sexta-feira, 2 de abril de 2010

MORRETES-PARANÁ





MORRETES- PARANÁ

Morretes, juntamente com Antonina, Paranaguá, Alexandra e Guaraqueçaba são as cidades mais antigas do litoral Paranaense. Todas tem sua beleza própria, a arquitetura herdada portuguesa, e, principalmente porque foram escolhidas como cidade por estarem num ponto de grande beleza e estrategicamente situadas. Morretes, próxima a Porto de Cima, era o caminho mais fácil de acesso ao primeiro Planalto Paranaense. As mercadorias que chegavam de navio em Paranaguá eram levadas de barco até Morretes, Porto de Cima, e dalí, pelo caminho da Graciosa ou do Itupava ultrapassavam a Serra do Mar. Os caminhos da Graciosa, depois Estrada da Graciosa, e o Itupava são pré-colombianos e usam a topografia da Serra do Mar em seus trechos de mais fácil acesso, de forma objetiva pela civilização que antecedeu à chegada dos europeus.
Toda manhã desci de carro até Morretes, pois moro na Estrada da Graciosa já no primeiro planalto. Cortar a Serra do Mar toda manhã, com chuva, neblina ou sol é sempre uma oportunidade deliciosa. Velocidade de 30, 40 km por hora, vegetação luxuriante (a maior faixa continua remanescente preservada da Mata Atlantica, considerada a maior Biodiversidade do Planeta) a exuberância, o clima agradável revigoram e remetem, imediatamente, à grande loucura humana de devastação do nosso Planeta. A Estrada da Graciosa foi definida em seu traçado por Antonio Rebouças, o mesmo que vendeu a idéia da ferrovia transpondo a Serra do Mar, concretizando o primeiro projeto. Seu irmão André Rebouças é considerado o primeiro ecologista que por aqui aportou, isto nos anos 1860 (ano do início da construção da Estrada da Graciosa). André Rebouças , sugeriu, no século 19, que se fizessem corredores ecologicos, vindo das Cataratas do Iguaçu, até a Serra do Mar, usando os rios, antecipando as Áreas de Preservação Permanente que são as matas ciliares dos rios. Isto preservaria, intacto, todo o nosso sistema hidrológico, juntamente com os animais, que poderiam transitar por todo o Estado. A idéia de Corredor Ecológico é o que se pode pensar de mais fantástico em termos de Preservação Ambiental porque ele garante a interligação da fauna e flora, diretamente, através de todos os acidentes geográficos, por todo o território..
Em Morretes fui ministrar o curso de Cerâmica na area rural. O curso de Cerâmica Básica segue uma sequência lógica: verificar as argilas locais, preparar uma massa cerâmica, testar, ensinar as técnicas básicas, construir forno, dar acabamento nas peças, queimar, ver os resultados, fazer a crítica dos resultados e recomeçar.
O curso foi na casa da Dalma, ela cedeu e organizou o espaço, chamou as pessoas, responsabilizou-se pelo evento. Encontramos uma argila de boa qualidade em seu próprio terreno, que misturada com outra um pouco mais plástica, forneceu uma massa aceitável. Morretes não é conhecida pela qualidade de suas argilas, apesar de estar nos pés da Serra do Mar e do Pico Marumbi, de origem granítica, portanto, gerador de argilas e caulins. A cidade de Alexandra, que está bem próxima, tem argilas e caulins de renome.
As pessoas envolvidas no curso não possuiam conhecimento cerâmico anterior. Todavia, os resultados apareceram e a própria Dalma apresentou alguns trabalhos interessantes, como uma panela no estilo mineiro e, também, mostrou eficácia noutro tipo de trabalho, que foi o seguinte. Levei máquina fotográfica digital, computador e impressora. Escolhi alguns casarões do início do século passado de Morretes, fotografei as fachadas, passei para o cumputador e imprimi na hora. Foi esticada uma placa de massa cerâmica, já produzida no local, e foi repassado o desenho da fachada para a placa, feito o acabamento, que é difícil e da qual imediatamente fiz uma forma de gesso e pode ser copiada, em série. É o tipo de Artesanato de qualidade que deve ser feito e aproveitado em quase todas as localidades, aproveitando sua história local e vendendo como Lembrança de Morretes-Brasil, por exemplo.
Também, Dona Vitória, de 80 anos, participou do curso com um ânimo surpreendente e disposição para o trabalho inigualável, pois cumpriu perfeitamente todos os horários dos 8 dias de curso, incansável, alerta, positiva e interessada. Com ela troquei muitas plantas: bambu gigante, araçá king size, umê. Fora as frutas do conde que todos os dias trazia para consumo.
Sempre é um prazer visitar pequenas comunidades, poder compartilhar o conhecimento adquirido em cerâmica e incentivar as pessoas a procurarem uma nova forma de sobrevivência financeira de forma independente. Iso porque o curso permite que se comece um artesanato cerâmico do início ao fim. Por isso a construção de um forno simples, feito de tijolo e argila é fundamental
Todavia, um curso somente vale quando as pessoas nele envolvidas dão retorno. Daí, sim, fica empolgante e redobram os esforços para que se chegue ao melhor resultado possível.

Um comentário:

Anônimo disse...

Fico emocionada com o seu trabalho. É o que quero fazer assim que possível. Fiz um curso de cerâmica ano passado e me apaixonei. Preciso construir um forno. Quem sabe você pode vir aqui construir um para mim e o curso também. Qual o preço, qual a quantidade mínima de pessoas ???
Grande abraço e parabéns !!!
Valquiria

valquiria.mr@ig.com.br