terça-feira, 8 de dezembro de 2009

CERÂMICA, NATUREZA, PRIMAVERA





A primavera sempre renova a vida. Os ciclos retornam trazendo novo alento. Aqui na minha casa, um casal de baitacas (periquitos da região) fez um ninho no beiral da casa. Repetiram o feito do no ano anterior, quando, para alimentar eles próprios e seus filhotes, acabaram, litaralmente, com a produção de peras de uma pereira que fica encostada à casa. Neste ano apareceu um mamífero pequeno que entrou pelo telhado e destruiu o ninho. Escutei o barulho, à noite, nas nada pude fazer. Meu medo era de que o casal de baitacas tivesse sido comido pelo mamífero, o qual, a princípio, julguei que fosse um gambá. Depois, aliviado, descobri que o casal sobrevivera, mas o ninho, não e eles sumiram dois dias depois da tragédia. Dei caça ao mamífero, pois além das baitacas, tem outros três ninhos de andorinhas, dois de corruíras que vivem no entorno da casa: telhado e paredes. Era um ratão, coisa rara por aqui, pois quase somente aparecem camundongos, que é comum nas matas. Quem deu fim ao ratão foram os cachorros, pois numa manhã ele estava no terreno, já acabado. Conferi os ninhos de andorinhas e corruíras, todos intactos. As baitacas acabavam com as minhas peras (o que considerava até uma vantagem por apreciar o desenvolvimento da família de psitacídeos). O ratão acabou com o ninho, os cachorros acabaram com o ratão. Tudo voltou ao normal. O ciclo repete-se e a vida continua.
Hoje está uma manhã de neblina que envolve a Serra do Mar. No vale onde corre o riozinho que atravessa o meu terreno está levantando um fio de evaporação. O dia está entrando suave, cálido, a natureza, na primavera, resplandece (... apenas raia, sanguinea e fresca, a madrugada... o velho Raimundo Correia). Eu me sinto agraciado por estar com paz de espírito para contemplar, ainda, a Natureza. Aproveito e vou tomar um banho no rio, faço um exercicio de alongamento, seguido de uma prática de Tai Chi Chuan, para me sentir mais integrado ao ambiente.
Depois dessa introdução o dia comum começa. Tomo um café e vou ao meu ateliê dar sequencia à minha atividade cerâmica.
Não posso deixar de ser influenciado, no meu trabalho, por esta manhã. Pelo dia de ontem, também, assim como pelos anteriores. Meu trabalho é o reflexo disso tudo. Não posso desvincular minha vida, meu trabalho, de toda a trama que me envolve neste breve intervalo de tempo que estou de passagem pelo planeta Terra.
É a Cerâmica que escolhi para trabalhar, passar o tempo, desenvolver-me espiritual e profissionalmente. Não é o único campo de interesse, mas foi o que defini como sendo aquele em que poderia me divertir, trabalhar, evoluir e, ainda, sentir-me feliz, na prática profissional. Trabalhar a terra, modelar o barro, transformar pelo fogo. A Arte não tem fim, limite, isso é o mais interessante, não tem linha de chegada. Tem objetivos, metas, mas o caminho é cheio de variantes que permitem adaptações, caminhando no rumo do que nos atrai. No campo da Cerâmica, estou interessado em tudo. Primeiramente no estudo de massas cerâmicas. As massas podem ser de baixa, alta temperatura, massa para utilitários, Raku, terracota. Na cerâmica de alta o grês, realmnte é o que gosto mais. Além das massas, tem o tipo de queima. Queima rápida, elétrica, à gás, à lenha, redutora, oxidante, neutra. Nisso tudo estou interessado. Depois de encontrar o tipo de massa, a maneira de queimar, começa o novo campo que é o de vidrados. A composição dos vidrados, o conhecimento dos materiais, seus pontos de fusão, misturas eutéticas, corantes, pigmentos, rochas naturais que podem ser usadas como vidrados, argilas, engobes, etc . Isso é apenas a parte técnica que permite expressar aquilo que estamos procurando, o que estamos querendo mostrar.
Depois disso tudo definido é que começa realmente a longa caminhada para a expressão próprio do indivíduo. Como sou Engenheiro Químico, a primeira parte é mais lógica, de mais fácil acesso, pois a Química Básica, que é o que se usa na cerâmica, tira-se de letra. Como meu campo de interesse é muito amplo, meu trabalho tem que ser laçado e ajuntado para eu construir uma unidade. Nisso que me dedico mais, atualmente, além do estudo da cerâmica propriamente dita. Minha poética, qual é? Sei que estou conectado à natureza, que sofro com a degradação planetária, e que a fraternidade humana é algo que, na prática, não existe. Então, conceito, poética, minha natureza, mais a necessária aplicação para o desenvolvimento do modelado (que é outro departamento enorme), são meus desafios neste momento. Preciso e quero colocar tudo isso no meu trabalho.
As fotos das aves são da minha casa. O caquizeiro, encostado à minha casa, fica lotado de passarinhos, comendo os caquis, à curta distância e eu posso fotografá-los tranquilamente com uma tele 300.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vc continua um homem maravilhoso,amante da natureza.