domingo, 25 de maio de 2008

QUEIMA DE ALTA TEMPERATURA-GÁS-1270oC


Esta semana fiz alguns testes de vidrados e teste do próprio forno de alta temperatura. O forno é artesanal, confeccionado com tijolos isolantes, em formato de cilindro. As dimensões internas são de 58 cm de diâmetro por 90 cm de altura, de volume útil. Este forno utiliza os cálculos de abertura para entrada de gás e saída segundo as formulações ensinadas pelo Chiti (J.H.Chiti, Instituto Condorhuasi-Buenos Aires) em seus livros e cursos. As queimas podem ser feitas com um ou dois maçaricos, dependendo as potências deles, o resultado sempre é bom. A curva de queima pode ser feita de acordo com a vontade do ceramista. No meu caso, estou fazendo uma queima em 4 horas, com patamar de 20 minutos a 1263 graus centígrados, cone 8. Esta queima eu controlo com relógio digital e também com cones. Estes últimos usarei sempre que quiser uma queima diferenciada, já que o relógio digital, apesar das diferenças que sempre encontramos, repete igualmente os valores e assim podemos padronizar até a possível diferença de temperatura. É claro que este é um forno artesanal, cujo custo, comparado com um forno comercial de alta Temperatura, está em torno de 50% do preço deste último (para forno a gás, se for comparadado com elétrico não ultrapassa 30%).

O comportamento do forno é muito bom, estou satisfeito com ele. Já fiz queima rápida em 2horas e meia, até 1263 graus centígrados. O forno bem calculado permite variações de tempo de queima, simplificando a vida do ceramista.

Nesta semana pesquisei vidrados de cinza. Parti das formulações de Bernard Leach (El Libro del Ceramista), da Jacy Takai (São Paulo - fórmulas apresentadas como resultados de suas pesquisas no Congresso de Cerâmica de Curitiba, 2006), usando as fórmulas limites para vidrados de cinza de Rhodes (Vidriados Ceramicos - Matthes), fórmulas do Chiti (de algum dos seus inúmeros libros) e, também, usando minha experiência pelas composições químicas médias das cinzas e dos produtos adicionados. O esquema de pesquisa sempre é o mesmo. Faço as formulações, depois testo juntamento com as matérias primas, para ver o comportamento geral.

Com o resultado obtido altero a formulação pelo que mais me interessar. Vidrado fosco, brilhante, áspero, rugoso, combinação heterodóxica de matérias primas, etc.

O vidrado do vaso que aparece na foto é uma mistura de vidrado de cinza com vidrado da formulação básica do Hamada para grês.

As pastas que estou utilizando também são produzidas artesanalmente. Uso argilas aqui da região, caulim, chamote refratário, talco, argilas de barranco para coloração diferente.

O trabalho de torno também é meu, usando u m torno artesanal.

Concluindo, a pasta, o torneado, o forno, o torno, os vidrados, tudo confeccionado em casa, de forma artesanal, com resultado que cada vez tem me agradado mais. O mais interessante é o resultado diferenciado que podemos obter, o amplo campo de pesquisa que temos pela frente, uma brincadeira fantástica, envolvente e que pretendo transformar em grana, que ninguém é de ferro...

sábado, 17 de maio de 2008

CURSO DE CERÂMICA ARTESANAL LAPA-PR


Estou ministrando um curso de cerâmica Artesanal na cidade de Lapa - PR, num bairro chamado "Os Alves". Este curso é realizado em duas etapas. Na primeira delas ensino as técnicas básicas e depois de 15 dias finalizo com o acabamento das peças e queima das mesmas. Este curso é patrocinado pelo Senar-PR que entra em contacto com os sindicados das cidades e localiza a demanda.




Não é apenas um curso de técnicas básicas. Começa por identificar, no próprio local onde o curso é realizado, a existência de argilas plásticas que possam ser usadas como matéria-prima de massa cerâmica. O principal é encontrar uma argila plástica que compoe 70% da massa que será usada para modelagem. Evidentemente que se na localidade existe uma olaria, a coisa fica mais fácil e uma orientação sobre composição de massas é suficiente, mas, mesmo assim, aproveito para compor diversas massas, fazer as placas testes e depois queimar, para apreciar o resultado e tirar conclusões. As argilas de barranco, de colorações diferentes também são usadas como engobe, e, algumas incorporadas na própria massa para enriquecer a decoração e como conhecimento do comportamento do material que encontramos ao nosso redor. Evidentemente que isso não representa dano ambiental, já que o consumo, por poucas pessoas, no caso 11, é mínimo. O Senar-PR também fornece um manual, do qual eu sou o autor, com 70 páginas, ilustrado, para facilitar o aprendizado e para que cada aluno tenha seu próprio material bibliográfico, tanto de acompanhamento das aulas, como para uso posterior. Depois de encontrar a argila plástica, procuro uma anti-plástica para completar a composição e dar qualidade à massa. Começo sempre com 70% de argila plástica e 30% de argila anti-plástica. Normalmente uso os termos argila gorda para a plástica e magra para a anti-plástica.


De posse de uma massa modelável ensino as técnicas de amassado e depois as técnicas cerâmicas propriamente ditas. Modelado livre, esticamento de placas, colagem, rolinhos (cordelado), etc. Aproveito para ensinar a confeccionar ferramentas de madeira e, também, de arames (estecas). No terceiro dia construo, com a ajuda de todos, um forno cerâmico artesanal para a queima. Ele tem as dimensões internas de aproximadamente 80cm x 80 cm x 80 cm. O tamanho é em função dos tijolos de dois furos disponíveis, aproximadamente 400 unidades. Podem ser, também, tijolos de seis furos, refratários, qualquer um. O forno é projetado para atingir a faixa dos 800 graus centígrados.


É comum o rejunte dos tijolos ser amassado com os pés o que transforma a aula num exercício alegre de cooperação.


A maioria dos alunos são mulheres e elas tem sempre uma grande atração por modelar panelas e fôrmas que imediatamente possam ser usadas em casa. Mas, saboneteiras, cinzeiros (em desuso), vasos, quadros para paredes, peças figurativas ((bibelôs e esculturas), inclusive apitos do tipo ocarina em formatos diversos (aves, peixes,etc), são confeccionados com muito garra de aprendizado.


Esta primeira etapa do curso aconteceu nesta semana, de 13 a 16 de maio. O retorno será de 26 a 29 deste mesmo mês.


Há uma enorme carência, em nossa área rual, de aprendizado e as pessoas estão muito disponíveis para encontrar meios que possam reforçar o orçamento familiar. Não dá para esquecer que 80% da população brasileira está nas cidades e o campo vive um isolamento reforçado pelas propagandas de consumo que nada tem a ver com a vida rural. Esta é muito mais simples, mas a juventude com dificuldades de estudar e atrapalhadas pela violenta máquina de propaganda da artificial vida citadina fica louca prá se mandar do campo e engrossar o contingente de pessoas que vivem à margem da sociedade, pois encontra um imenso atrapalho para inserir-se numa vida digna e dos benefícios da duvidosa vantagem do nosso tão propalado desenvolvimento tecnológico. É evidente que quem vem do campo não tem a menor condição de passar num vestibular em Universidade Federal.


É por isso que encontro muito prazer em ser um vetor de auxílio para a geração de renda, que ajuda a fixar o homem no campo, para pessoas que normalmente são mais simples, porém possuem ainda o velho calor do amor e da solidariedade humana. A eles sou muito grato.




sábado, 10 de maio de 2008

NARCISO VAI AO CONTAF-SAMPA



Sempre é vantajoso ir a qualquer encontro de ceramistas. Pelo contacto com outros profissionais do ramo, para ver como estamos em relação aos outros, para saber se evoluimos, se precisamos evoluir mais rapidamente, se a nossa linha de atuação está boa, como encurtar caminhos, como admirar os trabalhos dos outros, ficar contente com a evolução e o sucesso dos demais, saber que também poderemos lá chegar, que existe espaço para todos. O principal sentimento é o de abertura total para o aprendizado e para a admiração do trabalho alheio. Criticar é fácil, todos os congressos tem problemas, etc. O que fazer para dar força para termos, aqui no Brasil, um amplo acesso a todos aqueles que querem aprender de fato, é a questão. Ao criticar o Contaf, o Caio, o Paschoal, temos que ter em mente que esta crítica precisa ser construtiva, que ela deve ser direcionada para o próximo Contaf, para o sucesso dele, que será o nosso sucesso. É claro que o Chavarria tem muito mais para dar do que conseguimos "extrair". Mas o depoimento da paneleira da Paraíba foi emocionante, assim como o seu trabalho é muito bom, as Oficinas da Flávia são muito consistentes e além disso ela resolve os problemas cerâmicos individuais, fora da oficina, de forma brilhante e desinteressada. O Megume, a Ofra, etc, etc. O somatório é positivo. Precisa melhorar? Sim! O custo é alto para o participante. Passem e-mails para o Caio, façam as sugestões e em 2011 teremos o Contaf sonhado.