, com medo. Instantes depois as águas começaram, rapidamente, a crescer, o manaura pulou sobre uma pedra no meio do rio. Em seguida as águas já lhe iam pelos joelhos e o pavor tomou conta. Esquecera seu olhar altivo e gritava por socorro a plenos pulmões. Como o rio continuava a subir rapidamente, num pulo olímpico agarrou-se num galho que se curvou dentro dágua com o peso e foi descendo junto com o personagem que ora estava mergulhando, ora estava acima dágua, agarrado ao galho.
Lá do alto, o Senhor das Esferas contemplava tristemente sua criatura, meneando suas longas madeixas. Porém, num ato de compaixão, permitiu que o ribeirinho escutasse os gritos desesperados do afogando.
Em segundos o ribeirinho já estava jogando uma forte corda que imediatamente foi agarrada com unhas e dentes.Qual peixe sendo puxado das profundezas assim chegou ao barranco o manauara, tendo engolido alguns galões de água e arrobas de areia trazidas pela sua boca que viera aberta, traçando forte sulco no fundo do rio. Os amigos do manaura eram um bloco só, agarrados, mudos, apavorados, inclinados para lá e para cá, absorvendo a cena com esbugalhados olhos.
O ribeirinho estava tranquilo, fizera a sua parte. Largou o manaura deitado, devolvendo a água bebida e desmaiado ficou por um tempo que não se pode medir pela eternidade dos quinze minutos.
Ainda zonzo e vomitando o que restava, sem forças para levantar, sentou-se no chão com as pernas abertas, exclamando junto com um sonoro arroto:
- A água do Amazonas é bem mais doce!!
Moral da história: Pruma pretensão exacerbada, não há lição que adiante!