sábado, 28 de junho de 2008

CERÂMICA BÁSICA EM DR ULISSES-PR











Mais um curso de cerâmica Artesanal, pelo Senar-PR. Desta vez em Dr.Ulisses, no Paraná. Lugar difícil de conseguir-se uma argila plástica para compor uma massa. Através de contato com o Mineropar, os técnicos fizeram uma análise de amostras de diversas argilas e encontrou-se uma argila com índice de plasticidade 28. Em todos os livros de cerâmica descreve-se o método de como verificar-se a plasticidade de uma argila fazendo o tradicional anel. Pega-se a amostra, amassa-se um pouco, faz-se um rolinho e coloca-se ao redor do dedo. Se não rachar é plástica. Já um laboratório, como é o caso do Mineropar, segue um teste científico. O índice de plasticidade é obtido seguindo técnicas internacionais consagradas. Então, o índice de plasticidade é a diferença entre o Limite de Liquidez (quantidade de água que a amostra pode ser misturada sem virar líquida) e o Limite de Plasticidade (quantidade de água mínima que permite a trabalhabilidade da argila). O que é muito bom e que dá segurança é o fato de que as amostras que no curso consideramos como melhores para o modelado, também o foram pelo Mineropar. Ou seja, o simples teste do rolinho é muito bom e garantido. É claro que depois vem a composição da massa, sempre naquela base de 70% de argila plástica e 30% de argila anti-plástica. Esta proporção é modificada até chegar-se a uma massa de boa trabalhabilidade.
As argilas daqui parecem meio fofas. Não tenho acesso à análise mineralógica, para comprovar a composição das argilas e saber o que ela apresenta na sua constituição para ser tão fofa ao tato. O fato é que mesmo a melhor massa não possuía boa resistência após a queima. Aqui tem ocorrência de mármore, que é um carbonato de cálcio. As argilas resultam da decomposição de feldspatos de rochas graníticas, daí resultando os argilominerais. A cidade próxima tem olaria, Cerro Azul, e até o tijolo lá fabricado é fraco, esboroa-se facilmente. A solução perfeita é importar argila de Curitiba, a 100 km, onde é notória a abundância de argilas plásticas. Aqui em Curitiba encontrei uma argila de qualidade excelente, a custo zero, e propus para o poder público municipal de Dr. Ulisses que mobilizasse um caminhão para buscar e deixar à disposição dos interessados. Uma caçamba (10 toneladas aproximadamente) é suficiente para um grupo trabalhar por mais de 5 anos.
Por isso, modelar panelas e vasos foi um desafio, tanto na modelagem direta quanto no método de rolinhos (cordelado). Outras peças não apresentaram dificuldades.
Já construí mais de 15 fornos artesanais, iguais ao da foto, e sempre venho fazendo pequenas modificações. Este último, com o pior tijolo que já usei, fraco e quebradiço, foi o que melhor funcionou. Num forno a relação entre o volume da câmara interna, a fornalha e a chaminé definem o funcionamento perfeito. A qualidade da lenha não pode ser esquecida. Madeira muito densa faz muita brasa e não dá boa chama, resultando uma queima péssima.
As pessoas não estão organizadas em Dr. Ulisses. Como em toda cidade tem pessoas são carentes e com renda baixíssima. O Desenvolvimento Sustentável é a saída para a nossa população. Temos que levar em conta o Cultural, o Social e o Ambiental para alavancar o auxílio mínimo que o povo precisa. O artesanato é uma forma simples que começa a ajudar as pessoas a buscarem uma renda, tornando-as, ainda, independentes. É claro que o Confúcio precisaria estender mais um pouco seu ditado. Ensinar a pescar hoje é insuficiente, precisamos ensinar a vender o peixe.
Aproveitei para interagir com os participantes do curso, propondo troca de plantas, mudas de orquídeas, íris, moréias, flores de maio, sementes, etc., por frutas, outras plantas. Vai daí que voltei do curso com cestada de ponkans, mandioca, flores...

Quando cheguei em casa ainda pude ver sanhaços devorando os últimos caquis da temporada.

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