quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Morretes - PR - Vale do Sol










Ir a Morretes pela Serra do Mar, Estrada da Graciosa, é um prazer imenso. Já cantei anteriormente em prosa e verso. Quando o dia está limpo, céu de brigadeiro, mesmo frio (frase de efeito porque não estou nem aí pro frio, aliás, gosto. Se meu negócio fosse o calor, iria morar mais ao norte, noutro paralelo.) escancaro os olhos para ver o que posso, sempre procurando gralhas azuis, jacutingas, ou outra ave, animal, que possa causar uma surpresa. A primavera já chegou para as aves, que estão naquele saudável movimento de acasalamento. Isso já estou percebendo claramente há poucos dias.
As águas dos rios da serra esquentaram e foi possível tomar delicioso banho na subida, de volta prá casa, já que vou e volto todos os dias, são apenas 60 km de distância, até lá. A altitude média das montanhas, Pico Marumbi, Anhangava, é de 1500m, apenas o Pico Paraná e seus picos adjacentes (Itapiroca, Caratuba, Ferraria, Ciririca) chegam a 1960 metros de altitude, nem todos. Moro na altitude 920 m, mas ao descer a Serra fico lado a lado com estas montanhas que se movimentam contra o horizonte enquanto percorro a trajetória.
Desta vez fui atrás de barro para definir totalmente a questão de matéria prima para a Comunidade Vale do Sol. Na ida, depois de Morretes, a Prefeitura estava arrumando um trecho de estrada, que desbarrancou com a última enchente, e apareceu uma argila amarela de boa consistência e plasticidade, ótima para compor a massa. Depois de queimada revelou-se de um vermelho intenso,muito bonito. Bem, as argilas amarelas, quando queimadas, depois dos 600 graus centígrados, transformam-se na cor vermelha, mais intensa do que as próprias argilas vermelhas. A massa mais plástica consegui num areal, ou seja, num local de extração de areia, onde a argila deve ser descartada. Como aparece na camada inferior da areia, esta matéria prima de qualidade é um problema para o dono do areal. Por isso, consegue-se esta argila de graça, pagando apenas o frete do caminhão para buscar, pois até a carregadeira é disponibilizada pelo dono do areal que não dá o mínimo valor para a argila própria para tijolos, telhas, etc. Para completar a massa, tijolo moído e peneirado, mais areia.
Nesta segunda parte do curso, mais quatro dias, demos o acabamento nas peças modeladas na primeira fase, que já estavam secas e fizemos a queima. A lenha não estava legal, de qualidade ruim, o eucalipto estava verde, tamanho pequeno, menor que o tamanho da fornalha, o que torna a queima meio problemática. O tamanho da lenha deve ter igual ao comprimento da fornalha, para que a queima seja fácil, ou seja, não é preciso jogar a lenha até o final da fornalha, apenas colocar até o final. Como a lenha estava molhada, catamos tudo o que havia nas proximidades para queimar e fomos salvos por varas de bambu muito bem secas, de 1,5 a 2 cm de espessura das paredes e uns 15 cm de diâmetro. A chama de qualidade foi resolvida e finalizamos a queima em 8 horas. Sempre faço o teste com uma peça amarrada num arame e vou controlando o que acontece na queima, desde o momento em que começa a ficar preta de fumaça até o momento em que a temperatura vai queimando a fuligem que aderiu no início da queima. O ciclo, sempre o mesmo, 3 horas de fogo na boca da fornalha, 3 horas entrando na fornalha e somente depois é que o fogo vai entrando no forno, até atingir o final da fornalha, mais duas a três horas. Se ao ser aumentado o fogo alguma peça estoura ( o barulho é amplificado pelo formato do forno), diminui-se o fogo por 15 a 20 minutos e depois reinicia-se o aumento paulatino da intensidade.
Agradecendo pela dedicação de todos, levei o forno de raku e no último dia vitrificamos algumas peças, para alegria e satisfação da turma.Sempre me impressiono com as pessoas que nunca modelaram e , de repente, começam a melhorar rapidamente na qualidade do modelado. Buscam alguma idéia, mas sempre com originalidade procuram expressar-se. Isso é o que realmente dá prazer em ensinar cerâmica. Vale a pena ver o aprendizado e a melhora do trabalho. Ensinei, também a confeccionar ferramentas com arame de aço rígido de várias bitolas, principalmente de 3 tamanhos e três modelos que são as redondas, as quadradas e as de ponta, totalizando nove ferramentas de arame por aluno. Também produzimos algumas ferramentas de madeira. O bambu açu é muito bom, pois por ter uma espessura de uns 2 cm o miolo serve perfeitamente para ferramentas de qualidade. Qualidade? Nota dez!
A foto da paisagem é o Rio Nhundiaquara em Porto de Cima, ao fundo o Pico Marumbi. Algumas peças com vidrado e também o forno à lenha mostrando uma fornada de frango com cebola e batata inglesa.




sábado, 6 de agosto de 2011

ESTUDO PREPARAÇÃO DE MASSAS CERÂMICAS

Estou reunindo pessoas para promover um curso/estudo de produção de massas de alta temperatura. Na região Metropolitana de Curitiba existe muita matéria prima cerâmica. Campo Largo é a cidade da porcelana, mas existem muitas cerâmicas artesanais de faiança e também de cerâmica vermelha. A cidade criou tradição. A influencia das grandes indústrias foram treinando pessoas que foram abrindo suas cerâmicas. A Porcelana Schmidt, Steatita, Bordignon, Polovi, Germer, são conhecidas pelos seus produtos e qualidade.A Incepa, indústria de azulejos, uma das maiores da América do Sul, está instalada em Campo Largo. Tijucas do Sul é um polo produtor de matéria prima cerâmica. Araucária, Rio Branco do Sul, Ponta Grossa (esta fora da Região Metropolitana, mas próximo), também vendem matérias primas.
Por que, então, os ceramistas curitibanos não produzem suas próprias massas. Aqui em Curitiba não temos esta tradição. Não conheço ninguém que produza suas massas aqui em Curitiba (acreditem, eu sou excessão!). NO entanto, eu acho isso muito fácil. Em Cunha todos produzem suas massas. Há 20 anos que eu produzo minhas próprias massas. Basta saber onde encontrar as matérias primas, compor uma massa e testar. Depois partir pro abraço. Toda vez que vou numa pequena cerâmica, ou média, sempre faço a seguinte pergunta (isso para ilustração estatística) : como vocês chegaram nessa massa? A resposta é sempre a mesma. Pesquisamos e fomos nos adequando ao que tínhamos.
Então, fiz a seguinte convocação:

PROGRAMA DE ESTUDOS E PRÁTICA DE CERÂMICA AVANÇADA


I) – O QUE É:

Este programa pretende, através de estudo direcionado, conduzir ao aprendizado no preparo de massas e vidrados artísticos, artesanais, não tóxicos. O estudo divide-se em duas partes. Neste ano de 2011, de agosto a final de novembro, início de dezembro, a primeira parte: confecção de massas e queima. No próximo ano, massas especiais (inserção de materiais e porcelana) e vidrados. Ou seja, o condutor do estudo apresenta o material teórico e prático que passa a ser estudado e, em seguida, testado. O estudo é livre, pode ser redirecionado, conforme consenso. Todavia, é essencialmente prático, a cada encontro, sempre haverá composições de massas e preparo.

II) – O QUE PRETENDE:

Dentro de um prazo aceitável, dar condições aos participantes de entenderem como se compõe uma massa, um vidrado, onde comprar e ter as noções básicas de química e físicas envolvidas no processo cerâmico que permita seguir um caminho individual de pesquisa.. Também serão visitadas as mineradoras onde os materiais são comprados: argilas, várias, feldspatos, caulim, sílica, talco, chamote.

III) - QUAL É O PROGRAMA:

A) – PROGRAMA BÁSICO - AGOSTO A DEZEMBRO:

1) – MASSA – grês e raku (massas que resistem ao choque térmico).
2) - QUEIMA – de alta = à gás. Podendo, se for consenso, construir um forno anagana. Baixa = raku , fogo em forno de baixa temperatura e fogo direto no chão. Queima à gás e de chão, fogo direto, na chácara em Quatro Barras.
B) - PROGRAMA ESPECIAL-PARA PRÓXIMO ANO:

1) – MASSAS DIFERENCIADAS – porcelana e com inserção de materiais
2) - VIDRADOS – sangue de boi, celadon, vidrados de rochas, cinzas.

IV) – QUEM VAI CONDUZIR O PROGRAMA:

O programa de estudo e prática será conduzido pelo ceramista e Engenheiro Químico Gilberto P. Narciso.





V) – AULAS SEMANAIS:

A proposta é de uma aula semanal com duração de 3 a 4 horas.

VI) – CUSTO:

O custo individual é de $ 135,00 mensais, quatro meses, com direito a preparar 40 kgs de massa com argila, feldspato, talco, chamote, sílica, caulim, que serão apresentados no curso. Serão, também, distribuídos Xerox com as partes Teóricas dos assuntos desenvolvidos, com as citações bibliográficas e fornecedores de matérias primas.





CURITIBA, JULHO/2011

Gilberto P. Narciso.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

VALE DO SOL - Litoral Paraná-Agosto/2011




Estou dando aulas de cerâmica em Morretes, no litoral, praticamente, do Paraná. É na comunidade Vale do Sol. Já tinha vindo aqui no ano passado. Neste meio tempo, fui um dia e construí, num esforço conjunto, um forno para assar pães e, também, para carnes, pizzas, etc. Essa construção foi em março deste ano. Fiquei muito feliz em ver que o forno tem sido aproveitado e representa, hoje, uma economia de custo, pois são assados mais 20 pães por semana, fora outros assados. Isso dá um reflexo em economia de gás e facilidade de trabalho. O forno de pão também é construído nos mesmos moldes do forno de cerâmica. Uso, inclusive o mesmo suporte para fazer o arco, a zimbra. Vejam pela foto que o forno de pão tem tudo a ver com o forno de cerâmica. O Negócio é que os dois funcionam super bem. No forno de pão é feito um respiro na parte posterior que pode ser regulado na queima, permitindo um controle de entrada de oxigênio pela frente, dando a circulação desejada. Sabem, um forno tem que funcionar como um carburador de carro, se sair fumaça é porque está faltando ar ou porque tem excesso de combustível, a relação é direta, juntamente com a capacidade do forno. Não adianta colocar mais combustível do que pode suportar o forno. Tem que ser na medida certa e daí regular a entrada de ar.
Nesta comunidade, o trabalho é comunitário, todos agem conjuntamente. Uma turma faz a comida, outra a limpeza, alguns cuidam da horta, etc, todos modelam.
Tenho especial prazer em vir dar aula neste lugar. O trabalho é muito gratificante.Rapaziada esperta, alerta, atenta, pronta para dedicar-se ao que se apresenta. Inclusive, com um comportamento que achei necessário expandir para o resto da humanidade. Na relação entre as pessoas existe sempre um alerta para o exercício da humildade. Tudo muito suave e com jogo de cintura.
Não exerço uma pressão de trabalho. Deixo livre e vou entrando na técnica à medida em que ela se faz necessária. Quando aparece uma dificuldade ela é solucionada com a técnica. Por exemplo, nas esculturas, os braços sempre são um problema, devido à fragilidade própria da cerâmica. Assim, como forma de contornar isso, colocam-se os braços praticamente grudados ao corpo. Quando o problema surge, resolve-se. Assim, também, as demais técnicas, como colar duas partes, cordelados, placas, etc.
O principal é não barrar a velocidade, a vontade de seguir um movimento, é nisso que me apego. Não podo, por causa da técnica, sua necessidade vai se impor com o desenvolvimento do trabalho. Formar um bom clima de camaradagem de mostrar as coisas boas da cerâmica, de seguir os passos milenares desta tecnologia ancestral, é o mais importante, acho.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

MASSAS E ARQUEOLOGIA





Passei o mes de julho estudando formulações e testando massas para uso culinário. Massas de alta temperatura, ou seja , acima de 1200 graus centígrados. Grês. Ainda não terminei. Depois de preparar várias formulações com os materiais disponíveis, estou testando no fogão e forno. Massas de baixa temperatura, as panelas e formas para assar, são mais simples e arqueologicamente falando, são bem conhecidas. São usadas há milênios. Nas formulações de nossos antepassados indígenas os antiplásticos mais conhecidos ainda são muito usados. Por exemplo, o cariapé, que vem a ser a casca de uma árvore com alto conteúdo de sílica. Era usado na forma de cinzas e, também, como carvão moído. A diferença entre os dois está no fato de que as cinzas são compostas de óxidos ( de sódio, potássio, magnésio, ferro, silício, principalmente) e o carvão possui alto teor de matéria orgânica. Este último, após queimar, a peça cerâmica ficará com espaços vazios, dando porosidade à peça. Esta porosidade ajuda na resistência ao choque térmico. A areia grossa também foi muito usada na cerâmica arqueológica, assim como pedaços de cerâmica já queimada, moídos e peneirados. Basicamente são estes três os antiplásticos da cerâmica arqueológica e que ainda podemos dispor de forma fácil.
Já na cerâmica de alta temperatura fica diferente e precisamos pesquisar outros materiais, é isso que estou fazendo e, ainda pesquisando os fornecedores das matéria primas que posso usar.
Neste mês de julho pude participar, durante um dia, de uma equipe da Universidade Federal do Paraná que foi fazer escavação num sambaqui na Baía de Antonina, no Paraná. A belíssima baía de Paranaguá, da qual faz parte a baía de Antonina, é um dos lugares mais bonitos do Paraná. Neste nosso Estado temos as Cataratas do Iguaçu, Vila Velha, Canion do Guartelá (não vamos esquecer nunca de que as Sete Quedas foram inundadas e continua sendo uma beleza inigualável na nossa memória). A Baía de Paranaguá é outra beleza natural, mega espetáculo, gigantesca. O Sambaqui está situado, como quase todo sambaqui, num local de grande beleza cênica. Esta atividade de escavação durou quinze dias e foram encontrados vários artefatos, cacos de cerâmica e, inclusive, esqueletos. O que aconteceu, realmente, metodologia, etc.etc.será publicado pela Universidade Federal do Paraná, acredito, oportunamente.