quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

VIVENCIA DE RAKU 12/12


No dia 12 deste mes aconteceu a ultima Vivencia de Raku do ano. Voltam as velhas praticas cada vez mais maceteadas, simplificando para que todos aproveitem em sua totalidade. A Vivência sempre tem algo mais, pois permite um entrosamento descompromissado com as pessoas e o trabalho é lúdico. Não existe uma obrigação de obter um resultado que seja fantástico, embora seja procurado. Perder o medo de errar é importante. Não ter medo do ridículo, ou seja, entregar-se à experiência sem se importar se o resultado não será apreciado pelos demais, mas, sim, encontrar uma forma gostosa de entregar-se a um momento, com intensidade. Os resultados simples quase sempre são os melhores. Normalmente as pessoas querem empanturrar a superfície de vidrado e, depois, o resultado não fica aquelas coisas. Eu, particularmente, gosto do gestual, do vidrado sendo passado em movimento. Isso é o que procuro é o que me interessa. Estou sempre atrás de um movimento que considero adaptar-se perfeitamente à peça. ESta tem que ser analisada em sua totalidade e buscar o vidrado que nela se encaixa. Depois, estudar o gesto, o movimento que, rapidamente, vai dar a cobertura que combinará com a forma. Ainda tem a cor que melhor vai realçar as qualidades das peças. Tenho procurado em pesquisas bibliográficas muitas formulações de vidrados para Raku, mas acho que a pesquisa tem que ser individual, pela compreensão dos vidrados e, então, inventar uma formulação que seja inusitada, que surpreenda. Os óxidos corantes mais usados são o cobalto, o cromo, o ferro e o cobre. O cobre, sim, pela sua coloração verde ou azulada, dependendo do vidrado, se é alcalino ou plumbico, e, ainda, com a imersão em serragem, reduzindo o oxido de cobre à sua forma metálica, sempre chama mais a atenção. Quando o efeito mescla as duas cores, o verde e o cobre, as peças combinadas com o preto da serragem, sempre é muito bom. Mas o efeito lambido, certinho não é o meu caminho. Procuro o rustico, a "simplicidade elegante", conceito zen que é a própria definição do Raku. Ainda sobre os vidrados, acho que o ceramista que está interessado em aprender deve começar por entender como funcionam os vidrados. Quais são os fundentes, o que é o vidrado propriamente dito (sílica, borax, vidrados alcalinos de sódio), e o feldspato como agente que controla a massa vítrea para que seja melhor distribuida num espaço de temperatura maior. É preciso, então, estudar um pouco sobre as formulações de Seger, ou seja, os grupos, alcalino, neutro e o ácido. Daí poder ficar mais fácil inventar formulações que sejam inéditas e que caracterizem de forma única o trabalho individual. Pode-se trabalhar com o borax, colemanita em vidrados borácicos. Também o Carbonato de sódio para formulações azuis belíssimas conhecidas milenarmente. Depois com o transparente alcalino ou plumbico vendido em lojas de cerâmica pode muito bem ser usado com os óxidos corantes. Não gosto do plumbico porque em redução fica meio cinza e perde muito a qualidade transparente. Para opacificar pode ser usado o óxido de estanho a 14%. Depois, só experimentar.
A Vivência tem, ainda, uma outra parte, que fica ao encargo da Beatriz, a chef que aparece na fotografia. Vestida à caráter ela é a responsável pelo almoço e pelo lanche de encerramento. Com seu amplo conhecimento culinário ela agrada a todos com seus preparados deleciosos, com o olhar na saúde, usando o que tem de melhor para alimentar bem o corpo e o espírito.
Para completar a Vivência, o espaço onde ela ocorre é muito agradável. É numa chácara e que tem 50% de área de preservação. O enfoque é Natureza = flores, frutas, árvores. Com isso tudo, as Vivências sempre acontecem num clima de congraçamento num alto astral e os resultados são muito gratificantes.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CERÂMICA, NATUREZA, PRIMAVERA





A primavera sempre renova a vida. Os ciclos retornam trazendo novo alento. Aqui na minha casa, um casal de baitacas (periquitos da região) fez um ninho no beiral da casa. Repetiram o feito do no ano anterior, quando, para alimentar eles próprios e seus filhotes, acabaram, litaralmente, com a produção de peras de uma pereira que fica encostada à casa. Neste ano apareceu um mamífero pequeno que entrou pelo telhado e destruiu o ninho. Escutei o barulho, à noite, nas nada pude fazer. Meu medo era de que o casal de baitacas tivesse sido comido pelo mamífero, o qual, a princípio, julguei que fosse um gambá. Depois, aliviado, descobri que o casal sobrevivera, mas o ninho, não e eles sumiram dois dias depois da tragédia. Dei caça ao mamífero, pois além das baitacas, tem outros três ninhos de andorinhas, dois de corruíras que vivem no entorno da casa: telhado e paredes. Era um ratão, coisa rara por aqui, pois quase somente aparecem camundongos, que é comum nas matas. Quem deu fim ao ratão foram os cachorros, pois numa manhã ele estava no terreno, já acabado. Conferi os ninhos de andorinhas e corruíras, todos intactos. As baitacas acabavam com as minhas peras (o que considerava até uma vantagem por apreciar o desenvolvimento da família de psitacídeos). O ratão acabou com o ninho, os cachorros acabaram com o ratão. Tudo voltou ao normal. O ciclo repete-se e a vida continua.
Hoje está uma manhã de neblina que envolve a Serra do Mar. No vale onde corre o riozinho que atravessa o meu terreno está levantando um fio de evaporação. O dia está entrando suave, cálido, a natureza, na primavera, resplandece (... apenas raia, sanguinea e fresca, a madrugada... o velho Raimundo Correia). Eu me sinto agraciado por estar com paz de espírito para contemplar, ainda, a Natureza. Aproveito e vou tomar um banho no rio, faço um exercicio de alongamento, seguido de uma prática de Tai Chi Chuan, para me sentir mais integrado ao ambiente.
Depois dessa introdução o dia comum começa. Tomo um café e vou ao meu ateliê dar sequencia à minha atividade cerâmica.
Não posso deixar de ser influenciado, no meu trabalho, por esta manhã. Pelo dia de ontem, também, assim como pelos anteriores. Meu trabalho é o reflexo disso tudo. Não posso desvincular minha vida, meu trabalho, de toda a trama que me envolve neste breve intervalo de tempo que estou de passagem pelo planeta Terra.
É a Cerâmica que escolhi para trabalhar, passar o tempo, desenvolver-me espiritual e profissionalmente. Não é o único campo de interesse, mas foi o que defini como sendo aquele em que poderia me divertir, trabalhar, evoluir e, ainda, sentir-me feliz, na prática profissional. Trabalhar a terra, modelar o barro, transformar pelo fogo. A Arte não tem fim, limite, isso é o mais interessante, não tem linha de chegada. Tem objetivos, metas, mas o caminho é cheio de variantes que permitem adaptações, caminhando no rumo do que nos atrai. No campo da Cerâmica, estou interessado em tudo. Primeiramente no estudo de massas cerâmicas. As massas podem ser de baixa, alta temperatura, massa para utilitários, Raku, terracota. Na cerâmica de alta o grês, realmnte é o que gosto mais. Além das massas, tem o tipo de queima. Queima rápida, elétrica, à gás, à lenha, redutora, oxidante, neutra. Nisso tudo estou interessado. Depois de encontrar o tipo de massa, a maneira de queimar, começa o novo campo que é o de vidrados. A composição dos vidrados, o conhecimento dos materiais, seus pontos de fusão, misturas eutéticas, corantes, pigmentos, rochas naturais que podem ser usadas como vidrados, argilas, engobes, etc . Isso é apenas a parte técnica que permite expressar aquilo que estamos procurando, o que estamos querendo mostrar.
Depois disso tudo definido é que começa realmente a longa caminhada para a expressão próprio do indivíduo. Como sou Engenheiro Químico, a primeira parte é mais lógica, de mais fácil acesso, pois a Química Básica, que é o que se usa na cerâmica, tira-se de letra. Como meu campo de interesse é muito amplo, meu trabalho tem que ser laçado e ajuntado para eu construir uma unidade. Nisso que me dedico mais, atualmente, além do estudo da cerâmica propriamente dita. Minha poética, qual é? Sei que estou conectado à natureza, que sofro com a degradação planetária, e que a fraternidade humana é algo que, na prática, não existe. Então, conceito, poética, minha natureza, mais a necessária aplicação para o desenvolvimento do modelado (que é outro departamento enorme), são meus desafios neste momento. Preciso e quero colocar tudo isso no meu trabalho.
As fotos das aves são da minha casa. O caquizeiro, encostado à minha casa, fica lotado de passarinhos, comendo os caquis, à curta distância e eu posso fotografá-los tranquilamente com uma tele 300.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

CERÂMICA BÁSICA - MEU ATELIÊ




De 03 a 06 deste mes comecei um curso de cerâmica Básica no meu ateliê, patrocinado pelo Senar. Pôxa, no meu ateliê é outra história. Tenho todos os materias necessários para ensinar e produzir massas, bem como queimar à gás, lenha ou elétrico. Não é necessário improvisar. Comecei produzinho uma massa para queima em baixa temperatura, para raku e, ao mesmo tempo, serve, também, para confeccionar panelas e formas que vão ao fogo. Coloquei 50% de argila plástica que chamo de padrão pois tenho umas 10 toneladas no meu quintal e que vieram das margens do rio Miringuava, afluente do rio Iguaçu. 20% de uma argila branca, plástica que comprei na Mineração Bassani em S.Luis do Purunã-PR. Para resistir ao choque térmico, adicionei 10% de talco, 10% de chamote de tijolo e 10% de sericita, um quartzo malha 200 que compro numa mineração aqui próxima. São materiais que possuo em abundância e que tem preços baixos. O resultado foi uma massa de 10% de retração de coloração rosada, clara.
A segunda parte do curso aconteceu nos dias 16, 17, 18 e 19. Então, para ampliar a qualidade do curso, produzimos uma massa para 1200 graus centígrados. A composição dessa massa foi assim: 40% da argila padrão acima mencionada, 15% de argila branca da Bassani, mais 15% de argila chocolate da Bassani, 10% de caulim Palmonari, 10% de talco e 10% de quartzo. Esta massa, sem chamote, ficou muito lisa, fina, gostosa de trabalhar, inclusive ao torno. Alguns alunos aproveitaram para treinar a tornear com esta máquina cerâmica de grande utilidade e, também, quase indispensável num ateliê cerâmico. Mesmo a massa com chamote, para raku estava boa de se usar no torno. Isso graças à massa vermelha do rio Miringuava que tem grande firmeza e auto-sustentação em estado cru, quando torneada ou modelada.
Como tenho maromba extrusora e também um torno cerâmico, as coisas fluem facilmente e o resultadio acaba sendo mais qualitativo.
Nesta semana, como as peças secaram, depois de acabadas, foram queimadas em forno elétrico. Aproveitamos para uma queima de Raku, pois as peças da primeira parte do curso, queimadas sem nenhuma perda, em forno elétrico, estavam prontas.
Os vidrados de raku sempre produzo na hora. Colemanita com argila branca ou caulim, com ou sem óxidos colorantes. Uso, também, carbonato de sódio, apesar de ser solúvel, o que dificulta a técnica de pintura, porém funciona como informação básica sobre solubilidade dos vidrados.Ao carbonato de sódio, de alta solubilidade, adiciono argila para formar uma suspensão e, para aumentar o ponto de fusão, sílica, e mais os corantes. Os azuis de carbonato de cobre são os do antigo Egito e tem aquela atração milenar dessa coloração belíssima. No mais, uso uma base alcalina, quase sempre o CMF 096 e adiciono um opacificante, argila e corante cerâmico. Assim, com os óxidos de cromo, cobre, cobalto, ferro e manganês, vou obtendo as colorações básicas dos vidrados. Evito bases plúmbicas porque, em redução, tendem a ficar cinza.
Foi um curso tranquilo. As pessoas trazem um lanche, ou alguma comida preparada. Somando tudo, fica mais harmônico e gostoso. Um bom lanche, ou almoço, garante uma continuação de trabalhos com renovação de ânimos....

domingo, 1 de novembro de 2009

CURSO DE CERÂMICA BÁSICA EM CAMPO MAGRO-PR


A cidade de Campo magro fica na Região Metropolitana de Curitiba. No ano passado dei um curso e construí um forno para queima de biscoito. É o mesmo forno que construo em meus cursos. Este forno apresenta várias qualidades. A primeira é que se presta muito bem para o uso de queima de biscoito cerâmico. Ele também é muito barato, pois pode ser feito com tijolos comuns, dois, quatro, seis furos, tijolos usados, refratários, isolantes, etc. A facilidade de construção é notória. Basta dizer que, num dia de trabalho, com 4 pessoas dá para concluir a obra. Depois de construído, sempre espero uns 10 dias para fazer a primeira queima. Nos meus cursos não dá tempo para fazer a cura do forno. A cura vem a ser a primeira queima para queimar o próprio forno, primeiramente. Senão, a queima já com peças, fica muito mais longa e prejudicada, pois o forno ainda não está completamente seco e queimado. Como o rejunte dos tijolos é feito com massa das argilas que encontro no próprio local onde construo o forno, ele precisa ser queimado para, então, fazer parte do próprio forno.
Quando faço uma queima de biscoito normalmente demoro umas 8 a 9 horas. Dificilmente dá para diminuir esse prazo, a menos que eu carregue na massa areia e chamote. Por isso são notáveis as queimas diretas a céu aberto, de uma hora ou um pouco mais. A qualidade das peças fica um pouco prejudicada nestas queimas rápidas. O resultado da queima de biscoito nestas queimas de forno como aparece na fotografia é de grande qualidade. Claro que a massa tem que ter um componente plástico testado. Ele é que vai dar a resistência à cerâmica. Por isso é que se encontra cerâmica vermelha, ou seja, tijolo de péssima qualidade, porque a mistura da massa não contempla um percentual de argila bem plástica, ou porque carregam no anti-plástico para diminuir o custo, já que o plástico é mais difícil de ser encontrado.
Fiz duas queimas de cerâmica nestes 8 dias de curso em Campo Magro. O forno já estava bem curado. O resultado foi excelente. A trabalho cerâmico estava parada neste local onde retornei, para reativar a vontade de continuar a produzir cerâmica. Estas queimas foram muito bem feitas. O forno está funcionando perfeitamente. Fiquei impressionado com a simplicidade da queima. O consumo de lenha foi muito baixo. Como usam-se galhos finos para as 3 horas finais de queima, e, na região tem muita vassoura (também chamada caparaoca) e eucalipto ( que é a melhor), foi moleza.
O local é o Recanto Nativo, onde a Sandra e o Ozir comandam uma propriedade Agroecológica. Eles são uma espécie de alavanca para impulsionar uma série de atividades que envolvem a agricultura orgânica e o desenvolvimento artesanal da região.
É difícil, às vezes, conseguir-se com que as pessoas se envolvam num trabalho novo, como é a cerâmica. Mas com vontade, insistência conseguimos motivar as pessoas para a fabricação inicial de vasos simples para cultivo de suculentas e cactáceas, como uma forma de agregar valor ao trabalho. Nesta propriedade que tem restaurante e inclusive pousada, vêm muitos turistas e podem ser vendidos estes vasos. Sei muito bem que quando se começa um trabalho artesanal de confecção de vasos simples, com desenvolvimento artístico incipiente, não se pode concorrer com uma olaria que fabrica vasos torneados com torneiros no metiê há quinze anos ou mais, produzindo um enormidade por dia. O preço destes vasos é ridículo de baixo. Então, os vasos confeccionados manualmente tem que ser diferenciados e agregar valores, como é o caso das plantas
"O carpinar é sozinho, a colheita é comum", já dizia o Riobaldo Tatarana.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

VISITA DOS CERAMISTAS DE TIBAGI-PR





Nesta quinta-feira, dia 22 de outubro, recebi a visita da turma de alunos de Cerâmica Básica de Tibagi-PR. Neste começo do ano dei dois cursos nesta cidade, os quais aparecem em reportagens anteriores.
Foi muito interessante esta visita, muito real e emocionante. Emocionante, primeiro, porque trouxeram os vídeos das queimas que fizeram, sozinhos, independentes. Foi muito bom. Para isso é que se presta um curso. O resultado foi excelente, a queima perfeita, todas as peças muito bem queimadas.
A turma uniu-se e conseguiu superar a inércia que impede o desenvolvimento e mandar bala num resultado prá lá de compensador. Vejo que exemplos desta natureza compensam o investimento e não só isso, mostram que, realmente, existe a possibilidade de se desenvolver um trabalho de geração de renda que resulte em independência para as pessoas. A cerâmica é uma atividade muito atrativa e as peças cerâmicas são estimadas por turistas e mesmo pelos os próprios habitantes da cidade. Assim, Tibagi, aqui no Estado do Paraná, com seu enorme potencial turístico que só é comparado a Fóz do Iguaçu, devido às cataratas, por Vila Velha, pela sua formação geológica de rara beleza e pela Serra do Mar em Curitiba,que tem o trajeto de trem atravessando o pouco que resta da Mata Atlântica, pode desenvolver seu comércio de forma concreta e conseguir um retorno imediato, é somente trabalhar.
A visita desta turma no meu ateliê preencheu um dia de muita atividade verbal, gastronônmica, e, também, para entrosar nos outros assuntos que sustentam a vida de cada um. Quero dizer com isso que não é somente o trabalho que aparece nestas situações, mas a vida que a pessoas levam, como elas sobrevivem, quais são os motivos que as direcionam para adiante. Nosso mundo está totalmente virado pelo avesso nas aspirações, pois as propagandas enganosas que se vê por toda parte em out-doors, comerciais televisivos, leros leros furados sobre o que é real nesta vida, tendem a distorcer o objetivo individual e coletivo.
O que pretendo sempre passar nos meus cursos é a possibilidade da pessoa, com seu trabalho cerâmico, tornar-se independente, livre de todas estas pressões de trabalho com horário marcado, não ficar sem trabalhar, mas ser independente, fazer seu horário, poder matar um dia ou outro de trabalho para fazer o que quiser, transferir seu horário de trabalho a seu bel prazer. Isso é muito bom, torna a pessoa melhor, dá essa sensação de liberdade que a gente precisa para encarar o sistema.
Desde que, pela primeira vez, estive na cidade de Tibagi, quando participei de uma Caravana Ambiental pela Secretaria do Meio Ambiente do Paraná, e que fazia pouco tempo que ela, a cidade, tinha recebido o título de A Melhor Cidadezinha do Brasil, eu notei o enorme potencial em termos de desenvolvimento de cursos de geração de renda. É claro que Tibagi já é famosa pelo seu Carnaval, que traz um desenvolvimento artístico muito interessante. Portanto, tem espaço em vários setores: artístico, artesanal, comercial, etc.
Com esta visão de futuro é que estou planejando apresentar para a cidade um projeto mais amplo de cerâmica, que vá além da Cerâmica Básica, de queima apenas do biscoito. Mas começar com um plano completo, treinamento, queima de baixa temperatura, com vidrado, alta temperatura, raku e os vidrados mais simples de cinzas, rochas e ainda com as argilas locais, misturando o que a cidade tem na natureza e sempre com cuidado com o meio ambiente. Ter em mente o objetivo principal que é viver melhor, participar dessa roda da vida do Universo com dignidade, porém com uma noção bem clara de limites para não ultrapassar as marcas do excesso individual em detrimento das gerações futuras.
Senti-me fortemente agradecido a esta turma de Tibagi e também feliz por ver um trabalho gerando frutos positivos.

domingo, 20 de setembro de 2009

PIRAQUARA - RETORNO-Cerâmica Básica




Ao voltar para a segunda etapa de quatro dias do curso de cerâmica Básica que ministro, sempre fico surpreendido como as pessoas evoluem. Quase todas começaram sem terem experiência anterior. Primeiro conhecer uma massa cerâmica e ser iniciado nas técnicas básicas. Então criar a intimidade com o modelado. Aperfeiçoar. Mesmo aqueles que relutam a princípio, acreditando que não tem habilidades, aos poucos vão aprendendendo. Quando alguém começa a sentir-se desassossegado por não conseguir modelar uma forma mais definida, deixo que tente mais um pouco, para sofrear o nervosismo e a angústia de não poder expressar-me como gostaria rapidamente. Normalmente as pessoas que tem pressão alta querem executar uma tarefa em pouco tempo, finalizar em três toques e já partir para uma nova peça. É um desafio. Neste caso, quando vejo que o resultado está indo para um caminho de insatisfação com o curso pela ansiedade de não conseguir resultado satisfatório e que levará possivelmente à desistência, mudo a forma de aprendizado. Recomeço por um modelado com técnica. Assim, para mostrar como modelar um objeto utilitário rápido, com bom resultado, independente de habilidades mais sofisticadas, sugiro recomeçar por algo mais simples, como um porta-sabonete, por exemplo. Ensino a técnica de esticar uma placa com cano de PVC 5cm de diâmetro, com suportes laterais para definir a altura da placa. Depois cato pelas cercanias uma folha que tenha um formato que sirva para uma saboneteira. Então pressiono a folha sobre a placa,com o rolo, ainda usando os suportes lateiras, praticamente enterrando a folha na placa cerâmica. Cuido sempre para que seja uma folha com boas nervuras, mas que a central não seja saliente demais, o que enfraqueceria a saboneteira, pois ultrapassaria a espessura ideal, deixando uma linha mais frágil que facilita uma rachadura. Depois de prensada, faço o recorte e retiro a folha. Então, para dar a forma na folha, coloco-a sobre uma madeira. Começo a elevar as laterais dando o formato à saboneteira e apoio sobre pedaços de jornal amassado para que sequem com o formato desejado. Cuido sempre para que esse formato seja o mais natural possível, dando curvas e graciosidade à saboneteira. Depois de secar o suficiente para que possa auto-sustentar-se, faço os furos para escorrer a água quando estiver funcionando e coloco os pés, quase sempre em número de 4, que fica mais estável. Assim já entra mais duas técnicas, primeiro como esticar uma placa e depois como colar uma peça cerâmica na outra. Sempre que é viável, misturo um pouco de silicato de sódio na cola. Porque o silicato de sódio sendo um desfloculante permite que a cola seja mais consistente. Isto quer dizer que, com menos água, eu faço uma cola que resulta mais eficiente. Depois de seco o acabamento é com lixa e finalmente uma esponja úmida completa a operação. O resultado sempre é bom. A naturalidade de uma folha que se observa na Natureza é o modelo. Assim o olhar começa a se desenvolver, para conseguir sair do modelado manual e entrar no modelado visual. Primeiro as mãos modelam, depois os olhos... Talvez essa seja a parte mais difícil para as pessoas comuns que tentam iniciar uma atividade artística. As mudanças de olhar necessárias vão mexer com o indivídio, seus paradigmas, o valetão do seu cotidiano. Isso incomoda a princípio porque é difícil, mas, depois, vem a satisfação, o prazer de estar aprendendo algo novo.
Neste forno que construí deixei que ele ficasse, por insistência do responsável pelo lugar, diretamente encima do cimento do piso. Normalmente quando acontece o caso de ter de construir um forno em situação semelhante, eu faço uma carreira de tijolos, encho de terra e soco bem. Depois começo a construir o forno. Assim, quando boto fogo no forno fica sobre terra, que é o ideal. Mas desta vez, sobre cimento, como ainda não fiz a queima, por falta de lenha, vamos ver no que vai dar. Possivelmente o cimento vai rachar, mas não passará disso.
Piraquara está encostada na Serra do Mar, uma situação privilegiada em termos de Natureza. Todavia, em menos de 15 anos a população dobrou de 100 para 200 mil habitantes. Isso transtorna qualquer lugar. É impossível comandar e organizar o crescimento com essa avalanche de seres humanos. Por isso Piraquara precisa de uma atenção especial para não detonar a belíssima Serra do Mar, tornando-se mais uma cidade inflacionada como dormitório de uma metrópole, no caso Curitiba. É um pouco triste ver as cidades em pouco tempo crescerem assustadoramente, descontroladamente, e saber que quem paga a conta é qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, dos mais pobres, que vai piorando cada vez mais.

domingo, 6 de setembro de 2009

Cerâmica Básica - Piraquara-PR


Nesta semana iniciei um mcurso de Cerâmica Básica em Piraquara, patrocinado pelo Senar. Novamente, procurando argilas locais para composição de uma massa básica. Primeiro busquei uma argila plástica, depois mesclei com outra anti-plástica e mais um pouco (10 a 20%) de chamote de tijolo. Este chamote de tijolo é simplesmente tijolo moído à marteladas ou pedradas e posteriormente peneirado em malha mais ou menos 20. Esta adição de chamote é essencial para massas desconhecidas. Se bem que junto com a preparação das massas, faço uma placa teste e depois vejo o resultado. Esta placa teste é para ver a retração de secado e queima, bem como entornamento e resistência à quebra (flexão). O chamote ajuda na secagem, no entortamente, e o resultado ainda pode ser melhor até em resistência. O chamote e um pouco de areia fina, de rio, 5 a 10%, melhoram as massas que uso para confeccionar panelas. Peneiro e malha 20 - 25 estes materiais anti-plásticos. Até porque peneiras com estas malhas podem ser encontradas em casas de materiais de construção. As panelas para poderem resistir ao choque térmico precisam do chamote e da areia. É claro que a adição de 15 a 20% de talco (Silicato de Magnésio) é o que dá o melhor resultado. O talco é o produto por excelência para resistência ao choque térmico.
Ensino também as técnicas básicas para produção cerâmica: placas, rolinhos, modelado livre, como colar a cerâmica,etc. Todavia, quase nunco sigo uma norma rígida para as aulas. Vou vendo o estágio e grau de interesse de cada um e dando uma assistência direta, individual e quando surge algo que aos demais tem valor, repasso para todos no mesmo momento. Depois de alguns anos dando aulas descobre-se um método especial particular e que satisfaz ao educador, acredito. Penso que cada pessoa tem sua forma de melhor se expressar e isso dá resultados mais concretos quando se encontra este caminho.
O forno artesanal que inventei baseado em modelos que pesquisei tanto em literatura quando na prática nas cercanias de Curitiba, principalmente, tem funcionado perfeitamente. Algumas melhorias fui implementando ao longo das construçõs e hoje, quando já construí mais de 20, posso responder com certeza de que ele tem um bom funcionamento e é baratíssimo. Podem ser de tijolos comuns de 2, 4, 6 furos, maciços, refratários, isolantes. Com todos eles já construí. Todos funcionam. Vou adaptando para o tipo de tijolo que se encontra na região ou na cidade em que vou construir o forno.Sigo um modelo de volume interno de mais ou menos um cubo, com tiragem direta. O arco romano para a abóboda é muito simples e a zimbra (armação para construir o arco) é muito fácil de ser feita. Como melhorias, que fui aprendendo ao longo do tempo, a primeira delas foi uma abertura na parte posterior do forno, junto ao chão, que funciona como uma entrada de ar, no pique final de queima das peças, pois alí este ar complementar é fundamental para uma boa combustão. Outra que achei excelente foi transformar os burados dos tijolos do arco da fornalha como entrada de ar. Eu não coloco massa tapando os buracos, mas deixo-os livres e quando a cinza vai acumulando devido ao tempo de queima ( 9 horas normalmente), esta entrada é valiosa. Além disso, costumo colocar, como última camada de revestimento, a mesma massa que uso para rejunte que é de 50% de argila plástica e 50% de anti-plástica, complementada com uns 30% de areia de rio, peneirada em malha 20. Depois, finalizo colocando capim junto com esta última camada. O capim serve para estruturar e impede as rachaduras. Todavia, se elas aparecerem, pode-se fazer o conserto completando com masssa essas rachaduras que porventura aparecerem.
No mais, é uma mão-de-obra, em apenas 4 dias buscar argila, compor uma massa, ensinar as técnicas básicas e ainda construir um forno. O tempo é escasso. O que vale é o interesse das pessoas e se o aprendizado está valendo para alguma coisa e não apenas umas pelotas de barro apertadas e alisadas para matar o tempo. O que compensa, realmente, é o aproveitamento do curso, não o que se ganha financeiramente. Daqui a uma semana voltarei para completar o curso com a queima e aperfeiçoamento das técnicas.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

VIVÊNCIA PORANGABA - RAKU






VIVÊNCIA PORANGABA
RAKU E COPPER MATE


ESTOU CONVIDANDO VOCÊ PARA UMA VIVÊNCIA/OFICINA DE RAKU, NO MEU ATELIÊ DE CERÂMICA, NO SÁBADO, DIA 19 de setembro DE 2009.

O QUE É A VIVÊNCIA PORANGABA?
É um acontecimento cerâmico, prático, que acontece no Sítio Porangaba, em Quatro Barras, num ateliê cercado pela Natureza. Serão 3 queimas de peças cerâmicas usando a técnica de Raku. O Raku tem sido traduzido como Simplicidade, Facilidade, até Felicidade. Não exige conhecimento cerâmico anterior. A Vivência começa às 9 horas da manhã. O almoço será servido ao meio dia, com enfoque Naturalista e opção para vegetarianos. Às 17 horas será serviço um lanche de encerramento.

COMO ACONTECE?
Cada participante recebe 3 peças (pode levar alguma peça própria, desde que não seja muito grande), previamente biscoitadas, as quais eu mesmo torneei e biscoitei. Apresento uma série de vidrados, alguns prontos e outros que serão preparados na hora. Cada um decora com vidrado suas peças, uma por vez, que em seguida é queimada. Com os resultados obtidos, vamos para a segunda queima e depois para a terceira. A cada queima o participante aprimora seus resultados.
CUSTO POR PESSOA
O valor individual é de R$ 120,00, a ser pago no dia da oficina.

CONFIRMAÇÃO:
A presença deverá ser confirmada até dia 16 de setembro, uma semana antes do evento. O número máximo de participantes é de 13 pessoas.
Quem quiser participar deverá inscrever-se pelo telefone 41.91452884 ou pelo e-mail= gpnarciso@hotmail.com . Nesta ocasião será fornecido um mapa de acesso.
ENDEREÇO:
Estrada da Graciosa, 6609 – Bairro Campininha – Quatro Barras – PR
GILBERTO NARCISO – Ceramista e Eng. Químico

terça-feira, 28 de julho de 2009

CERÂMICA GUARAQUEÇABA-2a.parte







Retornei a Guaraqueçaba para completar o curso de Cerâmica Básica. São oito dias em duas etapas. Nesta segunda etapa construí o forno artisanal para queima de biscoito, com temperatura maxima entre 800 a 900 graus centígrados. Para efetivar essa construção conto com a ajuda de todos, do contrario não teria sentido até porque é uma atividade super importante a construção e conhecer como se constroi um forno. Principalmente este forno que é feito de tijolos e argila preparada com um antiplástico, sendo que na cobertura final, para suportar melhor as intempéries cubro com uma massa autofraguante. O tempo estava chuvoso nesta segunda etapa. O ultimo dia foi de chuva forte e, com vento sul, frio. Mas eu gosto de frio e de chuva também, não tem mau tempo.
Sempre na segunda etapa do curso eu percebo melhor o que está acontecendo com as pessoas que participam, sua forma de trabalhar, seu grau de conhecimento e qualidade técnica.
Em Guaraqueçaba, como em todas as comunidades que conheci, com excessão da comunidade Quilombola João Surá em Adrianópolis, há um desafio permanente de convívio entre as pessoas em direção a um objetivo comum. É dificil conseguir uma união total entre as pessoas. Mas acho que, no balanço geral a Cooperativa de Guaraqueçaba está caminhando para uma melhoria. Aos poucos alguns trabalhos tem melhorado. A cerâmica está precisando de um acompanhamento técnico em várias setores da cerâmica artesanal. Primeiro porque, sendo uma comunidade isolada, não tem como as pessoas fazerem cursos de aperfeiçoamento facilmente. Precisam vir a Curitiba ou ir a Sampa o que é mais difícil ainda. Para fazer um diagnóstico , quando se tem mais acesso ao conhecimento, torna-se mais fácil. São duas partes: a técnica e a artística. Na parte técnica, por exemplo, formas de gesso para fundição em cerâmica simplificaria muito, trabalho. A serigrafia com trabalhos fotográficos ou mesmo mesmo decolcomanias, vidrados mais baratos, como, por exemplo, de argilas, cinzas, feldspatos, etc. O acabamento é o nó górdio da maioria da cerâmica popular, principalmente quando existe um trabalho a ser desenvolvido e isso, às vezes, demora uma geração. Não dá para enganar o rústico com o mal feito, por isso, o capricho, o acabamento é essencial. Nisso eu vejo que as pessoas estão melhorando. Porém, um investimento com mão de obra qualificada para ajudar a superar etapas simplificaria o resultado.
Na parte artística, precisaria ser feito um amplo estudo das características locais, para desenvolver um artesanato com as impressões da cultura que aí se desenvolveu e a presente. Depois criar esse artesanato, incorporá-lo ao fazer artístico.
Mas a Cooperativa está encontrando seu caminho, indo atrás de verbas que possam ser direcionadas para esses quesitos.
Sempre levo comigo muitos livros, alguns dvds sobre cerâmica que ajudam a compreender o que está ac ontecendo em outros lugares, para que se coloquem todos em pé de igualdade.
Tem talentos, como de resto em toda parte, que podem e estão sendo aproveitados e é um prazer dar aulas onde as pessoas fiquem interessadas e executem trabalhos com vontade e o resultado aparece.
Aparecem na foto umas peças de cerâmica pequenas. São chumbeiros. Chumbeiros são pesos para serem colocados em redes de pesca. Antes da disseminação das chumbadas de chumbo mesmo, tão fáceis de serem adquiridas, os chumbeiros eram confeccionados de cerâmica. Estes das fotos foram modelados por pescadores e cada um tem sua função e sua forma de adaptar na rede para uso. Foi interessante a observação de um filho de pescador, que tinha visto seu pai confeccionar estes chumbeiros e queimá-los em forno artesanal, próprio para a queima cerâmica. Ele, sabendo que na cooperativa estam tendo problemas de entornamento e rachaduras nas peças, perguntou se usavam areia na massa. A areia, como um dos principais anti-plásticos cerâmicos, que ajuda a não rachar, entornar e melhora a secagem, era o material adicionado à argila para compor a massa dos chumbeiros
Na outra foto vemos a Iolanda, artesã de Guaraqueçaba, modelando suas figuras expressivas e já premiadas.
Tenho particular carinho pela Cooperativa de Guaraqueçaba, pelas pessoas, e me esforço para repassar tudo o que conheço de forma honesta e sincera.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

CERAMICA BASICA EM GUARAQUECABA-PR




CERÂMICA EM GUARAQUEÇABA



Voltei, depois de alguns anos, a Guaraqueçaba para dar um curso de Cerâmica Básica, na Cooperativa dos Artesãos. A sede, à beira mar, é de primeira qualidade, construída pelo Governo do Paraná. Há 5 anos atrás comecei a dar os primeiros cursos de cerâmica que aqui não existia, a não ser em tradição, já perdida. Guaraqueçaba é um município situado dentro da Baía de Paranguá, na parte norte. É um dos municípios mais antigos do Estado. A tradição cerâmica existiu ha algum tempo atrás, principalmente pela Sinhorinha, conhecida ceramista, da Ilha dos Medeiros. Sobre ela foi feito um video, quando em vida, que corre por aí e eu possuo uma cópia.
Voltando à Cooperativa, estava curioso para saber como desenrolaram os trabalhos dos associados, depois de todo esse tempo e sentia necessidade, inclusive, de saber se tinha gerado frutos permanentes. Alguns ceramistas populares daqui foram premiados nos três últimos Salões de Cerâmica de Curitiba. Neste trabalho de Geração de Renda, com patrocínio do Estado, e agora pelo Senar-PR, nem sempre é compensador. Depois de ir num lugar, dedicar-se, tentar chamar as pessoas para desenvolver um trabalho de independência, se não houver continuidade , acompanhamento durante um tempo mínimo, a idéia morre e a foirça perde o ímpeto.
Guaraqueçaba é uma cidade muito bonita, charmosa, situada num ponto geográfico estratégico da baía de Paranaguá. Sempre gostei daqui. Desde sempre.
Na Cooperativa são desenvolvidos vários trabalhos: cestaria, papéis artesanais, utilitários de Madeira, trabalhos de cestaria e Madeira feito pelos índios guaranis , artesanato com conchas são vendidos na loja. Além da cerâmica, é claro. A cerâmica tem todos os equipamentos necessários para desenvolver uma certâmica de excelência. Forno de alta temperatura, elétrico, maromba extrusora de grande potência, plaqueira, torno cerâmico elétrico, dois tornos de pedal, e um espaço muito grande para uso e abuso.
A cerâmica necessita continuidade. O modelado, o acabamento não se aprende rapidamente. Necessita estudo, aprendizado continuado. Percebo que depois de muitos anos estudando cerâmica, mesmo sendo Engenheiro Químico, ainda encontro tantas coisas a aprender que vejo diversão para resto da vida e ainda deixar incompleto tudo o mais que eu gostaria de aprender.
Vou construir um forno à lenha de baixa temperatura para queima de biscoito, iguais àqueles que construí noutras comunidades e que funciona de forma perfeita. Percebo que a sobrevivência de cooperativados, associados, artesãos, necessita de um aperfeiçoamento constante e uma visao de Mercado, um pouco simples, mas objetiva. Qual é o artesanato que melhor vende? Acredito que a personalidade do ceramista é o que mais conta. Tem que existir o Mercado consumidor, evidentemente, mas aqui tem. Os turistas aqui afluem e é preciso saber o que vai agradá-los e produzir com qualidade. Panelas, cinzeiros, porta guardanapos, vasos, travessas, pequenas esculturas, luminárias, bijuterias, são , basicamente, os produtos.
O que se precisa melhorar e trabalhar bastante é o acabamento, não confundir o rústico com o mal feito é o lema. É nisso que estou batalhando na Cooperativa.
Voltarei daqui a 8 dias para completar o curso.

sábado, 13 de junho de 2009

CERAMICA E MEIO AMBIENTE






Neste final do mês de maio e começo de junho, com 3 dias seguidos de geada e a temperatura chegando a menos 4 graus negativos, voltamos a sentir um pouco de frio.
Friozinho passageiro, porque aqui no paralelo 25, hemisfério sul, já foram comuns geadas sucessivas e semanas de frio de congelar a ponta do nariz.
As plantas frutíferas e flores, principalmente, oriundas de regiões mais quentes ficam queimadas pela geada, necessitando proteção do tipo telhado para que não sucumbam. Mas isso é normal e eu deixo que a maioria das plantas que possuo fiquem à mercê do clima. Sempre acho interessante ver a luta travada pela natureza contra as intempéries, que também é a natureza. Quero observar tudo, sentir a natureza, não me importo em ficar com o jardim apresentando aquele aspecto típico de plantas queimadas. Faz parte! Além disso, tem a beleza típica de uma manhã fria, com a geada cobrindo o solo, nas copas das árvores e nos telhados. O sol reafirma seu valor e é suficiente sentarmo-nos em qualquer lugar para que ele nos aqueça. O doce prazer de ficar madornando ao sol. Não quero ficar enfatizando as vissicitudes humanas e enaltecendo as qualidades naturais, feito Thoreau em Walden, mas um pouquinho deixarei registrado. A corrida desbragada do ser humano em busca de suas necessidades básicas de sobrevivência tem deixado todos, quase sem excessão, com o olhar cego para a Natureza. Assim, baseado nesta linha de reflexão que resolvi fixar com mais vagar o meu redor.
Vejam, por exemplo, a beleza que está acontecendo nestes dias com as frutas do caquizeiro que está ao lado da minha casa e que posso contemplá-lo da varanda envidraçada. Como posso deixar passar em branco isso? Quanto não viajaria para contemplar esse momento? O caquizeiro perdeu suas folhas e está lotado de caquis maduros e em estágio final de amadurecimento. O caquizeiro permanece o dia inteiro cheio de aves que vem em busca de alimentação nesta época de poucas frutas nas matas nativas. Considere, também, que o desmatamento tem deixado pouca alimentação de árvores nativas para os animais. Então, uma árvore lotada de caquis e à disposição é um prato cheio. A variedade de aves que aqui aparecem é razoável. Moradores das cercanias contam exageradamente sobre as quantidades e variedades que existia antigamente, "de vergar os galhos de tantos passarinhos". Aproveitei e cliquei com uma nikkon D40X, tele 200 mm, as aves que foram aparecendo e publico algumas para compartilhar com vocês. São baitacas (psitacídeos), sanhaços, saíras, beija-flores, sabiás de todos os naipes (laranjeira, preto, coleira e peito branco), mariquita (uma ave do tamanho de uma corruíra, ou seja, pequena = quem não conhece corruíra?), trinca ferro, até o bem-te-vi, conhecido insetívoro, vem fazer uma boquinha aqui no caquizeiro, pica-pau (também este que tem outra fama alimentar), tico-tico, canarinhos, sete cores, alguns desconhecidos que estou precisando consultar livro de ornitologia para saber seus nomes.
Também foi com surpresa que vi aparecer perto da minha casa, fugido do mato pelas detonações das pedreiras de granito das redondezas, que chamou atenção pelo barulho desesperado que fazia. Era um bugio. Lindo, forte, saudável, mas, notem pela cara que o sentimento que expressa é de tristeza e também de desânimo. Ele está num galho de araucária e ao fundo aparecem os galhos de Pinus iliottis (idiotis), Só esta cena parece justificar a tristeza do bugio, pouca araucária e muito pinus. Aliás, vem bem a tempo a Campanha que está sendo desenvolvida para "NÃO DEIXAR CHEGAR NO ZERO" as nossas matas nativas de Araucária angustifolia. As florestas de araucária que cobriam o Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul estão dizimadas. Aqui no Paraná existe ainda remanescente de matas de araucárias nativas 0,7% (sim, zero vírgula sete porcento). Isso é zero mesmo e ainda querem modificar as leis de mata ciliar e derrubarem o que resta. Por isso a campanha é já na beira da cova e precisamos prestar atenção no nosso Planeta, que o seu prazo está findando.
Assim, pensando na Vida, na Natureza, como algo maior , acima da nossa vidinha diária de sobrevivência foi que dei um tempinho na cerâmica para OLHAR AO MEU REDOR, ficar estarrecido com a beleza natural, e tentar ajudar em alguma coisa pelo nosso Planeta.

terça-feira, 26 de maio de 2009

VOLTANDO A TIBAGI-PR







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Voltei duas semanas de quatro dias para complementar meu curso de Cerâmica Básica em Tibagi. Como o curso é pelo SenarPR, precisava novas 10 pessoas, adultas para viabilizar o meu curso. Aquelas pessoas que fizeram o curso anterior também participaram, porém não todas. Bem, primeiro fiquei feliz por poder retornar a Tibagi e complementar minhas aulas, dar um aperfeiçoamento para aqueles que se interessaram. O afluxo de pessoas foi interessante, apesar da divulgação ter sido aquém do que poderia ter sido feito. Tibagi continua sendo um local de grande potencial para o desenvovimento do artesanato Cerâmico. Tinham ficado pendentes os testes com as argilas locais. Agora que complementei os estudos, juntamente com o que pesquisei do Mineropar, concluí que, realmente, a argila local, para queima a 800 graus centígrados não é boa. A resistência à flexão é mínima. Este teste é feito com placas de 14 cm x 4 cm, com 1 cm de espessura. Pegamos a amostra queimada e quebramos e comparamos com outras argilas queimadas da mesma forma, de procedência externa, por exemplo de Curitiba, a que eu uso no meu ateliê. A minha é resistente, tem boa sonoridade. A de Tibagi é fraca o som é abafado. A retração de queima foi de 9% = boa.
A solução já tinha sugerido anteriormente, comprar argila plástica de outra procedência. Como conhecia a massa de Balsa Nova, que é preparada com 4 argilas e vendida ao preço de 10 centavos o quilo, articulei para que a Prefeitura local, juntamente com o Sindicato Rural de Tibagi, comprassem de Balsa Nova e levassem para o ateliê uma quantidade razoável de massa preparada. Conclusão, conseguimos que se disponibilizassem 6.400 kgs de massa preparada, posta num caminhão da Prefeitura, no terreno da Atiart (associação de artesanato). É uma quantidade prá lá de boa, aliás, nunca tinha visto anteriormente tanta massa pronta disponível para qualquer curso que eu tenha participado. Chegando esta quantidade formidável de massa, todos os participantes da oficina entraram em cooperação para a descarga e arrumação dessa massa cobrindo com plástico para não endurecer. Este estoque poderá durar por 4 ou 5 anos se usada corretamente. Fica a responsabilidade para que os próprios participantes da oficina tomem o controle da situação e distribuam de forma correta para que não se desperdice, mas que sirva como fonte de aprendizado e de renda. Realmente é estimulante poder trabalhar com fartura de massa.
Durante esta nova etapa de curso em Tibagi, fizemos duas queimas no forno artesanal construído anteriormente. Como o forno já tinha sido queimado, estas duas novas queimas foram excelentes. O forno comportou-se perfeitamente e nas duas queimas apenas tivemos uma quebra por estouro, que quando analisada verificou-se que ficara uma bolha de ar no interior da peça, o que ocasionou a detonação.
Visitei o Museu de Tibagi e aproveitei para aprender algo sobre a cidade. Vi, pela primeira vez um seixo rolado de caldeirão. Seixo perfeitamente esférico e fiquei enlevado com a Natureza, sempre me surpreendendo, até nestas cosinhas pequenas. Amostras de diamentes aí garimpados, como também outras pedras preciosas fazem parte do acervo. A cerâmica indígena também está presente, de origem caingangue. Aproveito sempre para salientar a necessidade dos participantes do curso de cerâmica irem observar as peças indígenas cerâmicas, agora com novos olhos. Sob o ponto de vista de quem está modelando cerâmica. Daí pode ser observado a cor da massa, a decoração, a espessura das peças, a qualidade da queima e , principalmente, a qualidade estética e o modelado.É uma redescoberta para todos e uma admiração pela nossa cultura indígena tão desprezada e depreciada.
Tibagi tem Natureza. Observei que administrações anteriores fizeram um parque, no centro da cidade, que tem acesso até o Rio Tibagi. Parece meio abandonado, mas sente-se que foi feito para entrar em contacto com Rio. É uma pena que hoje, com a televisão alugando o dia inteiro as pessoas, poucas aproveitem a beleza natural que Tibagi tem. Pude ver um bando de garças passando a noite numa árvore. Estavam lá de manhãzinha e fotografei. O som das corredeiras tão terapêutico e ancestral é um lenitivo para nossas alma. Desta vez que estive em Tibagi aproveitei para acordar cedinho e caminhar pela cidade e observar como ela acorda, as pessoas indo e vindo, as crianças indo para a escola. Aliás, acho uma imagem belíssima ver uma criança indo para a escola com seu uniforme e sua pasta.
Percebi que houve uma evolução na qualidade de modelado em cerâmica desde a primeira vez que estive em Tibagi. O aprendizado cerâmico, repito, é demorado, mas tem pessoas hábeis e que conseguem um resultado em curto espaço de tempo. O ideal seria que houvesse um investimento maior na cidade, na geração de renda, como pelo Provopar, por exemplo. A Associação fez um pedido ao Provopar de Curitiba e estão aguardando resposta. Se positivo, seria uma resposta magnífica, pois neste caso até o Sindicato Rural entraria com uma ampliação nas instalações da Associação, para abrigar um forno elétrico e um torno cerâmico elétrico. Isso permitiria que, com treinamento, o artesanato evoluísse para poder ficar em condições de produzir cerâmica de alta qualidade, tanto artesanal de baixa temperatura, como, também, de alta. Não que não se possa fazer uma cerâmica de qualidade com o que se tem, muito pelo contrário, basta ver o resultado da cerâmica indígena com sua altíssima qualidade.
Fiz a minha parte, dediquei-me inteiramente, articulei para que a associação recebesse a massa em quantidade mais do que suficiente, deixei pronto pedido para chegada de equipamentos e construção de instalações (devo dizer que os cursos foram ministrados em locais improvisados).

quarta-feira, 15 de abril de 2009

VIVÊNCIA DE RAKU-GRUPO ALTERNATIVO





Dando continuidade à série de Vivências de Raku, tive um encontro que foi muito interessantes com um grupo de pessoas ligados à terapias alternativas. Desde modo, pessoas com interesses diferentes, no seu dia a dia, também aproveitam para aprender cerâmica e encantar-se com os rápidos resultados desse tipo de queima. O mais bacana desse negócio é que existe uma união entre as tribos de pessoas que olham o nosso mundo contemporâneo de forma diversa, acreditando na melhoria do Homem no Planeta Terra. Essa melhoria tem a ver com o auto-desenvolvimento e com a atitude direta da própria pessoa frente à vida. Não é somente um papo de final de semana sentado nalgum lugar para resolver sua vida e na segunda feira começa no batente, esquecendo tudo o que botou prá fora, de suas ansiedades, suas decisões, mas, na verdade, não sai da mesma. Plagiando um velho conhecido: "o bom é beber com alguém que não se lembre nada no dia seguinte"...
A Cerâmica artística artesanal é uma forma alternativa de sobrevivência e também de atitude. O nosso mundo lotado de falsas ilusões, de promessas, vem exaurindo a humanidade e o planeta. Vemos nosso clima mudar de forma radical e ainda tem pessoas que estão afirmando que nada tem a ver, que são ciclos naturais. Todavia qualquer idiota está vendo que cambiou totalmente a temperatura e a humidade em praticamente todas as regiões. Aqui em Curitiba, por exemplo, nos anos 70 era a cidade da garoa, como São Paulo, agora nada disso, garoa raramente vemos. As vazões dos rios tem diminuído, a temperatura aumentou absurdamente. Quando forma uma geada aqui no primeiro planalto paranaense, não segura nem dois dias. Naqueles anos acima citados eram semanas de frio e geada. Não sou saudosista, apenas lamento e fico muito desesperançoso por tudo isso que vejo. Não consigo olhar a vida, o planeta, de forma local. Prá mim está tudo interligado, o Homem, a Natureza, o Universo. Por isso, a minha vida está baseada neste ponto de vista. A Vida no planeta terra é muito maior do que a civilização humana. A Terra, no Universo, é apenas uma poeira, um grãozinho de nada, perdido nas vastidões infinitas do Desconhecido. Mas ao contemplarmos a natureza, com sua diversidade, beleza, com sua direção, Inteligência, temos a certeza de que a vida não é "uma anedota, contada por um idiota, cheio de sons e fúria, não significando nada". Com esta consciência, qualquer atitude é uma atitude política, tando no plano pessoal, no social quanto no planetário. Atitudes ecologicamente corretas vem de encontro com as necessidades do Planeta, dentro de uma idéia de Desenvolvimente Sustentável, que se baseia no tripé: Social, Histórico e Ambiental.
Até as argilas são consideradas bens não renováveis, idéia absurda até pouco tempo atrás, mas que agora vem assustar os mais conservadores. Os estoques de caulim, argila plástica, que demoraram milhões de anos para serem formadas, se forem usadas neste ritmo assustador de nossa Civilização, acabará dentro de prazo de poucas centenas de anos, o que é quase nada se olharmos dentro de uma escala de tempo um pouquinha mais ampla. E claro que outras tecnologias serao inventadas, mas o buraco aumenta.
A Vivência dde Raku rolou fácil, tranquila, as pessoas estavam conectadas com o trabalho, o resultado foi excelente. Aprecio sempre a diversidade das formas de pintura principalmente das pessoas que nunca anteriormente tiveram alguma experiência cerâmica. São 3 queimas e o resultado vai aparecendo, na primeira timidamente e depois vai crescendo, melhorando. Como os vasos já estão prontos, porque as peças já estão biscoitadas a 800 graus centígrados, somente é possível decorar as peças, pois seria impraticável modelar e queimar no mesmo dia. Não impossível, porque com uma massa com muito talco e chamote, poderia ser tentado uma monoqueima, com tempo maior de queima. Cada queima é feita em 45 minutos em média. Para uma monoqueima esse tempo teria que ser ampliado. Todavia a monoqueima apresenta algumas desvantagens de ordem prática. A principal que eu acho é que a absorção do vidrado na peça é baixa, exigindo maior técnica de pintura. A massa das pecas que torneio contem muito chamote, areia e talco, somando uns 30%.
Sempre preparo as soluções de vidrados para as vivências. Utilizo poucas cores, no máximo 7, 8, diferentes. Uso azul cobalto, azul cobalto com estanho para dar um vidrado leitoso que acho bonito, verde cromo, o óxido de cobre com as suas possibilidades na redução, dando coloração avermelhada e misturada com verde quando a redução não é muito forte. Preparo, também, um branco com estanho e feldspato, o transparente não pode faltar. Alguns vidrados preparo com colemanita ou bórax, apesar de sempre assustar a platéia quando começa a inchar e borbulhar ao aproximar-se dos 980 graus centígrados que é a temperatura que uso para o raku. A base quase sempre é o cmf 096, barato e que vai bem com os pigmentos.

terça-feira, 7 de abril de 2009

MEIO AMBIENTE-ARGILAS DE BARRANCO




O viés de Meio Ambiente nas atividades alternativas permite que se propague cada vez mais a idéia de preservação. Nunca deixo de aproveitar o gancho das aulas de cerâmica ou das Vivências para dar um toquezinho na necessidade de uma postura preservacionista nas nossas vidas diárias. A opressão que sofremos pelos grandes grupos econômicos que olham a Natureza como uma reserva de matéria-prima a ser explorada e, por extensão, o próprio ser humano, deixam uma margem de manobra para se viver uma vida melhor meio pequena. Vemos claramente como somos explorados nas questões básicas da nossa vida: pagamos por tudo e os preços sabemos não serem baratos. O telefone é um absurdo que parece brincadeira a forma como é enfiada goela abaixo e temos que aceitar porque precisamos de comunicação, com as pessoas tanto diretamente como pela internet. Eu, morando na área rural, estaria ralado se não contasse com a internet, apesar de funcionar capenga e ser caríssima. Pago 120 mangos por mês e a velocidade é baixíssima e mesmo assim preciso e quero. O lixo da atividade humana é algo assustador. Não existe na Natureza lixo que não se recicla. O produzido pela nossa civilização é armazenado e ficará de brinde para as gerações que nos sucederem. Sem falar o atômico, principalmente dos países, a França, Inglaterra, USA, etc. E olhe que eles é que são os CIVILIZADOS. Nós do terceiro mundo sabemos muito bem como somos tratados, pelo nosso atraso cultural e tecnológico, mas o lixo, a poluição, a exploração vem deles, a nacional é copiada nos mesmos termos.
Moro na Estrada da Graciosa, na Serra do Mar, primeiro planalto Curitibano. A paisagem aqui é montanhosa. O Morro Anhangava é cartão de visita de Quatro Barras que é a cidade onde moro. Na foto o Anhangava esta no plano de fundo. Apesar de estar na área rural, fico a 10 km do centro da cidade e a 40 km do centro de Curitiba. Estou cercado pela Serra do Mar. O citado Anhangava que é considerado um morro escola para escalada, tem pista de Asa Delta. Também o Pico Marumbi é muito conhecido por estar ao lado da estrada de ferro que desce até o litoral. Os paranaenses que há décadas sobem estas montanhas substituiram o termo alpinismo, por marumbinismo.O Pico Paraná, com 1964 metros de altitude está à vista, é o ponto mais alto do sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Aproveito também a atividade humana, que em termos ambientais parece uma agressão, porém, necessária, para o meu tabalho. Por exemplo, agora estão asfaltando a Estrada da Graciosa, a mais antiga estrada do Paraná. O movimento de corte de barranco apresentou uma variedade colorações de argilas para se fazer engobes, que é uma alegria aproveitar. Argilas amarelas, roxas, lilás, vermelhas, brancas, até bentonita é explorada nesta região, salmão, rosada, todas estas cores aparecem nos barrancos. Como tenho meu ateliê na Serra do Mar, a qual é composta principalmente de granito, que é quartzo, mica e feldspato, misturados, as argilas decorrentes da decomposição dessas rochas são abundantes. Tem uma argila branca, plástica que as pessoas da região chamam de sabão de caboclo, muito boa para compor massas. As argilas coloridas eu vou incorporando nas massas que produzo. Deste modo vou obtendo cores , tons variados nas minhas massas artesanais. Também os engobes naturais são muito interessantes. Estas argilas também podem ser usadas para pinturas de paredes de alvenaria, ou até paredes alternativas de adobe. Os pigmentos naturais permanecem com a mesma cor, sempre, já que é o ultimo estagio da oxidação das rochas.
Por isso, nunca compro massa preparada, sempre componho as minhas. É muito fácil, simples, e quando se pega o traquejo, a independência de massas é fundamental. É claro que quando quero uma massa de coloração branca, quando preparo um grês, uso argila e caulim de mineradoras locais, que, direto da fonte, são baratas. Aqui na região Metropolitana de Curitiba temos mineradoras de argilas de queima branca muito plásticas, caulins aluminosos excelentes para queimas até 1300 graus centígrados.Estas argilas de barranco são sempre anti-plásticas, portanto entram na composição das massas com até 30%. Porém suficiente para predominarem na coloração da massa. Existe uma variedade de granulometria nestas argilas e sempre é preciso, quando não se tem prática, testar a quantidade colocada para a massa não ficar pouco plástica e rachar com facilidade no modelado. Quando se olha um barranco que foi cortado por uma maquina, pelo brilho do corte pode ser avaliado a granulometria da argila. Os barrancos mais brilhantes sao os de argila mais fina. Para peças de terracota, ou seja, sem decoração com vidrado, as argilas de barranco são mais interessantes ja para peças vitrificadas elas funcionam melhor como engobe.

domingo, 5 de abril de 2009

V IVÊNCIA PORANGABA - RAKU



No dia 21 de março, jutamente com a Ceramista curitibana Ocléris Muzzilo, fiz uma Vivência cerâmica no meu ateliê. Estas Vivências para pequenos grupos, de 10 a 13 pessoas tem uma rapidez e fluência muito interessante. Esta Vivência foi planejada para um grupo de mulheres esposas de franceses que vem ao Brasil para trabalhar nas fábricas de automóveis. Como, por legislação, não podem trabalhar no nosso país, muitas dedicam-se a desenvolver seus dotes artísticos. O Joaquim, ceramista português, que estava construindo o forno catenário aproveitou para participar, bem como a Alexandra Camillo, de Campo Grande que participara também da construção do forno citado.
A Vivência de Raku tem uma particularidades especiais. Este tipo de queima de cerâmica é muito rápida e apresenta resultados lidos imediatamente. Por isso os participantes, em 3 queimas, podem vivenciar esta técnica e ainda levar seus resultados para casa. As peças, 3 para cada participante, são pintadas e durante o dia completamos 3 queimas. Na sequencia das queimas há, sempre, uma evolução evidente e o resultado é recebido com muita satisfação.
Preparo nestas vivências quase sempre vidrados não tóxicos, eliminando os de chumbo e os vermelhos, laranjas e amarelos de cádmio e selênio evito ao máximo, apesar da atração destas cores para todos. Como é um dia apenas de Vivência, começa às 9 da manhã e termina às 17 horas, e os participantes quase sempre não tem experiência anterior e por isso o uso dos vidrados tóxicos ( Pb, Se, Cd) não é visto com muito cuidado e é necessário estar junto para que não fiquem espalhados pelo ateliê = mesa e chão. Todo ceramista deve sempre ter muita atenção para estes vidrados porque, ao longo do tempo se luvas, máscaras, bonés e toda proteção não for seguida à risca, a intoxicação por metais pesados fatalmente afetará o desavisado.
A queima de Raku permite uma ação rápida que é ótimo porque todos ficam intensamente atraídos pela experiência. Além disso, aproveitando o fato de ser uma Vivência e por isso entende-se uma interação entre os participantes, o espaço do ateliê, o espaço físico onde acontece a Vivência, no caso a chácara onde moro, tudo transcorre de forma muito agradável. Enquanto o forno esá ligado para chegar na temperatura de 980oC, aproveita-se para dar uma caminhada pela chácara, que tem 50% de área de preservação, um córrego e cachoeira, portanto, ainda natureza. Aproveito sempre, nestas Vivências., para deixar evidente meu comprometimento com o meio ambiente, na preservação, cuidado e respeito pela Natureza e neste sentido, além das palavras, ainda coloco à disposição dos interessados mudas de flores, frutíferas, ervas medicinais que tenho e sempre espalho pelo nosso planeta. Quero dizer também que sempre ganho muitas flores, frutíferas e ervas, nos locais onde dou curso ou visito. Esta troca é fundamental para criar um patrimônio genético que pode ser usufruído por todo mundo, Principalmente porque o mundo inteiro está preocupado com taxas de crescimento e o Meio Ambiente e a Natureza estão indo prás cucuias, sem o menor escrúpulo.

sexta-feira, 27 de março de 2009

FORNO CATENÁRIO





Foram quatro dias de construção do forno catenário. Definição do local, preparo do chão, limpeza dos tijolos (comprei usados e parte deles foi necessário dar uma limpada), confecção da zimbra, preparo das massas, etc. Foi demorado, tudo teve que ser decidido. O Joaquim Parreira Pimentão, ceramista português que comandou a construção definia os parâmetros a serem seguidos e a equipe mandava bala. Foi um pouco cansativo "descascar"tijolos com facão, enxada ou machadinha, quero dizer, limpar os tijolos usados que ainda tinham massa grudada. Mas, aos poucos, a obra foi saindo. Usei tijolos de alta alumina. Parte deles, continham até 65% de alumina, mas a maioria com 47% de alumina, aproximadamente. Com esse material, a maioria usado, tenho condições de subir a temperatura do forno para 1300 graus centígrados tranquilamente.
O forno catenário tem aquela curva belíssima. O aspecto do forno tem um charme especial e achei um encaixe perfeito no terreno do meu ateliê. Usei para a construção do arco somente tijolos novos que tinham sido queimados a 1400 graus centígrados, alguns pareciam até vitrificados. Comprei um cimento refratário especial para esta parte da construção. Para o rejunte das demais partes do forno preparei uma massa com as argilas e caulins aluminosos aqui da região de Curitiba. O chamote também é o refratário comprado da cidade da Lapa aqui do Paraná. Para a parte externa adicionei 30% de serragem para melhorar o isolamento do forno.
Foi uma construção um pouco vagarosa, mas foi indo, indo. Alguns dias uma leve garoa caía e improvisei uma cobertura que ficará até que forno esteja completo, quando, então, providenciarei uma construção que servirá também para proteger as lenhas.
Assim que o forno estiver bem seco farei uma nova vivência, juntamente com o Joaquim que tem experiência bastante grande em vidrados de Sal e inauguraremos o forno. Bem este forno estou construindo com o objetivo de fazer queimas com vidrados a Sal. Esta vivência que pretendo fazer será aberta aos interessados que ganharão uma peça ou a levarão já pronta e faremos a queima.
Preparamos, também, no final da Vivência de Construção do forno alguns quilos de massa para cada um dos participantes. Usei uma argila plástica, outra mais plástica ainda, aqui da Região Metropolitana de Curitiba, com alta alumina, adicionei 5% da argila vermelha plástica que uso sempre em minhas massas, para dar um tom mais escuro, mais um chamote grosso para o aspecto rustico, um pouco de areia, caulim aluminoso e um pouco também de filito avermelhado. Esta massa, para alta temperatura, será testada com o vidrado de sal.