domingo, 9 de outubro de 2011

CACATU-ANTONINA-CERÂMICA-1a.etapa








Por duas vezes fui ministrar curso de cerâmica básica em Cacatu, no município de Antonina. Cacatu fica no pé da Serra do Mar, quase embaixo do Pico Paraná. O Macico de 1960 metros de altura fica próximo e dá para visualizar muito bem o ponto culminante de altitude do sul do Brasil. Este curso acontece na propriedade da Marcia Ito, descendente da primeira leva de japoneses aqui para o sul do Brasil. É uma propriedade com vários alqueires de área onde são cultivadast frutas e hortaliças que são vendidos no próprio local e, também, no Ceasa de Curitiba. Marcia congrega seus vizinhos e alguns interessados mais distantes para este curso, com muito carisma e liderança.
O grupo melhorou muito em termos cerâmicos. Agora, com torno de pedal (recentemente adquirido) daqueles construídos pelos oleiros de São José, Santa Catarina. começa a despontar mais uma possibilidade de trabalho. O torno de pedal, no estilo de Açores, tradição em Santa Catarina, é um pouco mão-de-obra ( pé-de-obra), mas muitos profissionais dele se utilizam com muita rapidez, nada devendo aos elétricos. Claro, estamos acostumados à moleza de um torno elétrico. A Shoko Suzuki de Sampa ainda usa o torno de mão, japonês, e seus resultados são bem conhecidos e nem pensa em comprar um elétrico, ou melhor, nem lhe passa pela cabeça, acredito que até deve achar ridícula essa possibilidade. Aliás, o Shoji Hamada sempre usou este tipo de torno. Aquele que tem um prato com 4 furos onde é encaixado um toquinho que é acionado pelas mãos, para dar o giro.
Bem, acontece que estamos vivendo num mundo onde a produção é essencial, para conseguirmos vender bastante, faturar bastante e... etc. Claro que a vida, a VIDA mesmo, não é nada disso, mas fingimos que o mundo deve continuar assim mesmo e vamos empurrando ( levando , nunca, já dizia o Moreira da Silva, no samba de breque da vida).
Agora, neste novo curso em Cacatu o enfoque é o acabamento, o aperfeiçoamento. Nisto é que estou trabalhando, Assim, com cada participante vou vendo a sua identidade e tentanto aperfeiçoá-lo, mostrar um caminho no sentido do melhoramento. Levo livros, muitos livros, inclusive arqueológicos, já que estou nessa fase arqueológica, mostro, deixo à mostra. Não paro de comprar livros e vejo cada vez mais livros para comprar. Haja cacau para chegar na biblioteca básica necessária para quem se interessa ( 5.000 livros, eu acho). Estão melhorando, alguns sobressaem-se, como é normal, mas todos progrediram bastante. O torno é uma atividade que exige muito trabalho. Aprender a centrar o barro toma muito tempo depois ainda caprichar no acabamento. O design das peças é algo muito individual, treinar o olhar para ver , apreciar uma linha, encontrar-se numa curva (epa!), encantar-se com o resultado. Treinar o desapego é muito interessante e difícil. É preciso jogar fora o que não está dentro dos conformes....
Vender! Encontrar um espaço de venda. Isso é muito difícil. Aqui vive-se próximo ao mercado, mas falta uma força do poder público para viabilizar, Antonina, uma cidadezinha linda, à beira mar, tem turismo suficiente para absorver uma força de produção, mas ainda não tem espaço condizente. Morretes, que não tem mar, fica próximo e à beira rio (Nhundiaquara) recebe quase todos os turistas de Curitiba e fatura o máximo e nem consegue suprir a demanda. Essa turma de Cacatu poderia ir lá vender! É possível? Não sei, merece estudo!
O que de melhor encontro de retorno nos meus cursos é o empenho, a dedicação, a motivação, a vontade sempre presente de todos para melhorar, produzir, apresentar resultados. Justifica o meu trabalho.
Na propriedade da Márcia passa o Rio Cacatu, de águas transparentes, delícia de banho.

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