quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
FIGURATIVO
Apesar dos figurativos estarem em baixa, faz tempo, ainda tem pessoas que gostam. Bustos, por exemplo. Com frequência encomendam-me algum busto de mulher, principalmente. Vejam, pediram e eu fiz. Aproveito e curto muito passar horas modelando uma figura feminina. Tem 60 cm de altura. Fiz uma massa com bastante chamote para poder, no acabamento final, realçar pequenos pedaços de chamote de telha muito bem queimada. A textura que fica, da pele, é rugosa e dá uma vivacidade agradável. O acabamento exige várias etapas para que fique definido e com textura de pele. Modelo diretamente com as mãos, depois uso uma esteca para definir áreas maiores, depois pincel de ponta dura para alisar, ainda um pedaço de pano do tipo filó que homogeneiza totalmente a superfície e, por último, uma esponja. Esta esponja, úmida, realça o chamote porque retira a massa fina. Eu gosto deste efeito.
Cobro de 1,2 até 2 mil reais por um busto. Menos não dá para cobrar, mais, só se for com a aparência de pessoa, por fotografia. Sobreviver de cerâmica é uma arte à parte. Tenho munições de vários calibres. Claro que, às vezes, aperto no gatilho e não sai nada, falha.
Depois de todo este acabamento, ainda tem a secagem lenta e a queima que eu costumo fazer em 17 horas. Não posso arriscar no ciclo de queima, que é a etapa final. Queimo a 800 graus centígrados. Um patamar de meia hora é bom porque a peça é grossa, 2cm a 2,5 cm. Mas, por exemplo, poderia fazer um vidrado na parte da roupa e daí aumentaria temperatura para 1000 graus. Até em raku poderia ser queimada, com muito cuidado, pois a massa está lotada de chamote e areia, o que aguenta o choque térmico. Quanto à textura da roupa, trata-se daquele trapo que encontrei no meio da lama e estou usando para várias peças, o que já mencionei em reportagem anterior.
Enquanto isso, toda a manhã o sol nasce. Meu tema sempre é o Pico Paraná (ponto mais alto do sul do Brasil), o Pinheiro Paraná (Araucaria angustifolia) em primeiro plano. A coloração do amanhecer é que muda. As duas fotos são do mesmo dia. Nascer e por do sol.
A máquina é Nikon D40X, com tele 200.Não tem Phofoshop na jogada.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
CACOS
Os cacos de vidros e ferradura foram encontrados no riacho da minha propriedade. Estavam na margem e no fundo do rio. Misturado no meio da sujeira, da lama e alguns junto à areia. Tenho necessidade de eliminar esses cacos, são irresponsabilidades passadas, de pessoas que não se importavam com suas atitudes com o meio ambiente. Mas isso não adianta falar, já aconteceu. Os tempos eram outros. É diferente de hoje. Temos outra consciencia. Queremos ter. Por isso, não questiono. Limpo o meu terreno, procuro a sujeira de plástico, metal, vidros e dou um destino adequado. Fico triste porque quando vejo que dentro do rio encontro tanto material descartado e que deixa o meu lugar tão feio, quer me dar um desânimo, porém luto para não deixar tomar conta. Penso sempre que devemos tomar uma atitude meio radical. Por isso, quando alguém que fuma, por exemplo, que está acostumado a jogar a bituca no meio do mato, dou um alerta e peço para me passar a bituca, que eu jogo no lixo correto.
Bem, os cacos encontrados, de vidros, tem as colorações comuns conhecidas, azul cobalto, verde de cobre, manganês, etc. São os vidros com os óxidos usados na cerâmica. O próprio vidro é sílica, o componente principal dos vidrados. A sujeira é terra, argila, logo, também, material cerâmico. A ferradura enferrujada, ferrugem, óxido de ferro, outro corante cerâmico. Enfim, existe uma íntima ligação entre estes materiais e a a cerâmica. Por isso, vou usá-los. A ferradura, vou dar uma raspada e usar a ferrugem como corante. Os vidros, vou quebrá-los, separados por cores, e colocar no fundo do centro de mesa da reportagem anterior. Mais tarde, mostro o que aconteceu.
Se conseguir, vou incorporar a ferradura numa massa ou, também, posso usá-la como peça de decoração. Enfim, estes materiais poderão ser renovados e voltar em sua etapa inicial de uso, não sendo mais descarte, mas partes de uma nova vida. Olhem, não estou nesta de ficar aproveitando lixo. Acho que existe o que se chama Responsabilidade Industrial que está sendo passado por cima, que as indústrias estão fazendo ouvidos moucos, enquanto vão incentivando artesanato de garrafa peti, e outros lixos. Mas não é bem assim, sou daqueles que acham que as indústrias devem reciclar e aceitar de volta suas embalagens e não me venham com incentivo ao artesanato para que seja usado seu lixo. O uso de lixo como artesanado deve ser voluntário, não destino de lixo, de descarte. Eles é que devem encontrar uma resposta para isso ao invés de ficarem entupindo nossas cidades com essa porcariada toda.Agora, quem quiser usar sua criatividade para usar os materiais disponíveis, é outra coisa.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
MOVIMENTO NO TRABALHO
Tem dias diferentes de trabalho. Encontrei, dentro do córrego que passa no terreno onde moro, um pedaço de malha de plástico, enterrado na lama, sabe lá há quantas décadas. Sempre encontro cacos de vidro, pedaços de ferro, pois é área rural e habitado há mais de 1oo ano, guardo. Vou ajuntando, para ser usado de repente. Bem, quando olhei pro pedaço de plástico sujo, roto, vi logo que a textura poderia ser usável. Lavei bem e fotografei. Peguei uns 5 punhados de barro plástico, que é a minha massa básica, de argila sedimentar muito liguenta de beira de rio, e fui misturando antiplásticos. Argila de barranco sem liga nenhuma, mais chamote de tijolo, mais um pouco de chamote de arenito, muito grosso, feldspato, caulim, talco, água, fui misturando e transformando numa massa. Quis uma massa grosseira, para queimar em alta temperatura, 1263 graus centígrados, cone 8. Amassei devidamente, estiquei a placa entre duas ripas com um cano de PVC de 5 cm, deixando bem plana e com rugosidade devido ao excesso de chamote grosseiro. Coloquei o trapo de plástico sobre a massa e apliquei a textura com pressão, até deixar enterrada na massa.
Peguei com cuidado esta placa e depositei sobre uma forma de gesso própria para uma peça do tipo prato centro de mesa. Não fiz recortes, deixei as bordas como iam ficando à medida em que esticava a massa. Claro que ia direcionando o esticamento.
Apertei o fundo e deixei o formato como quis. Sobre o pano prensado, antes de tirá-lo do meio da massa, passei um engobe de uma argila que colhi há alguns dias bem fina, na beira da estrada, que estava sedimentada, já separada pela natureza, com fina granulometria. Argila vermelha com uns 7 a 9 % de óxido de ferro, em alta ficará bem escuro e fará um contraste com a textura do plástico que era xexelento e virou uma outra coisa, um material muito bonito.
Agora está secando. Duração do movimento: duas horas.
Gosto deste tipo de movimento. Vejo algo e dá um clic. Vou com tudo e começo a improvisar com o que tenho à minha disposição. Claro, tenho todas as matérias primas necessárias para fazer uma boa massa de qualquer temperatura de queima. Estou preparado. Depois, com a intimidade que adquiri no manuseio dos materiais, vou compondo, rapidamente, deixando que a minha cabeça decida em função de toda a cultura cerâmica que fui acumulando. É intenso, entro em transe, vou até o final do movimento. Não me preocupo com mais nada, deixo fluir, depois analiso de fora o que aconteceu.
O final da parada é vender, quem quer?
Aprendi com o Ulisses de Homero que o grande negócio da vida é a viagem, a chegada nem é tão importante....
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