terça-feira, 12 de abril de 2011

ARQUEOLOGIA CERÂMICA


No ano passado completei o curso à distância com o Instituto Condorhuasi de Arqueologia Cerâmica Indígena Argentina. Foi muito interessante e comecei a inteirar-me deste assunto pelo qual passava ao largo. Antes disso, eu lia alguma coisa, achava legal e tal, mas não ia fundo. Sempre admirei a cerâmica Marajoara e a Tapajônica, principalmente, lia artigos, folheava livros que encontrava sobre o assunto, mas não passava disso. Quando comecei a fazer o Curso de Arqueologia Cerâmica Argentina, notei, primeiramente que eu não tinha nenhum conhecimento mais profundo da cerâmica arqueológica brasileira. Isso me deu um banzo, percebi claramente que existia algo errado e que precisava ser sanado. Fui na Universidade Federal do Paraná falei com o Professor Igor Chmyz e ele mostrou uma direção.Primeiro Arqueologia Brasileira de André Prous, encontrei no Estante Virtual e comprei mais alguns livros. Nos reportagens anteriores já mostrei que vinham acontecendo coincidências que me levavam para a arqueologia. Ganhei algumas pedras de machadinhas, mãos de pilão, pontas de flecha e comecei a perceber o imenso mundo que existia para ser conhecido. Mas no fundo o que me interessa é a Cerâmica Arqueológica. Então fui na Universidade Federal do Paraná falei com o Professor de Arqueologia e estou assistindo, como ouvinte, as Cadeiras de Arqueologia do Paraná e Tópicos Especiais em Arqueologia. Como o professor disponibiliza literatura sobre o assunto, aí ampliou meu universo. E, agora, estou entrando neste mundo, de forma correta e com muita vontade de aprender e compreender o processo da evolução da cerâmica.
Um conclusão primeira a que cheguei com relação à cerâmica contemporânea, ou à Cerâmica que estamos fazendo é que ela se espalha da mesma forma que acontecia nos primórdios da cerâmica. Ela se espalha por difusão. Alguém inventou e daí foi espalhando. Para isso foi necessário que a sociedade humana evoluisse para o sedentarismo, somente daí é que a cerâmica pode aparecer. Caçadores/coletores, nõmades, não dá para ficar transportando objetos que facilmente quebram. Mas existe controvérsia sobre este assunto, pois alguns arqueólogos defendem o fato de que os caçadores/coletores também transportavam objetos cerâmicos, o mais difícil é a confecção, que exige uma permanência num local, para fazer, secar e queimar. Evidentemente que se encontrassem um sítio com boa argila plástica, aproveitar é o passo seguinte. Alguns também defendem o ponto de vista de que a cerâmica foi descoberta simultaneamente (em escala de tempo ampla) em locais diferentes. Olhem, isso é o que me sugeriram num comentário do blog nesta reportagem. Mas no livro Homens Pré-históricos de Robert Braidwood, 2a.edição.pg 128, da editado pela Univ. de Brasília, o autor cita o fato dos caçadores/coletores não transportarem cerâmica. Mas o comentário é sempre benvindo, pois adiciona. Dos 15 livros citados pelo professor de arqueologia, estão disponíveis para serem xerocados 20% dos livros, o que eu fiz, e prestarei bastante atenção neste particular.
O que ressaltou aos olhos foi o papel atual, há um milênio ou mais, da cerâmica oriental. Da China, Coreia e Japão. A porcelana, o raku, grês, são técnicas cerâmicas que o ocidente teve que aprender, foi lá buscar. A porcelana teve que ser copiada com muito esforço para conseguir ser reproduzida na Alemanha depois Inglaterra e França. Hoje temos uma diferença grande entre a Cerâmica Industrial e a Cerâmica Artística. A cerâmica artesanal continua nos mesmos moldes da antiguidade. Queima primitiva, fornos simples, plástico e anti-plástico, engobes, etc. A Revolução Industrial modificou de forma definitiva a produção, e a artística se beneficiou da tecnologia. Nós ceramistas, somos depositários da tradição cerâmica milenar e somos influenciados, ainda, por difusão. Ainda copiamos a cerâmica Chinesa, japonesa. Se a cerâmica contemporânea permitiu uma liberação dos formatos tradicionais, onde o conceito e a poética são até mais importantes do que a técnica, foi graças à difusão da cerâmica oriental,China, Japão, Coréia. Porque a amplitude das técnicas para se chegar aos resultados atuais foi desenvolvido por aqueles povos. Em linhas simplistas, Bernard Leach vem do Japão, resgata a ceramica artística artesanal pro ocidente, influencia todo mundo, inclusive nos Estados Unidos onde o Expressionismo Abstrato digere, libera e joga de volta. Paul Soldner deixa um legado forte principalmente com a americanização do Raku e hoje estamos todo fazendo a mesma coisa. No Brasil absorvemos tudo e temos duas linhas principais de cerâmica, a japonesa e a americana: neste mundo trafegamos.
Estou confeccionando um painel, estudando para transferir para outro maior, para ser finalizado em alta temperatura ou raku. O assunto está brotando e vou colocando toda a influência arqueológica que estou recebendo.
Os motivos são muiraquitã (sapo estilizado), peixes da nossa região (saicanga, traíra, cará), pinheiro paraná (Araucária angustifolia), recipientes kaingangs (copiados dos modelos), pontas de machadinhas, mão de pilão, flexa, etc.
Quero ainda continuar a fazer recipientes com influência das culturas cerâmicas aqui do paraná (tupi-guarani, kaingang, Xokleng), etc, etc.
A capa do livro do Maestro Chiti é da Cultura Aguada, estilo Ambato.

7 comentários:

Luísa Cardoso disse...

Olá amigo,
Gostaria apenas fazer uma ressalva: a cerâmica não só se espalhou por difusão, esta é apenas um dos vários fenômenos. Ela não foi inventada em um local e espalhada.Diversos povos em diferentes lugares no mundo descobriram um uso comum para a argila que é tão abundante. Leia sobre paralelismo cultural...Ah, e povos nômades utilizaram cerâmicas nas suas andanças, mesmo que não fossem tão elaboradas como algumas vistas em povos sedentários.
Um abraço

. disse...

Obrigado pelo comentário. Sobre a difusão, estou baseado no comentário do ceramista argentino J.F.Chiti de que a cerâmica foi uma invenção que se espalhou por difusão e, posteriormente, foi aperfeiçoada por culturas diferentes.Sobre o não uso de cerâmica pelos caçadores/coletores, está no livro HOmens Pré-históricos de Robert Braidwood, 2a.edição, Univ.Brasília, pag.128.
Com este teu comentário e com literatura que estou consultando, cerca de 15 livros, vou focar também neste particular. Obrigado por me chamar a atenção.
Gilberto.

Guillemette disse...

ola amigo!

Guillemette Schlumberger disse...

Oi Gilberto, eu tentei de lir tudo mas e difficiu para me! eu intendi que voce descobrou um mondo inteiro, e que esta muito interessante; tambem eu sou muito interessada de prehistoria, mas e verdade que nao sei muitas coisas sobre ceramica de essa perioda humana, que pena, porque gosto tanto de ceramica,mas é difficiu de fazer tudo junto...nao?
sou feliz por voce que voce pode approfunder sua "connaissance"
Guillemette, França

Giorgia Enae disse...

Olá Gilberto, estou deslumbrada com teu blog. Sou de Florianópolis-SC e estou fazendo curso de cerâmica faz uns 3 meses, como oleiros tradicionais daqui (utilitária e figurativa regional)e estou apaixonada. Ñão há muito aprofundamento, nossas aulas são momentos de troca e experiências com o barro, mas com pouca técnica. Comecei como terapia e agora tenho cada vez mais interesse no assunto. Teu blog é maravilhoso, tua sensibilidade, teu olhar para e pela vida (terra, água, sol, barro, pessoas, etc) são como literatura para mim.
Belas palvras e belíssimo trabalho.
Estarei acompanhando teu blog e tua obra.
Obrigada e até a próxima.
Giorgia
giorgiaenae@yahoo.com.br

. disse...

Olá, Guill!
Que prazer ler tuas palavras. Je suis trés ernchanté avec la France et la cèramique française.Merci,
Gilberto.

. disse...

Giorgia!
Obrigado pelos teus comentários. Escrevo o que me vai pelo coração! Vou dizendo logo tudo o que sei!
Gilberto.