quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MOVIMENTO NO TRABALHO






Tem dias diferentes de trabalho. Encontrei, dentro do córrego que passa no terreno onde moro, um pedaço de malha de plástico, enterrado na lama, sabe lá há quantas décadas. Sempre encontro cacos de vidro, pedaços de ferro, pois é área rural e habitado há mais de 1oo ano, guardo. Vou ajuntando, para ser usado de repente. Bem, quando olhei pro pedaço de plástico sujo, roto, vi logo que a textura poderia ser usável. Lavei bem e fotografei. Peguei uns 5 punhados de barro plástico, que é a minha massa básica, de argila sedimentar muito liguenta de beira de rio, e fui misturando antiplásticos. Argila de barranco sem liga nenhuma, mais chamote de tijolo, mais um pouco de chamote de arenito, muito grosso, feldspato, caulim, talco, água, fui misturando e transformando numa massa. Quis uma massa grosseira, para queimar em alta temperatura, 1263 graus centígrados, cone 8. Amassei devidamente, estiquei a placa entre duas ripas com um cano de PVC de 5 cm, deixando bem plana e com rugosidade devido ao excesso de chamote grosseiro. Coloquei o trapo de plástico sobre a massa e apliquei a textura com pressão, até deixar enterrada na massa.
Peguei com cuidado esta placa e depositei sobre uma forma de gesso própria para uma peça do tipo prato centro de mesa. Não fiz recortes, deixei as bordas como iam ficando à medida em que esticava a massa. Claro que ia direcionando o esticamento.
Apertei o fundo e deixei o formato como quis. Sobre o pano prensado, antes de tirá-lo do meio da massa, passei um engobe de uma argila que colhi há alguns dias bem fina, na beira da estrada, que estava sedimentada, já separada pela natureza, com fina granulometria. Argila vermelha com uns 7 a 9 % de óxido de ferro, em alta ficará bem escuro e fará um contraste com a textura do plástico que era xexelento e virou uma outra coisa, um material muito bonito.
Agora está secando. Duração do movimento: duas horas.
Gosto deste tipo de movimento. Vejo algo e dá um clic. Vou com tudo e começo a improvisar com o que tenho à minha disposição. Claro, tenho todas as matérias primas necessárias para fazer uma boa massa de qualquer temperatura de queima. Estou preparado. Depois, com a intimidade que adquiri no manuseio dos materiais, vou compondo, rapidamente, deixando que a minha cabeça decida em função de toda a cultura cerâmica que fui acumulando. É intenso, entro em transe, vou até o final do movimento. Não me preocupo com mais nada, deixo fluir, depois analiso de fora o que aconteceu.
O final da parada é vender, quem quer?
Aprendi com o Ulisses de Homero que o grande negócio da vida é a viagem, a chegada nem é tão importante....

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