domingo, 20 de setembro de 2009

PIRAQUARA - RETORNO-Cerâmica Básica




Ao voltar para a segunda etapa de quatro dias do curso de cerâmica Básica que ministro, sempre fico surpreendido como as pessoas evoluem. Quase todas começaram sem terem experiência anterior. Primeiro conhecer uma massa cerâmica e ser iniciado nas técnicas básicas. Então criar a intimidade com o modelado. Aperfeiçoar. Mesmo aqueles que relutam a princípio, acreditando que não tem habilidades, aos poucos vão aprendendendo. Quando alguém começa a sentir-se desassossegado por não conseguir modelar uma forma mais definida, deixo que tente mais um pouco, para sofrear o nervosismo e a angústia de não poder expressar-me como gostaria rapidamente. Normalmente as pessoas que tem pressão alta querem executar uma tarefa em pouco tempo, finalizar em três toques e já partir para uma nova peça. É um desafio. Neste caso, quando vejo que o resultado está indo para um caminho de insatisfação com o curso pela ansiedade de não conseguir resultado satisfatório e que levará possivelmente à desistência, mudo a forma de aprendizado. Recomeço por um modelado com técnica. Assim, para mostrar como modelar um objeto utilitário rápido, com bom resultado, independente de habilidades mais sofisticadas, sugiro recomeçar por algo mais simples, como um porta-sabonete, por exemplo. Ensino a técnica de esticar uma placa com cano de PVC 5cm de diâmetro, com suportes laterais para definir a altura da placa. Depois cato pelas cercanias uma folha que tenha um formato que sirva para uma saboneteira. Então pressiono a folha sobre a placa,com o rolo, ainda usando os suportes lateiras, praticamente enterrando a folha na placa cerâmica. Cuido sempre para que seja uma folha com boas nervuras, mas que a central não seja saliente demais, o que enfraqueceria a saboneteira, pois ultrapassaria a espessura ideal, deixando uma linha mais frágil que facilita uma rachadura. Depois de prensada, faço o recorte e retiro a folha. Então, para dar a forma na folha, coloco-a sobre uma madeira. Começo a elevar as laterais dando o formato à saboneteira e apoio sobre pedaços de jornal amassado para que sequem com o formato desejado. Cuido sempre para que esse formato seja o mais natural possível, dando curvas e graciosidade à saboneteira. Depois de secar o suficiente para que possa auto-sustentar-se, faço os furos para escorrer a água quando estiver funcionando e coloco os pés, quase sempre em número de 4, que fica mais estável. Assim já entra mais duas técnicas, primeiro como esticar uma placa e depois como colar uma peça cerâmica na outra. Sempre que é viável, misturo um pouco de silicato de sódio na cola. Porque o silicato de sódio sendo um desfloculante permite que a cola seja mais consistente. Isto quer dizer que, com menos água, eu faço uma cola que resulta mais eficiente. Depois de seco o acabamento é com lixa e finalmente uma esponja úmida completa a operação. O resultado sempre é bom. A naturalidade de uma folha que se observa na Natureza é o modelo. Assim o olhar começa a se desenvolver, para conseguir sair do modelado manual e entrar no modelado visual. Primeiro as mãos modelam, depois os olhos... Talvez essa seja a parte mais difícil para as pessoas comuns que tentam iniciar uma atividade artística. As mudanças de olhar necessárias vão mexer com o indivídio, seus paradigmas, o valetão do seu cotidiano. Isso incomoda a princípio porque é difícil, mas, depois, vem a satisfação, o prazer de estar aprendendo algo novo.
Neste forno que construí deixei que ele ficasse, por insistência do responsável pelo lugar, diretamente encima do cimento do piso. Normalmente quando acontece o caso de ter de construir um forno em situação semelhante, eu faço uma carreira de tijolos, encho de terra e soco bem. Depois começo a construir o forno. Assim, quando boto fogo no forno fica sobre terra, que é o ideal. Mas desta vez, sobre cimento, como ainda não fiz a queima, por falta de lenha, vamos ver no que vai dar. Possivelmente o cimento vai rachar, mas não passará disso.
Piraquara está encostada na Serra do Mar, uma situação privilegiada em termos de Natureza. Todavia, em menos de 15 anos a população dobrou de 100 para 200 mil habitantes. Isso transtorna qualquer lugar. É impossível comandar e organizar o crescimento com essa avalanche de seres humanos. Por isso Piraquara precisa de uma atenção especial para não detonar a belíssima Serra do Mar, tornando-se mais uma cidade inflacionada como dormitório de uma metrópole, no caso Curitiba. É um pouco triste ver as cidades em pouco tempo crescerem assustadoramente, descontroladamente, e saber que quem paga a conta é qualidade de vida de seus habitantes, ou seja, dos mais pobres, que vai piorando cada vez mais.

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