terça-feira, 25 de maio de 2010

TIBAGI - Natureza




Sempre que dou um curso numa cidade longe de minha casa, que preciso dormir no local, tem momentos em que estou sozinho. Normalmente, dou uma caminhada pela cidade, vou vendo, conhecendo. Sempre aprendo a ver algo diferente, descubro, caso ninguém conte. Mas, alguma coisa aparece. Aqui em Tibagi foi um espetáculo de garças na beira do rio que me deixou boquiaberto. Fui dar uma caminhada ao final do curso, que termina às 17 horas. Como sempre me sinto atraído por rios, dei um jeito de caminhar pelos acessos viáveis e ao mesmo tempo caminhar e olhar o rio no entardecer. Há muitos dias que estava chovendo e , de repente, de tarde, o tempo começou a limpar e o por do sol estava brilhando. Já tinha notado que do lado oposto do rio de onde eu estava, tinha uma árvore que, ao final do dia, começava a receber garças brancas. Fui até a beira do rio e comecei a ficar pasmo com o espetáculo. As garças estavam chegando de rio acima, rio abaixo. Chegavam de dez, vinte, 50, 100 por vez. Claro que as 100 não dava prá contar, porque embaralhava a contagem. Mas, cinquenta, vinte, era possível. Parecia que tinham chegado todas e, de repente, mais 20, 50, 100. Era um não parar mais. Estimei mais de 1000 garças. De repente chegou um biguá que não encontrou espaço e caiu dentro dágua. Só se via o pescoço rio abaixo. Levantou voo e subiu o rio. Em seguida estava de volta e , desta vez conseguiu uma vaga. Será que era o mesmo? Bobagem!
As últimas levas quase não conseguiam espaço, estavam ocupando as partes mais externas e pareciam não sossegar, pois, possivelmente estavam nos galhos bem finos. Algumas não encontravam pouso e precisavam circular ao redor da árvore até descobrir uma vaguinha disponível para estacionar. Desde o início parecia existir uma ordem de ocupação. Quem chega primeiro pega o melhor lugar. Infelizmente não estava com a tele 200 que possuo com o meu equipamento fotográfico. Estava noite e as garças ainda chegavam. Graças à facilidade das cãmeras digitais, usei asa 1600 e abri todo o diafragma e consegui ainda seguir totografando. Escureceu, apesar da lua cheia. A árvore estava totalmente branca na beira do rio. Ao subir a ladeira encontrei com um senhor que morava por ali mesmo. Comentando o espetáculo, perguntei quantas garças ela achava que estavam hospedadas naquela árvore. De duas a três mil, respondeu. Quando cheguei na praça, olhei pro céu e vi umas corujas voando, contei doze. Aí já é demais, fui dormir.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

FOZ DO IGUAÇU -Ñandeva



Fui a Fóz do iguaçu para ver de perto o projeto Ñandeva. Queria saber como funciona um projeto daquela magnitude. É um Projeto que envolveu os três países da fronteira. Brasil, Argentina e Paraguai. Tem mais de 100 artesãos registrados. O produto final conseguido é de primeira qualidade. Não é fácil chegar a este nível. Fiquei pensando nas minhas aulas de cerâmica Básica, de 8 dias, o projeto já tem alguns anos que funciona full time. O Ñandeva tem assessoria de Designer, viagens visita com os artesãos/artistas para outros estados brasileiros e até outros países. A Itaipu jogando um cacau brabo, todavia sendo gerido com responsabilidade e muito profissionalismo, permite um crescimento dos associados. A ceramista Maria Cheung, de Fóz do Iguaçu, que trabalha neste projeto, deixa sua marca registrada. Meu respeito e minha admiração. Crescimento com qualidade, isso é que é coisa fina. Na sala de exposição dos produtos à venda dá para perceber que não se chega de uma hora prá outra num resultado sonhado de qualidade. Fiquei estremecido, pensando seriamente que resultados desta natureza não se pode conseguir de forma rápida. Como transferir este tipo de trabalho para estas oficinas que ofereço, patrocinadas pelo Senar, de 8 dias apenas, onde entro com uma quantidade de informações enorme, ensino as técnicas, como encontrar e produzir uma massa de terracota, ensino também a construir um forno cerâmico à lenha, para 800 graus centígrados, mais acabamento, queima. É coisa demais prá tão pouco tempo. As pessoas se esforçam, aprendem. Mas, depois, vou embora, e o curso não tem continuidade. Que tipo de qualidade eu posso ofecerer? Como é que aqueles que se interessam vão encontrar estímulo para manter a vontade de trabalhar? Minhocas, minhocas na minha cabeça. Gostaria de reverter isso, aumentar o tempo de curso, tentar implantar um curso mais extensivo, um centro de aprendizado com continuidade por, no mínimo,um ano. Depois, sim, acredito que todos teriam condições de continuar de per si. Claro que um projeto dessa natureza tem que ter patrocínio. Agora apareceu o Edital da Petrobrás oferecendo essa oportunidade para projetos de Geração de Renda, sustentáveis, etc. Cabe dentro do que penso e sei fazer. Entrei, juntamente com uma ONG com um projeto que contempla um centro de cerâmica para uma pequena comunidade, com fornos cerâmicos elétricos, marombas extrusoras, plaqueiras, espaço físico , etc. etc. Acompanhamento por dois anos. Mas, vocês sabem, quem trabalha na linha de frente de batalha, não tem tempo para capturar verbas de projetos. Não dá tempo. A gente corre demais, quase não tem tempo. Estou torcendo para que o projeto dê certo. Tenho certeza de que com este tempo poderei fazer um trabalho eficiente e que as pessoas sentir-se-ão acompanhadas até encontrarem velocidade própria.
Bem, fui a Fóz do Iguaçu e, como ninguém é de ferro, aproveitei para ver as cataratas.
Estava um dia de grande volume de água, com garoa permanente e aproveitei para molhar-me na passarela do lado brasileiro.

TIBAGI - MAIO




Tibagi continua um lugar pequeno, gostoso de se morar, com o Rio Tibagi que é uma maravilha. Cidade com praças. Ruas calmas para caminhar. Nas proximidades do rio é possível caminhar escutando o roar do rio Tibagi. Para minha saúde tento caminhar diariamente uns 40 minutos e, com isso, fui desenvolvendo o prazer de andar pelas cidades que vou visitando.
Voltei a Tibagi para mais um curso de Cerâmica Básica, com nova turma e alguns alunos mais antigos. Aproveitei e fiz uma visita ao museu da cidade, novamente, com os alunos. A cerâmica arqueológica, de origem Caingangue é uma aula de modelado e design.
As paredes são finas. O formato caracterísco das vasilhas, abrindo para a parte central mais larga e depois subindo verticalmente, com o pescoço longo ou curto, são exemplares de qualidade. Uma delas apenas com engobe branco. As demais, brunidas, ou mesmo raspadas mostram a tradição cerâmica enraizada num design característico. Dá para perceber nas peças quebradas o uso de antiplástico às vezes grosseiro. É uma tradição, não se chegou de uma hora prá outra neste nível de qualidade formal. É olhar e aprender.
Aproveitei gancho do Salão de Cerâmica de Curitiba para provocar alguns alunos que já possuíam algumas peças queimadas em terracota, para que tentassem participar. Foram enviadas as fotografias e duas peças foram selecionadas. Assim, Tibagi começa a entrar no circuito nacional de cerâmica popular. Agora vão se beneficiar deste momento e irão ao Congresso Nacional de cerâmica participar de várias de suas inúmeras oficinas. O Salão Brasileiro de Cerâmica e o Congresso Nacional de cerâmica acontecerá em julho.
Fico feliz em ver que as pessoas interessadas e que batalham acabam encontrando um caminho. "Colheita é comum , mas o carpinar é sozinho", já dizia o compadre do Riobaldo Tatarana, o Quelemem de Gois.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

FIGURA HUMANA - MODELADO




Tenho muito prazer em modelar a figura humana. Fiz um curso com Israel Kislanski de São Paulo que modificou a minha forma de olhar a figura humana. Aliás o grande exercício que o Israel propunha era o desenvolvimento do olhar. Normalmente a gente olha para uma figura auxiliar de modelado, uma fotografia, outra escultura, etc, por um minuto, ou trinta segundos, às vezes menos e nem consegue fixar aquela imagem. Olha mas não vê! É difícil, a nossa distração, pouca concentração, os assuntos vários que nos dispersam, atrapalham. Enfim, a batalha do dia a dia desconcentra. Toda essa lezeira de comunicação, obrigações legais (luz, água, telefone, IR, dinheiro, principalmente, etc, etc) mais todo o amplo espectro de interesses jogam nossa cabeça prá todos os lados. Parar para desfrutar um aprendizado quase que se torna impossível. Somente com dinheiro em caixa e problemas menores em pauta é que se pode olhar, limpar a imagem, transferir para o barro, a massa cerâmica. trabalho é longo, deve-se ter persistência. O ideal seria começarmos nisso aí pela adolescência e depois seguindo o aperfeiçoamento ao longo da nossa vida, depois ir melhorando o modelado, sintetizando, estilizando, econtrando a forma, desenvolvendo nosso viver artístico, nossa poesia e lançar essa trama toda de nossa compreensão da vida no nosso trabalho. Bem, primeiro a gente aprende a modelar com as mãos e depois... com os olhos.
O Mestre Israel usa o modelo nu para ensinar. É essencial para se compreender a anatomia, principalmente com o olhar treinado e as mãos habilidosas para mostrar os detalhes anatômicos e tentar ensinar para aqueles que se interessam. A figura humana é o eterno tema. A quantidade de detalhes a serem aprendidos, o prazer milenar de batalhar para dominar o modelado, são atrativos imperiosos.
As figuras das fotos foram feitas durante as aulas do Israel. Exercícios rápidos, nos quais transparecem a técnica que o Mestre quer passar. A técnica de construção da figura humana. Isso foi fundamental. Numa das fotos obscureci a imagem para que realce a forma. A figura está ali. Estou batalhando.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

ANTONINA DE NOVO





Completei o Curso de Cerâmica Básica no Siri do Portinho, em Antonina-PR.
A qualidade dos trabalhos foi flagrante. O interesse ainda estava mantido. Conseguimos uma maromba para amassar as argilas e a massa ficou muito boa. Assim fica mais fácil. É claro que com o tempo todos se acostuma a preparar a sua massa. Todavia, quando se tem uma quantidade maior, feita quase sem mão-de-obra, a coisa fica mais rápida. Ainda tem a vantagem de se deixar a massa descansando que fica mais plástica, mais gostosa de trabalhar. Na verdade as massas preparadas no dia ainda não estão totalmente maduras para serem trabalhadas. Descansando a acomadação dos argilo-minerais da massa entram numa acomodação que resulta numa melhoria da trabalhabilidade.
Quando ao ensino de técnicas cerâmicas, sempre a pergunta é: o que se ensinar? Como não homogeneizar o trabalho. De repente todo mundo vai ficar fazendo galinha da angola de Caruaru!Depois tem ainda o rústico e o mal feito, que fica meio embaralhado, principalmente quando se dispoe de pouco tempo para trabalhar o acabamento. Planos de acompanhamento do desenrolar dos trabalhos são necessários. Por isso, quando retornei a Antonina e algumas pessoas aproveitaram para refazer o curso, foi muito bom, houve um crescimento no aprendizado.
Tento sempre não influenciar demais sobre o que modelar. Deixo que cada um siga o seu caminho. Mas é difícil segurar todo mundo e muitos copiam o que os outros fazem. De repente a turma inteira está fazendo alguma coisa que alguém inventou e fica até hilário. Mas claro que como treinamento de aprendizado é superválido. Como tirar de dentro de cada um sua criatividade. Nosso problema de acesso à cultura é notório e não é fácil ainda conciliar o aprendizado com a sobrevivência. Quem tem tempo para aprender, durante 8 dias, investir numa coisa nova?
Estou sempre procurandop uma nova forma de ensinar, de fazer acompanhamento por mais tempo, durante um ano, por exemplo. Poder chamar outros profissionais para repassarem seu conhecimento. Trazer algum designer, algum ceramista consagrado, mostrar pro nosso povo mais trabalhos, mais pontos de vista.
Enfim, luto para não deixar cair a peteca e continuar levando um pouco do meu bom humor, minha vontade de compartilhar, minha vontade de trabalhar e de receber o carinho das pessoas.