domingo, 19 de junho de 2011

SAMBAQUIS/ARQUEOLOGIA









Neste final de semana, juntamente com os demais alunos da cadeira de Arqueologia do Paraná, da Universidade Federal do Paraná, fui visitar um Sambaqui e um abrigo sob rochas. O primeiro feito pelos indígenas e o outro ocupado por eles. Sambaquis são morros de conchas, principalmente ostras, berbigão e almejoa (almeja), construídos pelos indígenas (sambaquianos) desde o norte do Rio Grande do Sul até o Rio de Janeiro. Os locais escolhidos para a construção são sempre em pontos estratégicos de grande beleza cênica e possivelmente para ficar desfrutando ao máximo da fartura e do "dolce far niente" do dia a dia. Bons tempos aqueles em que ainda não tinha sido implantado obrigatoriamente este nosso sistema de vida, horário de trabalho integral, etc. Parece-me que o período máximo de trabalho semanal era igual ao nosso oficial diário. Os sambaquianos viveram no nosso litoral por 6 a 7 mil anos. A cerâmica chegou somente no início da era cristã. Muito interessante, no estudo na Arqueologia, é sua inter-relação com a Geologia. O avanço e o recuo do mar que já esteve 120 metros abaixo do atual nível, depois chegou no nível atual, mas oscilou durante várias ocasiões, o que obrigou a população indígena a acompanhar o ritmo de subida e descida. Por isso, possivelmente, os sítios mais antigos da ocupação estejam sob a água do mar, inclusive de povos que estiveram por aqui antes da subida do mar, ou seja, anterior a 12 mil anos atrás. As teorias migratórias apontam pelo caminho usado no Alaska, no Estreito de Behring, que ficou durante um espaço grande de tempo ligado à Ásia por uma faixa de até 1500 km, para o início da ocupação dos continentes americanos. Dalí se espalharam. Alguns defendem uma outra onda migratória costeando com embarcações o Pacífico e o próprio Estreito de Behring.
Subidas e descidas menores do nível marinho aconteceram e isso pode ser visto pelos sinais na costa. Por exemplo, na Praia da Pinheira, em Santa Catarina, próximo a Parque Estadual da Serra do Tabuleiro isso é bem visível, porém seus sinais estão sendo destruídos pela exploração imobiliária. Estas subidas e descidas, juntamente com a erosão da Serra do Mar moldaram aquelas faixas de terras planíssimas que se encontram no nosso litoral. Estou fazendo uma síntese da síntese.
Este morro de sambaquis que mostro na fotografia deve ter uns 25 metros de altura, chutando. O Paraná tem 300 sítios de sambaquis catalogados e apenas 27 estudados. Muitos deles foram destruídos porque durante muito tempo foram usados como material para fabricação de cimento, uma vez que as conchas são formadas por carbonato de cálcio. É o mesmo material do calcário, das grutas calcáreas que muitas, também, destruídas para fabricação de cimento. Inclusive, neste sentido, recentemente, estavam tentando abrir um espaço na legislação para exploração de minas de calcário para cimento sem ao menos fazer um levantamento mais preciso sobre a possibilidade de existirem grutas com estalagtites e estalagmites ou outras belezas naturais. Na foto em frente ao morro ao sambaqui, que está totalmente coberto por vegetação estão o Prof. Laercio e o, de chapeu, Prof. Luis Claudio Symanski, este o mestre das duas cadeiras que cursei.
No Abrigo sob rocha que visitamos, são encontrados pedaços de cerâmica da chamada Tradição Itararé de grupos ceramistas que emigraram do Planalto Central brasileiro para o sul, dando origem aos Kaingang e Xokleng. Este abrigo é pequeno, são apenas algumas rochas que formam um abrigo natural. Não é como caverna, apenas a pedra de dimensão maior, talvez uns 6 metros de altura, inclinada, que forma um espaço agradável e protegido. Vimos, também, um buraco artificial, fora do abrigo, possivelmente local de construção de casa subterrânea, cujo uso era comum. A localização também era privilegiada: próximo a um Rio de boas dimensões, rodeado pela Serra do Mar, num ponto alto. Tudo muito bem escolhido.

Terminou o meu semestre letivo de Arqueologia e das duas Disciplinas que cursei. Fiquei feliz por ter conseguido levar até o final estas duas disciplinas. Faltei apenas uma aula de cada uma das matérias, porque fui ao Encontro Internacional de Ceramistas em Sampa. Mesmo quando estava dando aulas em Tijucas do Sul, saía com tudo, a mil, para chegar antes das 18 horas em Curitiba, para assistir às aulas. Fiquei triste porque as aulas terminaram. Agora vou repensar tudo, olhar e reler a pilha de livros que comprei, 20 unidades, mais um monte de xerox e artigos buscados na internet.
Todavia, vou continuar estudando, deixar sedimentar este conhecimento que foi muito importante para a minha vida, e que me deixa embasbacado quando faço um paralelo sobre a rapidez com que a presença humana vem mudando o Planeta.
O Ser Humano chegou recentemente neste continente ( de 12 a 16 mil anos), há apenas 12 mil anos que deixou de ser Coletor/Caçador, no mundo inteiro, para fundar o que chamamos de cidade, a Revolução Industrial tem trezentos anos, apenas, nem faz cem anos que descobriu que a Via Láctea era apenas uma galáxia, a Energia Nuclear tem 66 anos de vida, a internet é de quase ontem. Claro que não estou negando as conquistas da Humanidade. Mas a Vida, a Vida mesmo, essa vamos relegar a um segundo plano. O Planeta, o Ser Humano, quase não interessa, o negócio é avançar nesta escalada de destruição rumo ao Conhecido. Conhecido:acabar loucamente com as belezas naturais, entupindo o Planeta de escórias, lixos e eliminando diariamente espécies desconhecidas.
Quando é que vamos começar a verdadeira Civilização?

2 comentários:

Rodrigo Kaminski disse...

Parabéns pelo seu trabalho.

. disse...

Ô, Rodrigo!
Resolveu o problema da secagem dos vasos?
Abraço,
Gilberto.