terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FORNO CATENÁRIO-VIDRADO DE SAL


Recebi a visita do Ceramista Português Joaquim José Parreira Pimentão. Falamos sobre nossos trabalhos, projetos, nossos modelos. Concordamos sobre muitos pontos e somos admiradores incondicionais de Bernard Leach, Hamada e outros. Como Joaquim está chegando ao Brasil para morar, pensamos numa atividade que poderíamos fazer conjuntamente e resolvemos começar por uma Vivência de construção de um Forno Catenário, para queima de vidrado de sal, no mês de março. Como segunda parte, uma oficina de vidrados chineses, temoku, sangue de boi e celadon, no mês de abril.
O Forno Catenário não é o forno de melhor aproveitamento, devido á curvatura da abóboda, onde perde-se muito espaço. Todavia a beleza da forma, da curva natural, já é uma obra de arte. Forno Catenário quer dizer forno de Corrente. Pega-se uma corrente, segura-se nas duas pontas, na distância desejada e deixa-se a corrente cair com seu próprio peso, até que dê o comprimento pretendido. A curva formada é a curva catenária. Marca-se o desenho desta curva numa prancha de madeira, inverte-se a posição da curva e teremos a forma do forno. Esta mesma prancha, recortada na curva marcada, pode ser de compensado que fazendo mais uma cópia e prendendo-as com ripas, no comprimento do forno, teremos a zimbra. A zimbra é a estrutura que servirá de apoio e guia para colocar os tijolos na construção do forno, imprescindível na parte superior (abóboda). Depois de colocada a última fileira de tijolos, retira-se a zimbra, desarmando-a do apoio. Poderá ser usada, a zimbra, para a construção de outros fornos .
Vamos construir um Forno Catenário no meu espaço de trabalho, na chácara onde moro. Esse forno será para queima à lenha, com dimensões internas de aproximadamente 80cmx80cmx80cm, construído com tijolos refratários de alta densidade. Estamos prevendo duas entradas, fornalhas. A temperatura de queima será de 1250 graus centígrados, com tiragem (saída do calor) invertida. O Joaquim tem experiência na construção deste tipo de forno. Tem também grande experiência em vidrados de sal. O vidrado de sal tem qualidades excelentes. Não é tóxico, portanto bom para objetos de uso culinário. Tem ainda o famoso "pele de laranja"este belíssimo vidrado de sal.
Esta Vivência estará aberta para quem quiser participar na construção, ou apenas apreciar a construção e aprender como se constrói. Durante esta Vivência meu ateliê estará aberto para todas as pessoas, para produzirem as peças que quiserem. Toda a infra-estrutura do ateliê estará disponível. Argila plástica, anti-plástica, caulim, chamote, talco, sílica, ainda maromba estrutura e mais equipamentos, formas, rolos, ferramentas, tudo à disposição. Estas mesmas peças poderão ser queimadas na inauguração do forno, que será após a secagem dele.
Pretendemos construir este forno no mês de março/09 e estou aceitando inscrição para a participação do evento. Será cobrada uma taxa, que incluirá as refeições. O evento pode ser fotografado, filmado, à vontade. As pessoas também poderão usufruir do espaço da chácara, com área verde, cachoeira. Pretendemos transformar estes dias num encontro de debates, palpites, experiências, para enriquecer o conhecimento e o convívio cerâmico.
Àqueles que se interessarem na participação será fornecido um mapa "como chegar",valores e maiores detalhes.
A foto é da cachoeira da chácara.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

DETALHES DE VIDRADOS-RAKU






Nos trabalhos em que fui selecionado para o Salão Nacional de Cerâmica, gostei muito do resultado que obtive com os vidrados de RAKU. Pelos detalhes das fotografias pode-se notar a variedades dos efeitos que consegui utilizando vidrados com belíssima rede de craquelê nos dodecaedros, como, também, sem o craquelê. O que busquei foram vidrados com altos coeficientes de dilatação e na massa coloquei materiais com menos coeficiente de dilatação. Assim, favoreci o aumento do craquelê. Nos vidrados além usar bórax, adicionei bastante sódio e potássio. Tenho pesquisado o bórax, apesar de ser solúvel, por ter um custo baixíssimo. Tenho visto que estes vidrados além disso apresentam uma variação muito interessante de efeitos inusitados e inéditos. A grande maioria dos ceramistas apenas compram seus vidrados nas lojas do ramo e vão resolvendo sua produção. O bórax é tóxico, como bem pode ser visto na literatura e exige o cuidado correspondente. Os dados de contaminação por materiais cerâmicos na literatura são escassos. Sabe-se bem o cuidado que é preciso ter com os vidrados de chumbo, os vermelhos amarelos e laranjas, de selênio e cádmio. Estou evitando usar vidrados que contenham chumbo, selênio e cádmio. Pode-se passar muito bem sem eles. A gama de vidrados alcalinos é enorme. Na alta temperatura praticamente todos os vidrados são não tóxicos. Os pigmentos de cobre, cromo, cobalto, que são os principais colorantes dos vidrados também são tóxicos. Voltamos à necessidade de sempre tomar os devidos cuidados na a produção cerâmica. Quanto à utilização de vidrados caseiros, com efeitos diferenciados, adicionei o sal de cozinha, cloreto de sódio na composição, para obter o sódio. Para o potássio, um pouco de feldspato de potássio. Na massa, aumentei o percentual de sílica para diminuir o coeficiente de dilatação. Aumentei o coeficiente de dilatão do vidrado e diminuí o da massa, dando o máximo de contraste. Além disso, ao retirar as peças do forno, deixei um minuto sem proteger com serragem, cepilho, folhas, etc, para ainda aumentar o craquelê. O resultado pode ser visto pelas fotografias.
Já os vidrados COPPER MATE exigem mais cuidado, mais trabalho. Na composição usei a que se encontra na literatura, vidrado alcalino, com óxido de cobalto, óxido de ferro vermelho e óxido de cobre. Para a redução coloquei as peças em ambientes fechados com jornal. Quando a redução é feita de forma violenta, as cores ficam mais claras.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

CURSOS DE CERÂMICA BÁSICA





Neste mes e no mes passado, ministrei duas oficinas de Cerâmica Básica, de 64 horas cada, patrocinadas pelo Senar-PR, nas cidades de Campo Magro (Região Metropolitana de Curitiba) e em Quatro Barras, no meu próprio Ateliê, no Bairro Campininha. Evidentemente que as oficinas no meu ateliê são mais fáceis de ministrar. Tenho maromba extrusora, argila plástica em toneladas, toda a infra-estrutura para produzir uma massa artesanal de boa qualidade, plástica, com adição ou não de chamote. Pesquiso as argilas de barranco das cercanias do local onde se encontra meu ateliê. Conheço inúmeras que tem coloração diferente, as quais, inclusive utilizo para pintura de paredes de alvenaria. A adição de uma argila anti-plástica extraída no próprio local de trabalho, ou próximo dele, tem uma força especial. Primeiro porque fica claro para aqueles que estão fazendo um curso, como utilizar-se de matérias-primas que estão disponíveis ao nosso redor e isso torna o aprendizado mais interessante. Argilas plásticas de grande qualidade para uso em cerâmica artesanal e artística são descartadas normalmente na região mnetropolitana de Curitiba. Estamos no primeiro planalto paranaense, ao lado da Serra do Mar, que é constituída de granito e este por quartzo, mica e feldspato, sendo o último a origem das argilas e caulins, portanto, nossa região Metropolitana tem material cerâmico em abundância. Basta estar alerta. Por exemplo, neste ano, na Avenida Maringá, em Pinhais, a Prefeitura Local estava implantando um sistema novo de galeria de águas pluviais e necessitou cavar a uma profundidade de 3 metros para colocar mais de um km de tubulações de mais de 1 metro de diâmetro. Conclusão: a argila plástica que a retroescavadeira retirava era imediatamente levada por caminhões caçamba e descartada. Nas escavações das contruções de prédios e edifícios em Curitiba também podem ser encontrados ótimas argilas plásticas para compor uma massa utilizável com resultados excelentes. Estou falando de cerâmica artesanal e artística que não representa qualquer dano para o meio ambiente. Existe hoje em dia um consenso sobre as argilas = são matérias-primas não renováveis. Assim, se, mesmo em pequena escala, estivermos usando um material que será descartado e mais, inutilizado, é muito interessante e de uma certa maneira é uma atitude ambientalista. Uma noção mínima para compor uma massa é necessária. Mas a literatura está disponível em todos os lugares e uma massa artesanal, para começar, pode ser composta com 70% de material plástico e 30% de material anti-plástico. Se passar no teste do rolinho, ou anel, já pode ser usado. Teste do Rolinho, ou do anel: misture bem a massa, faça um rolinho de aproximadamente 10 cm de comprimento e 1cm de diâmetro e entorte-o ao redor de um dedo. Se não rachar é plástico, pode ser usado para modelagem. Se rachar necessita de mais material plástico. Já falei sobre isso noutra postagem.É claro que deverá ser testado no momento de confeccionar alguma peça e depois queimar e ver sua qualidade, se serve para aquilo que se deseja. Pode ser adicionado tijolo moído e peneirado como chamote. O material anti-plástico é muito fácil de ser encontrado. É a argila mais abundante em quase todos os terrenos, barrancos, etc. Em todo lugar existe algum movimento de terra, o nosso planeta está sendo rasgado de cima a baixo e sem sua pele natural (vegetais), o material argiloso está exposto em todo parte.
As panelas estão cada vez mais sendo procuradas como produto artesanal. A confecção exige concentração e repetição de algumas panelas para fazer uma de qualidade aceitável, isso para quem nunca trabalhou anteriormente com modelado cerâmico e tem pouca habilidade com artesanato. O método mais simples é o da bola. Amassa-se corretamente o barro (técnica da cara do boi, por exemplo) e faz-se uma bola de argila, com a quantidade de barro para o tamanho da panela. Abre-se um buraco no centro e daí vai abrindo e dando o formato à panela. O dedo indicador curvado e apoiado pelo polegar é a ferramenta que abre a panela. Veja a fotografia da reportagem. A outra forma, sem o torno, é o rolinho ou cordelado. Vai sobrepondo rolinhos já com a espessura da parede da panela até a altura desejada. As tampas podem ser confeccionadas esticando uma placa e deixando secar sobre uma superfície, de preferência gêsso, em, formato de calota. Para impermeabilizar as panelas alguns métodos são adotados. No Estado do Espírito Santo é muito usado a casca da planta do mangue "Risophora mangle". Faz-se uma infusão forte e depois de tiradas as panelas da queima, esta infusão é batida nas panelas ainda quentes com ramo de plantas. No nordeste é muito usado untar as panelas na parte interior com óleo de cozinha e colocar ao sol. Esta operação é repetida umas quatro vezes. Vi no litoral do Paraná a impermeabilização sendo feita fritando com bastante óleo cascas de banana verde. Meia dúzia de cascas de bananas são suficientes. O método mais prático que achei foi fazer um refogado de cebola e alho com bastante óleo e fritar espalhando o óleo por toda a panela. Jogar fora este preparado. Após isso a panela já está pronta para uso.
As panelas dos oleiros de São José, Santa Catarina são impermeabilizadas com vidrado de sal. Esta parece-me a forma mais perfeita de impermeabilização. Mas não está ao alcance de todo ceramista artesanal paneleiro.Nas fotos panela dos Oleiros de São José-SC (amarela), panela Capixaba do Mestre Pixilô (preta) e panela confeccionada por mim, com impermeabilização com líquido da infusão de cascas com taninos de plantas locais: acácia negra e aroeira.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

SALÃO E CONGRESSO NACIONAL DE CERÂMICA




De 6 a 9 de novembro, aqui em Curitiba, aconteceu o Congresso Nacional de Cerâmica. É do mesmo porte do Contaf de São Paulo. Evento indispensável no mundo cerâmico tupiniquim. São Paulo (na Cerâmica Artística= Megume, Norma Grimberg, Ideko) e o nordeste ( na Cerâmica popular= Mestre Nado, Paneleiras de Belém, Paraíba, Caruaru, Bahia) estão presentes influenciando positivamente o desenvolvimento cerâmico Nacional. O Contaf, infelizmente, dará um tempo, até 2010, para acontecer novamente. Precisamos valorizar cada vez mais o Congresso Nacional patrocinado pelo Governo do Estado do Paraná. Além deste invenstimento, ainda tem o Salão Nacional de Cerâmica, paralelo ao evento, o único deste gênero, em Cerâmica, no Brasil, com prêmio de $7.000,00 para os três primeiros colocados em Cerâmica Artística, Design e Popular. Claro que essa grana é mínima, mas de alguma forma valoriza além do dinheiro aqueles que apresentam um trabalho de qualidade, bem como todos os demais participantes selecionados para o Salão.
O Congresso é um ponto de referência, um lugar de troca de experiências e contactos,
Fiz oficina com o Megume, cujo tema era "O Cadáver Esquisito" um jogo coletivo surrealista inventado na França em 1925. Foi uma Oficina muito bem conduzida e de grande integração entre os participantes que resultou num gran finale emocionante.
O que tenho pensado sobre o trabalho artístico é o que acredito ser a necessidade premente do Ser Humano, frente ao desenvolvimento tecnológico e a degradação acelerada do planeta. Todos os habitantes humanos do Planeta Terra precisam pensar na curta duração da sua existência e que é necessário preservar a Natureza. Não adianta um trabalho de vanguarda, contemporâneo, com conceito, poética, se ao seu lado tudo é destruído: espécies animais e vegetais são extintas. O trabalho artístico precisa conter este grito de desespero e ao mesmo tempo de esperança. O nosso lugar no Cosmos, coordenadas cósmicas, está definido. O limite do nosso mundo visível está quantificado. O homem está no ponto médio entre o macro e o microcosmo. Nossa solidão cósmica aumenta com o aumento da nossa compreensão das dimensões cosmológicas. Todavia, a Vida e o Homem continuam sendo o mistério. A desconstrução desenfreada junto com a Maldição da Tabela Periódica (não teremos descanso enquanto não separarmos todos os elementos químicos do planeta, colocando-os organizadamente cada um no seu lugar...), somado à alugação da nossa cabeça com a sobrevivência diária, tornaram a vida muito rápida e curta, com atrativos reduzidos.... E por aí afora...
Fui selecionado com duas obras para o Salão Nacional de Cerâmica. Numa delas quis sintetizar meu sentimento de oprimido pelas contingências e exigências do dia a dia. São as Balas de Canhão = a vertigem do cotidiano conduzido para o nada, tangido pela força disfarçada dos mais fortes. A obra carece de força, necessita mais poesia, quero desenvolver melhor este tema. Perseguir mais essa idéia, ir mais longe, colocar mais coisas. O título foi inspirado no Riobaldo Tatarana do Guimarães Rosa "... no meio do redemunho!"
A outra obra, chamada Dodecatoplatonis são dodecaedros empilhados, que somados mede 1,55m de altura. A queima é de Raku, com bastante sódio na formulação do vidrado para aumentar o c`raquelê. São todos vidrados formulados para estas peças.

sábado, 4 de outubro de 2008

TRABALHANDO EM CASA-PRIMAVERA




Dei um tempo na correria de aulas e cursos. Nesta duas semanas ficarei em casa, dedicando-me ao meu trabalho próprio de produção cerâmica.Voltei ao torno depois de mais de um mês afastado. Preparei uma massa com chamote fino, talco e um anti-plástico de argila de cor vermelha intensa. A argila plástica é a mesma de sempre, das margens do Rio Iguaçu, 15 toneladas que comprei há poucos anos. Quero queimá-las na técnica RAKU. A massa ficou fina, gostosa de tornear. Estou produzindo vasos com biquinhos, nos quais procuro formas novas, mais aqueles que me inspiro no Hans Coopper, etc, etc. Nunca tenho um plano totalmente definido do que vou fazer. Quando ergo a peça é que realmente decido. Grande parte já sei como completar, mas, no meio do caminho é que realmente procuro uma forma de finalizar. Posso mudar de repente de idéia. A meta nunca é encarada como linha de produção. Sempre estou procurando aquela forma nunca feita. No torno não é fácil inovar. Tem aqueles formatos que a gente gosta, com as quais mais se identifica e que depois de vidradas completarão aquilo que queremos. Estou cada vez mais concentrando-me em vidrados mais rústicos. Mesmo nas queimas de raku. O craquelê está ficando cada vez mais intenso e agora estou trabalhando para aumentar ou diminuir o tamanho da rede de craquelê. São alguns conhecimentos que se vão adquirindo, mais os macetes práticos da queima. Uso até sal de cozinha, cloreto de sódio, para adicionar sódio, que aumenta o coeficiente de dilatão e favorece o craquelê. O borax, que é baratíssimo se comparado com a colemanita, adiciono para compor um vidrado transparente. É claro que o bórax, por ser solúvel, é chato de trabalhar e não dá para guardar as soluções que sobram, pois elas cristalizam, necessitando serem moídas para serem reusadas. Mão-de-obra! O bórax diminui o coeficiente de dilatação, funcionando ao contrário do Sódio, Potássio e Lítio.
Nas queimas de RAKU também tem o problema da forma. Formas mais fechadas, vasos com gargalos, bicos estreitos, resistem mais ao choque térmico do que pratos, ou formatos abertos.
Enquanto isso, estamos em plena primavera. Tenho muitas espécies de flores aqui na minha casa. A glicínia encheu de rendas as laterais da casa, agora restam poucas. As gabirobeiras deram floração intensa, prenunciando boa produção de gabirobas, com as quais faço geléia e mais uma deliciosa gabirobada cascão, o que é incomum. Sorte não ter geado tardiamente, o que diminui sobremaneira a produção de frutas. Tenho grande quantidade de dendróbios (orquídeas) espalhadas pelas árvores da chácara. Já cataloguei 16 espécies nativas de orquídeas aqui no meu espaço. Plantei, também, uma boa quantidade de frutíferas. O nosso clima aqui na latitude 25 graus e 1000 metros de altitude as espécies tropicais não vingam. Mas uva, pêssegos, caquis, maçãs, ameixas, nêsperas, kiwi, cítricos, amoras, peras, figos, etc, dão em abundância. Faço muitas geléias, com as amoras chilenas e uvas faço sucos. Desta última engarrafo uma boa quantidade para consumo durante o ano. A maior parte das amoras congelo no freezer para ter sempre fresquinhas, suco direto, misturado com água. Estou curtindo plantar physalis (Physalis angulata -uma solanácea com fruta amarela de 2 cm de diâmetro, aproximadamente), e rosella (p/ chá, suco com limão e geléia).
As aves também estão com a movimentação típica da primavera. Saíram daquele movimento calmo do inverno e os casais andam atarefados na construção de ninhos. No meu ateliê flagrei algumas baitacas comendo a tábua do beiral para cavar uma entrada = ninho. Andorinhas também buscam os beirais, mais os canarinhos da terra e as corruíras. Estas começam a cantar cedinho e é um prazer escutá-las. A manhã começa com os sabiás. Aqui tem o sabiá de peito vermelho, peito branco, coleira e o sabiá preto, chamado sabiá poca. Este último começa a cantar somente lá pelo mês de janeiro, aqui em casa, quando as outras espécies de sabiás já estão parando. Quando lembro da minha infância, sempre tem um sabiá laranjeira cantando. Dentro de um bote, descendo à camalote (como dizem os paraguaios=rio abaixo sem remar, ao sabor da corrente, Rio do Peixe, oeste de Santa Catarina). Ficava triste quando lá pelo mês de fevereiro diminuía o canto dos sabiás e aguardava a chegada da primavera para ouví-los novamente. Mas em fevereiro começavam os ariticus (araticus).Meu pai, expert em aves canoras, chamava a atenção para a variação dos cantos das diversas aves. O curió, azulão, canário da terra, pintassilgo, cardeal, coleirinha e, é claro, os sabiás. Destes o coleira era o seu preferido. Repetindo o grande ceramista, em sua carta pro Bernard Leach (citado em A Potter's Book), Shoji Hamada, "quando vejo as cerejeiras em flor, sinto que a cada ano a primavera vai entrando cada vez mais dentro de mim".

terça-feira, 30 de setembro de 2008

SENAR-CERÂMICA - Piaçaguera-Paranaguá-PR





Fui a Piaçaguera, na Baía de Paranaguá, ministrar o curso de Cerâmica Básica do Senar-PR. Lugar de grande beleza cênica, de frente prá parte leste da Baía de Paranaguá, com vegetação de mata Atlantica ainda densa e praticamente intocada. As árvores sãolotadas de bromélias, em alguns lugares o chão também. Muitas orquídeas e aquela abundância de vegetação densa com uma variedade que faz a mata Atlântica ser conhecida como a floresta de maior diobiversidade do planeta. Não esqueçamos que estamos na maior faixa contínua remanescente da Mata Atlântica. Só que é uma merreca, se comparada ao que foi devastado(sobraram 6%). Todavia esse pinguinho de mato ainda aí está, resistindo ao ataque desenfreado da nossa onívora civilização, por enquanto.
Nos primeiros quatro dias de curso em Piaçaguera pude perceber a necessidade que tem o nosso belo povo caiçara de substituir o seu modo de sobrevivência. Antigamente a pesca supria as necessidades. Mas, agora, dentro da baía, em frente ao porto de Paranaguá, os peixes minguaram, os plásticos nadam em cardumes e os biguás voam de lá prá cá, tentando desesperadamente identificar qualquer movimento de peixes. O artesanato local com cipós é muito bom. A cerâmica artesanal,por ser uma atividade que não agride o meio ambiente, é uma grande forma de sobrevivência que deve ser incentivada.
Voltei para completar o curso com ânimo total, tentando ensinar e aprender com este povo, oprimido e não recompensado pelo que está perdendo de cultura e dinheiro com esvaziamento das suas fontes de sobrevivência e pela opressão que também sofre pelos meios de comunicação. Uma enxurrada de produtos de péssima qualidade (tem em qualquer supermercado de qualquer cidade = conservantes, aromatizantes, corantes, flavorizantes, margarinas, açúcar, enlatados, embutidos, etc, etc.) para substituir a saudável comida retirada antigamente do mar, só vem completar o quadro.
São 8 dias de curso. É muito pouco! Estou tentando ampliar o curso, com acompanhamento, para que a inciativa que é muito bem recebida seja incentivada e aperfeiçoada. A cerâmica não se aprende rapidamente, salvo raras excessões. Precisa de muito treino e acompanhamento, até que seja aperfeiçoada. Construí o forno cerâmico artesanal, cuja queima saiu perfeita, como pode ser observado pela foto.
Para procurar argila com a finalidade de compor massa cerâmica, fomos pela praia. Na volta, por trilha no mato. Para quem mora em Curitiba, sem mar, é fantástico caminhar numa praia com vista ampla, panorâmica.
A Baía de Paranaguá tem tradição cerâmica. A Ceramista Senhorinha, da Ilha de Medeiros, deixou escola, muito embora quase só na lembrança. Consegui um vídeo com depoimento da Sinhorinha que deixei para os moradores de Piaçaguera. Este trabalho da Sinhorinha era uma tradição aprendida de seus antepassados indígenas. Usava queima direta colocando as peças no meio dos galhos secos de lenhas. A queima não durava mais que uma hora. Sinhorinha tinha grande habilidade, modelava todos os tipos de utilitários (vasos, panelas, jarros, etc), a maioria desenvolvidas por ela mesma, sozinha. Era ajudada pelo marido nas tarefas mais pesadas, como ir buscar o barro e fazer o fogo. Interessante que usava a velha proporção básica, 70% de matéria-prima plástica e 30% de anti-plástica, para compor a massa resistente à essa queima direta. Existe ainda muitas peças dela espalhadas pela baía, mas não restaram ceramistas. Acredito que assim que começarem a surgir centros de produção nas ilhas, este artesanato ressurgirá com força total.

sábado, 20 de setembro de 2008

VIVÊNCIA-FERACOMCIÊNCIA- R A K U


Mês de setembro e agora de outubro está sendo de muita correria. Ministrei várias oficinas de Raku. Primeiro a Vivência aqui no meu ateliê. Fantástica, com 11 participantes. Criou um clima muito bom, as pessoas mostraram grande interesse e o resultado apareceu, apesar de ser apenas um dia. Mas, sendo uma Vivência, o bom é o dia agradável, tranquilo, com boa onda e comida deliciosa. Assim foi. Ao saírem da Vivência as pessoas combinaram encontrar-se noutro dia para leros leros, tangos e boleros. Com essa mesma turma acabei indo assistir a um show de música italiana com um gancho na música brasileira, promovido pelo Consulado da Italia, chamado "A Vida é a Arte do Encontro". Foi organizado pela italiana Elvira, do Consulado, uma participante da Oficina. O título é sugestivo para continuação da Vivência.
Participei do Projeto Paraná em Ação, em Curitiba, ministrando 2 oficinas de Raku por dia, durante 6 dias. 12 queimas. Era para os alunos das escolas públicas Curitibanas e o povo que estava visitando o local e aproveitava para conhecer a queima de Raku e já participava passando um vidrado numa peça que estava à disposição, previamente biscoitada. Até os garis que faziam a limpeza da praça aproveitaram o momento e fizeram uma peça cada um que depois levaram para suas casas. Enquanto a queima estava acontecendo eles voltaram ao trabalho, retornando para a abertura do forno e limpeza das cerâmicas, resfriadas no ato, como acontece nesse tipo de queima. Foi interessante, o povo, alunos, as pessoas que participavam do próprio projeto, em frente ao Palacio do Governo, vieram conhecer a técnica e levar o resultado embora. O Raku realmente é uma forma alegre de trabalho cerâmico, muito rápido, eficiente e mesmo para pessoas que nunca tiveram experiência anterior de cerâmica o resultado é sempre positivo.

Participei, também, do Projeto Fera Comciência, da Secretaria Estadual de Educação, em Curitiba. O tema deste ano é a comemoração dos 100 anos a imigração japonesa. Aí é que o Raku se encaixa, como também nas oficinas anteriores. Técnica cerâmica de origem coreana e desenvolvida no Japão onde é usada desde o século XVI. O Projeto Fera Comciência é fantástico que não pode perder sua energia, pela grande quantidade de informações que os alunos da rede pública recebem e que são inesquecíveis para eles, pois nossa população que não tem condições de frequentar as escolas particulares também não tem condiçòes de frequentar nada. Só o fato de participarem de um evento artístico-científico já é inesquecível. A oficina era a mesma do Paraná em Ação, somente que para professores da rede pública. Foi muito interessante porque participaram professores de química, biologia e artes. A técnica de Raku é muito ilustrativa no caso da química, onde presenciamos visualmente um caso clássico de reação química de óxido-redução. Costumo ilustrar essa reação química com o pigmento óxido de cobre que é um verde usado nos vidrados. Quando se observa um fio de luz de cobre, que é vermelho, oxidado, aparece uma película esverdeada, é o óxido de cobre. Nos tachos de cobre também a oxidação deixa uma mancha verde que popularmente é conhecida como zinabre. Não confundir com cinábrio que é o mineral sulfeto de mercúrio. Bem, quando o óxido de cobre é misturado num vidrado transparente o resultado, após a queima, é a cor verde ou turqueza, dependendo da qualidade do vidrado (base plúmbica ou alcalina). Como a técnica de Raku usada no ocidente é um pouco diferente, criada pelo americano Paul Soldner, temos um sincretismo cerâmico nipo/ocidental. Lá a peça cerâmica quando,dentro do forno, atinge a temperatura de 1000 graus centígrados, é sacada para fora do forno e imersa nágua, para resfriamento imediato. Paul Soldner resolveu colocar primeiro na serragem, onde acontece uma redução forçada.Aí ocorre a redução química. A serragem, matéria orgânica, devido à alta temperatura, queima imediatamente, todavia, para a sua combustão necessita de oxigênio. Como no meio da serragem tem pouco oxigênio e a tampa do recipiente costuma-se fechar para melhor redução e ainda evitar a fumaça da queima, a serragem retira o oxigênio do óxido de cobre, transformando-o em cobre metálico de cor vermelha. O vidrado que seria verde torna-se vermelho. Exemplo claro, fácil de compreender. Possivelmente algum professor utilizará este processo para ilustrar sua aula, principalmente porque a química é encarada como uma matéria muito chata de difícil compreensão. Para os professores de arte o resultado final da queima é bonito e admirado.
Os vidrados Sangue de Boi, Celadon e Temoku, clássicos vidrados japoneses, também são obtidos com redução, só que a redução ocorre dentro do próprio forno e em alta temperatura, acima de 1250 graus centígrados.
Foram dias corridos, mas gratificantes...

domingo, 10 de agosto de 2008

VIVÊNCIA - RAKU E COPPER MATE-SALÃO










Algumas vezes por ano, abro meu espaço de trabalho para oficinas de Raku. Chamo de Vivência.Vivência porque o enfoque vai além da Cerâmica. É um dia de cerâmica que os interessados podem vivenciar. Apresento três peças já previamente torneadas e biscoitadas para que cada participante, no máximo 15, pinte. Depois é queimado, num forno próprio, retirado do forno a 980 graus centígrados e colocado na serragem para a redução química. Esta técnica foi inventada pelos coreanos, eternizada pelos japoneses e popularizada pelo americano Paul Soldner. A oficina começa às 9horas da manhã e termina às 17 horas. O almoço, bem como o lanche de encerramento é preparado pela minha companheira Beatriz, expert em culinária, com enfoque naturalista e com opção para vegetarianos. No dia 23 de agosto farei uma dessas oficinas = Raku e Copper Mate. Custo por pessoa = R$ 120,00. Quem se interessar, passe um e-mail para maiores detalhes.
No meu espaço de trabalho tenho o maior cuidado com a Natureza. Moro numa chácara, onde 50 % é área de Preservação. Meu ateliê está cercado de árvores.
Acho que não se pode separar a vida do trabalho. Por isso, durante anos batalhei para poder realizar aquilo em que acredito: trabalhar de forma independente, associar minha vida profissional à minha própria vida. Ao separar minha vida do meu trabalho uma parte de mim fica perdida, dissociada. Assim,viver de forma independente, tentando não dar força a essa corrente de desenvolvimento que está levando nosso planeta à falência múltipla, preservar o meio ambiente, fazer proselitismo ambiental, tomar atitudes mínimas que ajudem as pessoas menos favorecidas, não julgar os outros pelo seu poder financeiro, não dar importância para a sofisticação da aparência, tentar olhar o ambiente que me cerca, ter compaixão pelos outros, agradecer à vida, à saúde, é a minha meta.
Evidentemente que necessitamos de dinheiro, muito dinheiro! A cultura é caríssima, os livros têm preços absurdos, viajar é uma nota preta, pagar por bons cursos é necessário. O tempo também está muito rápido (efeito Schumann). Vejo as pessoas dizendo sempre isso, que não tem tempo, que não conseguem dar conta dos compromissos, que a vida se esvai mais rapidamente do que o crédito do celular. Então, todos têm sua charada particular. Precisamos matá-la para sobreviver de forma digna, satisfatória.
Todavia, ainda sobra um tempinho para alguma coisa. Agora neste final de julho, começo de agosto, em pleno inverno, aqui no meu ateliê, a cerejeira do Japão, Sakura, numa belíssima e intensa floração, transportou-me para a carta que Shoji Hamada escreveu para Bernard Leach, na década de 30 do século passado, que este reproduz no seu livro “O livro do Ceramista”: “...a cada ano ao contemplar as cerejeiras em flor, sinto que a primavera vai entrando cada vez mais dentro de mim...” Um bando de baitacas (família dos psitacídeos), umas 30, vivendo mais intensamente, aproveitou para saborear as flores da cerejeira. Um belíssimo espetáculo que reparto com vocês na foto acima.
Estou também, neste mês, preparando-me para o Salão de Cerâmica que acontece aqui em Curitiba, juntamente com o Congresso Nacional de Cerâmica. Trabalho algumas peças onde tento colocar minha visão da cerâmica e a minha visão das coisas que me cercam. Como posso expressar todo o sentimento que me impele a seguir adiante na vida e ao mesmo tempo colocar a minha tristeza por compreender que o ser humano socialmente está numa escalada insana, a população mundial sem qualquer possibilidade de controle, as mudanças climáticas já instaladas no planeta, o desenvolvimento tecnológico perscrutando o Universo mostrando maravilhas que somente as gerações atuais estão podendo ver, a Ciência em toda sua plenitude de desenvolvimento, são algumas das emoções contraditórios atuais. Como expressar esta alegria e ansiedade que sinto? Somado a isso, o meu conhecimento cerâmico e habilidade que desenvolvi até o presente.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

OFICINA FORNO DE ALTA - 1300 oC






Neste final de semana, sábado, dia 12 de julho, em Curitiba, no ateliê Arte Cerâmica de Sada Mohad, ministrei uma oficina de construção de forno de Alta Temperatura, artesanal, a gás.
Trata-se de um forno construído com tijolos isolantes, cilíndrico, com as dimensões externas de 80 de diâmetro e 90 cm de altura.
É muito simples e prático. A oficina começou com o forno pronto, montado. Imediatamente passei a desmonta-lo e remontei-o em seguida. Esta operação não demorou uma hora. Depois disso coloquei as prateleiras, algumas peças e iniciei a queima.
Este forno é também muito eficiente, com consumo mínimo de gás, tempo de queima controlado, com possibilidade de aumentar ou diminuir este tempo de queima.
Ele segue o modelo bolado pelo Mestre Argentino J. H. Chiti. Os modelos cilíndricos, segundo Chiti, são os mais eficientes: tem a melhor circulação, são mais fáceis de serem construídos, tem menor consumo de combustível. Evidentemente que estamos falando de fornos de pequenas dimensões, que permitem a carga e descarga pela parte superior.
O volume útil deste forno é de 58 cm de diâmetro por 80 cm de altura. Os cálculos de abertura para entrada de gás e ar, a potência dos maçaricos e abertura de saída dos gases foram feitos usando os dados fornecidos pelo Mestre Chiti nos seus livros e nos cursos que acontecem no Instituto Condorhuasi, como, por exemplo, aquele de abril deste ano.
A oficina queria apenas mostrar um forno barato, seu funcionamento, distribuição da temperatura no interior, acompanhado com controlador digital e cone pirométrico. Fixamos o tempo de queima, até 1200 graus centígrados, em 3h 30m, com patamar de 30 minutos. Todavia, com o objetivo de abreviar o final da queima, resolvemos completar a queima em 2h50m, com patamar de 30 minutos. Esta performance do forno foi conseguida com maçarico de 50kcal/h comprado no Instituto Condorhuasi, em Buenos Aires. É um maçarico feito especialmente para queima cerâmica, modelo que somente lá pode ser encontrado. Permite usar chama oxidante, neutra e redutora. É claro que para este tempo de queima não levamos em consideração maturação do vidrado, crescimento de cristais, etc, não era esta a meta da oficina. O consumo de combustível foi de aproximadamente meio butijão de gás de cozinha, de 13 kgs. O custo deste forno é de R$ 4.500,00, aproximadamente.
Nas fotos mostro o forno e as pessoas que participaram da oficina. Mostro também uma peça queimada num forno igual ao da oficina, com vidrado de cinzas, a 1263 graus centígrados.
Em agosto será repetida esta oficina no mesmo ateliê.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

TORNO CERÂMICO



Várias civilizações antigas reivindicam para si o mérito da invenção do torno, considerada por alguns como a mais antiga máquina criada pelo homem. Os gregos diziam que a roda de oleiro fora inventada por Pérdix, sobrinho de Dédalo, este o patrono da indústria.
Sempre é um desafio trabalhar no torno quando pretendemos encontrar alguma forma que personalize o nosso trabalho. Como o uso de torno é milenar, torna-se difícil tornear uma peça que já não tenha sido feita. As variações podem ser mínimas, mas o resultado como um todo sobressai. Algumas formas são consagradas. Os vasos gregos, ânforas, moringas, leiteiras, bules, filtros, formas abertas, fechadas, recipientes para todos os usos. Enfim, depois de todo o trabalho para aprender a centrar o barro, começar a erguer o cilindro, inicia-se uma nova etapa que é a de encontrar as linhas que nos agradem, que expressem aquilo que estamos desejando no momento.
As peças torneadas levam a vantagem de permitirem a construção rápida. Assim, podemos, uma vez definida a forma, produzir uma grande quantidade de peças iguais ou semelhantes.
Para testar vidrados o uso de peças torneadas pequenas de 10 a 20 cm de altura são excelentes.
Tenho produzido uma massa de boa qualidade para tornear. Como faço muitas queimas de Raku, 1000 graus centígrados, e de alta, 1265 graus centígrados, a maior quantidade de peças são aquelas que modelei no torno. Como gosto do efeito um pouco rústico no grês, resulta que as massas são semelhantes. A massa vermelha comporta-se muito bem na queima de raku, misturada com chamote e talco. Dependendo do efeito posso variar a granulometria do chamote e a própria cor do mesmo. Chamote de tijolo, chamote refratário de cor de queima branco ou escuro (que tem algum percentual de ferro na massa). A variação maior na massa de grês e para queima de raku é na argila vermelha e no talco. O grês não precisa de talco, que é caro. O talco é usado para dar resistência ao choque térmico. Químicamente é um silicato de magnésio = 3MgO.4SiO2.H2O. A argila vermelha deve ser usada em percentual menor no grês, sendo substituída por uma argila de queima branca e mais ainda o caulim, que tem alto percentual de alumina..
Algumas pessoas acham que o chamote grosso fere os dedos ao ser torneado. Todavia, para um efeito raspado com o aparecimento de sulcos ou pequenas crateras a granulometria grossa é indispensável. O que vale é o efeito. O torneiro sempre encontra uma maneira de evitar que o chamote machuque seus dedos.
Massa para torno:
Raku = Argila vermelha - 65%
Talco - 15%
Quartzo - 4%
Chamote - 15%
Bentonita - 1%

Grês = Argila vermelha - 30%
Argila branca - 40%
Caulim - 14%
Chamote - 15%
Bentonita - 1%

Há mais de 15 anos que preparo minhas próprias massas. Primeiro timidamente, indo buscar argila em olaria e adicionando material anti-plástico. Posteriormente fui ficando mais independente utilizando argilas de barranco, modificando a coloração da massa em função das argilas que ia encontrando, pela cor, pela beleza e vendo os resultados. Adquiri, com isso, muita confiança em preparar minhas massas e hoje em dia, confesso, para preparar as composições acima citadas, para raku e grês, eu não faço pesagem, a proporção é visual e a massa resultante, pela sua trabalhabilidade e aparência é o que busco. Como não necessito um padrão perfeito de repetição não há porque fazer sempre a mesma massa. Quando quero que as peças saiam com a qualidade igual, preparo uma grande quantidade de massa para o trabalho em vista.
A fotos é de peça torneada, raku, e o torno é artesanal, de qualidade excelente, sem aquele barulho de motor confinado em lata. A roda da parte inferior é de ferro, com 65 kgs, que aproveita a inércia do impulso dado pelo motor. Foi feito por um torneiro e o custo destte torno totalizou R$ 1.450,00.

sábado, 28 de junho de 2008

CERÂMICA BÁSICA EM DR ULISSES-PR











Mais um curso de cerâmica Artesanal, pelo Senar-PR. Desta vez em Dr.Ulisses, no Paraná. Lugar difícil de conseguir-se uma argila plástica para compor uma massa. Através de contato com o Mineropar, os técnicos fizeram uma análise de amostras de diversas argilas e encontrou-se uma argila com índice de plasticidade 28. Em todos os livros de cerâmica descreve-se o método de como verificar-se a plasticidade de uma argila fazendo o tradicional anel. Pega-se a amostra, amassa-se um pouco, faz-se um rolinho e coloca-se ao redor do dedo. Se não rachar é plástica. Já um laboratório, como é o caso do Mineropar, segue um teste científico. O índice de plasticidade é obtido seguindo técnicas internacionais consagradas. Então, o índice de plasticidade é a diferença entre o Limite de Liquidez (quantidade de água que a amostra pode ser misturada sem virar líquida) e o Limite de Plasticidade (quantidade de água mínima que permite a trabalhabilidade da argila). O que é muito bom e que dá segurança é o fato de que as amostras que no curso consideramos como melhores para o modelado, também o foram pelo Mineropar. Ou seja, o simples teste do rolinho é muito bom e garantido. É claro que depois vem a composição da massa, sempre naquela base de 70% de argila plástica e 30% de argila anti-plástica. Esta proporção é modificada até chegar-se a uma massa de boa trabalhabilidade.
As argilas daqui parecem meio fofas. Não tenho acesso à análise mineralógica, para comprovar a composição das argilas e saber o que ela apresenta na sua constituição para ser tão fofa ao tato. O fato é que mesmo a melhor massa não possuía boa resistência após a queima. Aqui tem ocorrência de mármore, que é um carbonato de cálcio. As argilas resultam da decomposição de feldspatos de rochas graníticas, daí resultando os argilominerais. A cidade próxima tem olaria, Cerro Azul, e até o tijolo lá fabricado é fraco, esboroa-se facilmente. A solução perfeita é importar argila de Curitiba, a 100 km, onde é notória a abundância de argilas plásticas. Aqui em Curitiba encontrei uma argila de qualidade excelente, a custo zero, e propus para o poder público municipal de Dr. Ulisses que mobilizasse um caminhão para buscar e deixar à disposição dos interessados. Uma caçamba (10 toneladas aproximadamente) é suficiente para um grupo trabalhar por mais de 5 anos.
Por isso, modelar panelas e vasos foi um desafio, tanto na modelagem direta quanto no método de rolinhos (cordelado). Outras peças não apresentaram dificuldades.
Já construí mais de 15 fornos artesanais, iguais ao da foto, e sempre venho fazendo pequenas modificações. Este último, com o pior tijolo que já usei, fraco e quebradiço, foi o que melhor funcionou. Num forno a relação entre o volume da câmara interna, a fornalha e a chaminé definem o funcionamento perfeito. A qualidade da lenha não pode ser esquecida. Madeira muito densa faz muita brasa e não dá boa chama, resultando uma queima péssima.
As pessoas não estão organizadas em Dr. Ulisses. Como em toda cidade tem pessoas são carentes e com renda baixíssima. O Desenvolvimento Sustentável é a saída para a nossa população. Temos que levar em conta o Cultural, o Social e o Ambiental para alavancar o auxílio mínimo que o povo precisa. O artesanato é uma forma simples que começa a ajudar as pessoas a buscarem uma renda, tornando-as, ainda, independentes. É claro que o Confúcio precisaria estender mais um pouco seu ditado. Ensinar a pescar hoje é insuficiente, precisamos ensinar a vender o peixe.
Aproveitei para interagir com os participantes do curso, propondo troca de plantas, mudas de orquídeas, íris, moréias, flores de maio, sementes, etc., por frutas, outras plantas. Vai daí que voltei do curso com cestada de ponkans, mandioca, flores...

Quando cheguei em casa ainda pude ver sanhaços devorando os últimos caquis da temporada.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

CERÂMICA ARTESANAL-LAPA - QUEIMA







Retornei a Lapa-PR, nos Alves, nos dias 26 a 29 de maio-2008, para completar o curso de Cerâmica Básica, promovido pelo Senar-PR, do qual sou instrutor. Nesta segunda etapa, que são mais 4 dias, as pessoas já estão familiarizadas com a cerâmica e o progresso individual, e em grupo, é evidente pela qualidade das peças. Por exemplo, cada participante que modelava uma panela, denominava aquela panela pela letra do seu nome e o número que indicava quantas panelas já havia modelado. Na terceira, p-3, a qualidade já era outra. É muito gratificante verificar que as pessoas realmente interessadas progridem rapidamente. Começaram a surgir figuras de santos, o que é muito procurado uma vez que na Lapa o turismo existe tanto pela cidade que é uma das mais antigas do Paraná, como pela perigrinação à caverna do Monge Zé Maria. E os peregrinos e turistas interessam-se por esculturas de santos e panelas, principalmente. Quanto às panelas, cabe ressaltar que estando em baixa o uso de panelas de alumínio (estudos mostram os danos à saúde causado pelas panelas e formas de alumínio, principalmente as bem areadas), e devido ao alto custo das de inox, a alternativa de uso de panelas de barro está em alta.




Nesta segunda etapa o principal enfoque foi a queima das peças no forno construído na primeira etapa. Fizemos uma queima de 8horas e meia. A qualidade das peças retiradas estava perfeita. A queima foi muito boa. A lenha estava bem seca e era constituída principalmente pela chamada vassourinha, que queima com muito fogo e pouca brasa. Ou seja, as melhores lenhas são as mais leves, menos densas. A melhor de todas é o eucalipto, cortado no tamanho da fornalha, mais ou menos 1,60m, em galhos finos ou da grossura de 5 cm de diâmetro, aproximadamente. O eucalipto dá um fogo parelho, intenso, até consumir-se totalmente.




Queimamos também as placas testes dos diversos tipos de argilas que coletamos nas cercanias, da massa de tijolo que obtivemos na olaria local, da massa que compusemos para confeccionar o nosso artesanato. Foi muito interessante! Todos comprovaram a eficácia do nosso método de confecção de massa para cerâmica. De cada amostra fizemos duas placas. Uma delas deixamos no arquivo para comparações futuras e a outra cada participante experimentou quebrar pedaços para comprovar a resistência à flexão. Como massa cerâmica que compusemos sobrepujou em resistência a massa da olaria concluímos qual seria a solução para que os tijolos tivessem uma melhor qualidade. Quando o interessado compreende a necessidade de ter-se uma massa com argila plástica (maios ou menos 70%) e o restante com argila anti-plástica, adicionando, ainda, chamote de tijolo e areia fina para completar a formulação, os resultados afloram.




As pessoas, depois da queima e visualização do resultado, começaram realmente a acreditar nas possibilidades da cerâmica. A transformação de um barro escuro num produto queimado, resistente, vermelho (a maoria deles) tem este lado de agradar e encantar as pessoas, levando-as para a continuação do trabalho. Com isso, o objetivo do curso completa-se, sendo vantajoso para todos. Vejam que nenhum dos participantes tivera contacto anterior com a modelagem cerâmica.




Nos Alves, a Associação dos produtores em cuja sede ministrei o curso está muito forte, organizada. As pessoas estão interessadas em trabalhar, conseguir transformar seu trabalho em dinheiro de forma digna e independente. A sede é própria, possuem carro (kombi), a cozinha está praticamente montada e agora estão aproveitando todos os cursos que interessam ministrados pelo Senar e Emater.




Sempre que ministro um curso no interior, olho ao redor para ver como as pessoas vivem, o que existe alí em termos de natureza, história, meio ambiente, etc. Nesta região da Lapa, nos Alves foi interessante saber que foi um território de caça muito procurado pelos nossos índios, infelizmente dizimados pela nossa civilização. Restaram pontas de flexas, afiadores de pedra, pedras de machados, almofarizes e pilões de pedra, que é comum as pessoas terem em suas casas, achadas nas roças ou quintais. Pude ver e admirar uma amostra de todos estes que citei.



domingo, 25 de maio de 2008

QUEIMA DE ALTA TEMPERATURA-GÁS-1270oC


Esta semana fiz alguns testes de vidrados e teste do próprio forno de alta temperatura. O forno é artesanal, confeccionado com tijolos isolantes, em formato de cilindro. As dimensões internas são de 58 cm de diâmetro por 90 cm de altura, de volume útil. Este forno utiliza os cálculos de abertura para entrada de gás e saída segundo as formulações ensinadas pelo Chiti (J.H.Chiti, Instituto Condorhuasi-Buenos Aires) em seus livros e cursos. As queimas podem ser feitas com um ou dois maçaricos, dependendo as potências deles, o resultado sempre é bom. A curva de queima pode ser feita de acordo com a vontade do ceramista. No meu caso, estou fazendo uma queima em 4 horas, com patamar de 20 minutos a 1263 graus centígrados, cone 8. Esta queima eu controlo com relógio digital e também com cones. Estes últimos usarei sempre que quiser uma queima diferenciada, já que o relógio digital, apesar das diferenças que sempre encontramos, repete igualmente os valores e assim podemos padronizar até a possível diferença de temperatura. É claro que este é um forno artesanal, cujo custo, comparado com um forno comercial de alta Temperatura, está em torno de 50% do preço deste último (para forno a gás, se for comparadado com elétrico não ultrapassa 30%).

O comportamento do forno é muito bom, estou satisfeito com ele. Já fiz queima rápida em 2horas e meia, até 1263 graus centígrados. O forno bem calculado permite variações de tempo de queima, simplificando a vida do ceramista.

Nesta semana pesquisei vidrados de cinza. Parti das formulações de Bernard Leach (El Libro del Ceramista), da Jacy Takai (São Paulo - fórmulas apresentadas como resultados de suas pesquisas no Congresso de Cerâmica de Curitiba, 2006), usando as fórmulas limites para vidrados de cinza de Rhodes (Vidriados Ceramicos - Matthes), fórmulas do Chiti (de algum dos seus inúmeros libros) e, também, usando minha experiência pelas composições químicas médias das cinzas e dos produtos adicionados. O esquema de pesquisa sempre é o mesmo. Faço as formulações, depois testo juntamento com as matérias primas, para ver o comportamento geral.

Com o resultado obtido altero a formulação pelo que mais me interessar. Vidrado fosco, brilhante, áspero, rugoso, combinação heterodóxica de matérias primas, etc.

O vidrado do vaso que aparece na foto é uma mistura de vidrado de cinza com vidrado da formulação básica do Hamada para grês.

As pastas que estou utilizando também são produzidas artesanalmente. Uso argilas aqui da região, caulim, chamote refratário, talco, argilas de barranco para coloração diferente.

O trabalho de torno também é meu, usando u m torno artesanal.

Concluindo, a pasta, o torneado, o forno, o torno, os vidrados, tudo confeccionado em casa, de forma artesanal, com resultado que cada vez tem me agradado mais. O mais interessante é o resultado diferenciado que podemos obter, o amplo campo de pesquisa que temos pela frente, uma brincadeira fantástica, envolvente e que pretendo transformar em grana, que ninguém é de ferro...

sábado, 17 de maio de 2008

CURSO DE CERÂMICA ARTESANAL LAPA-PR


Estou ministrando um curso de cerâmica Artesanal na cidade de Lapa - PR, num bairro chamado "Os Alves". Este curso é realizado em duas etapas. Na primeira delas ensino as técnicas básicas e depois de 15 dias finalizo com o acabamento das peças e queima das mesmas. Este curso é patrocinado pelo Senar-PR que entra em contacto com os sindicados das cidades e localiza a demanda.




Não é apenas um curso de técnicas básicas. Começa por identificar, no próprio local onde o curso é realizado, a existência de argilas plásticas que possam ser usadas como matéria-prima de massa cerâmica. O principal é encontrar uma argila plástica que compoe 70% da massa que será usada para modelagem. Evidentemente que se na localidade existe uma olaria, a coisa fica mais fácil e uma orientação sobre composição de massas é suficiente, mas, mesmo assim, aproveito para compor diversas massas, fazer as placas testes e depois queimar, para apreciar o resultado e tirar conclusões. As argilas de barranco, de colorações diferentes também são usadas como engobe, e, algumas incorporadas na própria massa para enriquecer a decoração e como conhecimento do comportamento do material que encontramos ao nosso redor. Evidentemente que isso não representa dano ambiental, já que o consumo, por poucas pessoas, no caso 11, é mínimo. O Senar-PR também fornece um manual, do qual eu sou o autor, com 70 páginas, ilustrado, para facilitar o aprendizado e para que cada aluno tenha seu próprio material bibliográfico, tanto de acompanhamento das aulas, como para uso posterior. Depois de encontrar a argila plástica, procuro uma anti-plástica para completar a composição e dar qualidade à massa. Começo sempre com 70% de argila plástica e 30% de argila anti-plástica. Normalmente uso os termos argila gorda para a plástica e magra para a anti-plástica.


De posse de uma massa modelável ensino as técnicas de amassado e depois as técnicas cerâmicas propriamente ditas. Modelado livre, esticamento de placas, colagem, rolinhos (cordelado), etc. Aproveito para ensinar a confeccionar ferramentas de madeira e, também, de arames (estecas). No terceiro dia construo, com a ajuda de todos, um forno cerâmico artesanal para a queima. Ele tem as dimensões internas de aproximadamente 80cm x 80 cm x 80 cm. O tamanho é em função dos tijolos de dois furos disponíveis, aproximadamente 400 unidades. Podem ser, também, tijolos de seis furos, refratários, qualquer um. O forno é projetado para atingir a faixa dos 800 graus centígrados.


É comum o rejunte dos tijolos ser amassado com os pés o que transforma a aula num exercício alegre de cooperação.


A maioria dos alunos são mulheres e elas tem sempre uma grande atração por modelar panelas e fôrmas que imediatamente possam ser usadas em casa. Mas, saboneteiras, cinzeiros (em desuso), vasos, quadros para paredes, peças figurativas ((bibelôs e esculturas), inclusive apitos do tipo ocarina em formatos diversos (aves, peixes,etc), são confeccionados com muito garra de aprendizado.


Esta primeira etapa do curso aconteceu nesta semana, de 13 a 16 de maio. O retorno será de 26 a 29 deste mesmo mês.


Há uma enorme carência, em nossa área rual, de aprendizado e as pessoas estão muito disponíveis para encontrar meios que possam reforçar o orçamento familiar. Não dá para esquecer que 80% da população brasileira está nas cidades e o campo vive um isolamento reforçado pelas propagandas de consumo que nada tem a ver com a vida rural. Esta é muito mais simples, mas a juventude com dificuldades de estudar e atrapalhadas pela violenta máquina de propaganda da artificial vida citadina fica louca prá se mandar do campo e engrossar o contingente de pessoas que vivem à margem da sociedade, pois encontra um imenso atrapalho para inserir-se numa vida digna e dos benefícios da duvidosa vantagem do nosso tão propalado desenvolvimento tecnológico. É evidente que quem vem do campo não tem a menor condição de passar num vestibular em Universidade Federal.


É por isso que encontro muito prazer em ser um vetor de auxílio para a geração de renda, que ajuda a fixar o homem no campo, para pessoas que normalmente são mais simples, porém possuem ainda o velho calor do amor e da solidariedade humana. A eles sou muito grato.




sábado, 10 de maio de 2008

NARCISO VAI AO CONTAF-SAMPA



Sempre é vantajoso ir a qualquer encontro de ceramistas. Pelo contacto com outros profissionais do ramo, para ver como estamos em relação aos outros, para saber se evoluimos, se precisamos evoluir mais rapidamente, se a nossa linha de atuação está boa, como encurtar caminhos, como admirar os trabalhos dos outros, ficar contente com a evolução e o sucesso dos demais, saber que também poderemos lá chegar, que existe espaço para todos. O principal sentimento é o de abertura total para o aprendizado e para a admiração do trabalho alheio. Criticar é fácil, todos os congressos tem problemas, etc. O que fazer para dar força para termos, aqui no Brasil, um amplo acesso a todos aqueles que querem aprender de fato, é a questão. Ao criticar o Contaf, o Caio, o Paschoal, temos que ter em mente que esta crítica precisa ser construtiva, que ela deve ser direcionada para o próximo Contaf, para o sucesso dele, que será o nosso sucesso. É claro que o Chavarria tem muito mais para dar do que conseguimos "extrair". Mas o depoimento da paneleira da Paraíba foi emocionante, assim como o seu trabalho é muito bom, as Oficinas da Flávia são muito consistentes e além disso ela resolve os problemas cerâmicos individuais, fora da oficina, de forma brilhante e desinteressada. O Megume, a Ofra, etc, etc. O somatório é positivo. Precisa melhorar? Sim! O custo é alto para o participante. Passem e-mails para o Caio, façam as sugestões e em 2011 teremos o Contaf sonhado.

domingo, 27 de abril de 2008

NARCISO FALA DE SEU TRABALHO - RAKU


Um ceramista pode escolher entre uma gama enorme de linhas de trabalho. Tem várias a que me dedico. Tenho gostado, ultimamente, de trabalhar com RAKU. Preparo uma massa com aproximadamente 60% de argila plástica da região. A que uso vem do rio Miringuava,afluente do Rio Iguaçu, retirado por empresas que atuam dentro das normas do Instituto Ambiental, na cidade de São José dos Pinhais-PR. Comprei um caminhão desta argila, aproximadamente 15 toneladas, e despejei no meu terreno ao lado do meu ateliê. Possuo matéria prima para muitos anos, já que a minha produção é artesanal. Adiciono aproximadamente 15% de argila anti-plástica que coleto nas cercanias, sempre de colorações diferentes, apenas prefiro aquelas de fina granulometria. Dá para sentir a fina granulometria apertando e esfregando um pouco da amostra entre o polegar e o indicador. O tato analisa e avisa sobre a granulometria. Um corte com pá no barranco também exibe a granulometria. Se brilhar os grãos são finos, já pode ser usado sem peneirar. Uso 15% de talco industrial e , também, 10% a 15% de chamote fino. No seu livro, Bernard Leach diz que também usava na massa de peças que serão usadas para Raku uma argila vermelha da própria região onde morava.
Preparo uns 200 kgs de massa de cada vez. A argila plástica eu quebro em pedaços de 10 a 15 cm de diâmetro, jogo num boião de plástico e deixo coberto com água por uns 10 dias, para hidratar a argila. Aproveito para misturar neste mesmo boião a argila anti-plástica. Após este prazo, jogo fora o excedente de água e passo toda a massa numa maromba (amassadeira). Neste momento é que eu misturo o talco e o chamote, secos, que ajuda a equilibrar a umidade da massa. Marombo duas vezes para homogeneizar a massa e deixo uns 3 dias descansando para melhorar sua trabalhabilidade. Dependendo do trabalho que estou a fim de executar, coloco chamote mais fino ou mais grosso, para efeito de textura.
Esta massa pode ser usada para modelado direto, esticar placas e tornear.
Depois de prontas e secadas as peças, queimo em forno de resistência elétrica a 800 oC, num ciclo de queima de 8 a 9 horas, dependendo da grossura das peças e da carga do forno.
RAKU, TEM MAIS! A queima, a redução, os vidrados, as vivências, os maçaricos, o forno....Aguarde!
A foto é um copper mate num vaso torneado.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Narciso Blogger divulga sua CERÂMICA


Hei, Mundo, estou começando a contar prá vocês o que estou fazendo em Cerâmica. Estou na Região Metropolitana de Curitiba, Estrada da Graciosa, a mais antiga do Paraná. Aqui tenho meu ateliê. Coleto argilas de barranco, escolhendo as colorações e componho massas de baixa, média e alta temperatura. Trabalho com Raku, grês, componho as massas e os vidrados. Só uso massas que eu mesmo fabrico, utilizando as matérias-primas que encontro na região, alguns comprados, é claro. Argilas vermelhas, brancas, caulins, feldspatos, filitos, etc. Construo também fornos de baixa temperatura, 800 graus centígrados, para cerâmica artesanal, para queima com lenha. Também construo fornos de alta, com tijolos isolantes, para 1300 graus centígrados. O forno, este último é cilíndrico nos moldes ensinados pelo Chiti (J.H.Chiti - Argentina), com cálculos da aberturas de entrada, capacidade dos maçaricos (calorias), e abertura de saída. Acabo de voltar da Argentina, onde fiz um curso com Chiti, no Instituto Condorhuasi, sobre massa de porcelana, vermelho sangue de boi e construção de fornos.Tenho também forno de Raku, por mim calculado e construído. Hoje, por exemplo, fiz 3 queimas de Raku, Testei alguns vidrados. Gostei de um azul, com óxido de cobalto, 0,5%, com estanho e caulim, mais vidrado alcalino o resultado é meio leitoso, o azul misturado com branco, achei lindaço. Também torneio vasos principalmente, com massa preparada para a queima correspondente.
Tem mais coisas, mas fica prá depois.....