quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

PRIMAVERA 2017

Hoje amanheceu muito sabiá! Só não preto e de coleira, porque escasseiam. Chimarreava desde antes do espetáculo, aguardando. A cachoeira declarava nível médio de água. Um bandinho de aves passou,em cunha, grasnando: Irerê! Por breves instantes um filhote de Tico-Tico usou meu ombro
como poleiro e espantalhou-se apavorado.Uma Jacutinga caminhou altivamente pelo galho do pinheiro, deu o impulso e voou. O galho despediu-se balançando suavemente.
O Pássaro Preto quando usa ninho de  Tico- Tico para criar seus filhos, Vira Bosta. Mas desapareceram, liberando os Ticos-Ticos para criarem seus filhos numa única ninhada. Um casal deles com um filhote saltitava pelos galhos da amoreira que, viçosa, pretejava. Um deles ensinava vôos e lutas, o outro não se desquitava das proximidades, ciscando. Logo depois trocaram o turno, o filhote ciscava aprendizado e o que agora descansava, em cima do palanque da cerca, conferia e limpava a roupagem, ticoticando. Iam-se as primeiras pombas, despertando Raimundo Correia. Curucacas cruzavam os ares com seus retorcidos bicos. O João de Barro, há muito desperto, começava seu expediente na olaria.
Viros-Viros, Bigorrilhos, Chupa-Dente e outros, enchiam os espaços. A gentil e suave Corruíra entrava em buracos, catando insetos. O casal de Baitaca que passou a noite toda roendo madeira no beiral da casa, acho que dormia com o filhote.
Mais um pouco e até cantaria o Galo Garnizé de cerâmica da cumeeira.
Os Pinheiros, Imbuias, Gabirobeiras, Ervateiras, nós todos, paralisávamos, silentes, o grande momento.
Agradecido constato que ainda não chegou a Primavera Silenciosa,
E eu, quieto, silencioso, no meu outono, agasalho-me, esperando o inverno...

Um comentário:

Helena Erthal disse...

oi Gilberto, bela prosa-poética, vou lendo o texto e visualizando as imagens, muita paz, obrigada