sexta-feira, 28 de novembro de 2008
DETALHES DE VIDRADOS-RAKU
Nos trabalhos em que fui selecionado para o Salão Nacional de Cerâmica, gostei muito do resultado que obtive com os vidrados de RAKU. Pelos detalhes das fotografias pode-se notar a variedades dos efeitos que consegui utilizando vidrados com belíssima rede de craquelê nos dodecaedros, como, também, sem o craquelê. O que busquei foram vidrados com altos coeficientes de dilatação e na massa coloquei materiais com menos coeficiente de dilatação. Assim, favoreci o aumento do craquelê. Nos vidrados além usar bórax, adicionei bastante sódio e potássio. Tenho pesquisado o bórax, apesar de ser solúvel, por ter um custo baixíssimo. Tenho visto que estes vidrados além disso apresentam uma variação muito interessante de efeitos inusitados e inéditos. A grande maioria dos ceramistas apenas compram seus vidrados nas lojas do ramo e vão resolvendo sua produção. O bórax é tóxico, como bem pode ser visto na literatura e exige o cuidado correspondente. Os dados de contaminação por materiais cerâmicos na literatura são escassos. Sabe-se bem o cuidado que é preciso ter com os vidrados de chumbo, os vermelhos amarelos e laranjas, de selênio e cádmio. Estou evitando usar vidrados que contenham chumbo, selênio e cádmio. Pode-se passar muito bem sem eles. A gama de vidrados alcalinos é enorme. Na alta temperatura praticamente todos os vidrados são não tóxicos. Os pigmentos de cobre, cromo, cobalto, que são os principais colorantes dos vidrados também são tóxicos. Voltamos à necessidade de sempre tomar os devidos cuidados na a produção cerâmica. Quanto à utilização de vidrados caseiros, com efeitos diferenciados, adicionei o sal de cozinha, cloreto de sódio na composição, para obter o sódio. Para o potássio, um pouco de feldspato de potássio. Na massa, aumentei o percentual de sílica para diminuir o coeficiente de dilatação. Aumentei o coeficiente de dilatão do vidrado e diminuí o da massa, dando o máximo de contraste. Além disso, ao retirar as peças do forno, deixei um minuto sem proteger com serragem, cepilho, folhas, etc, para ainda aumentar o craquelê. O resultado pode ser visto pelas fotografias.
Já os vidrados COPPER MATE exigem mais cuidado, mais trabalho. Na composição usei a que se encontra na literatura, vidrado alcalino, com óxido de cobalto, óxido de ferro vermelho e óxido de cobre. Para a redução coloquei as peças em ambientes fechados com jornal. Quando a redução é feita de forma violenta, as cores ficam mais claras.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
CURSOS DE CERÂMICA BÁSICA
Neste mes e no mes passado, ministrei duas oficinas de Cerâmica Básica, de 64 horas cada, patrocinadas pelo Senar-PR, nas cidades de Campo Magro (Região Metropolitana de Curitiba) e em Quatro Barras, no meu próprio Ateliê, no Bairro Campininha. Evidentemente que as oficinas no meu ateliê são mais fáceis de ministrar. Tenho maromba extrusora, argila plástica em toneladas, toda a infra-estrutura para produzir uma massa artesanal de boa qualidade, plástica, com adição ou não de chamote. Pesquiso as argilas de barranco das cercanias do local onde se encontra meu ateliê. Conheço inúmeras que tem coloração diferente, as quais, inclusive utilizo para pintura de paredes de alvenaria. A adição de uma argila anti-plástica extraída no próprio local de trabalho, ou próximo dele, tem uma força especial. Primeiro porque fica claro para aqueles que estão fazendo um curso, como utilizar-se de matérias-primas que estão disponíveis ao nosso redor e isso torna o aprendizado mais interessante. Argilas plásticas de grande qualidade para uso em cerâmica artesanal e artística são descartadas normalmente na região mnetropolitana de Curitiba. Estamos no primeiro planalto paranaense, ao lado da Serra do Mar, que é constituída de granito e este por quartzo, mica e feldspato, sendo o último a origem das argilas e caulins, portanto, nossa região Metropolitana tem material cerâmico em abundância. Basta estar alerta. Por exemplo, neste ano, na Avenida Maringá, em Pinhais, a Prefeitura Local estava implantando um sistema novo de galeria de águas pluviais e necessitou cavar a uma profundidade de 3 metros para colocar mais de um km de tubulações de mais de 1 metro de diâmetro. Conclusão: a argila plástica que a retroescavadeira retirava era imediatamente levada por caminhões caçamba e descartada. Nas escavações das contruções de prédios e edifícios em Curitiba também podem ser encontrados ótimas argilas plásticas para compor uma massa utilizável com resultados excelentes. Estou falando de cerâmica artesanal e artística que não representa qualquer dano para o meio ambiente. Existe hoje em dia um consenso sobre as argilas = são matérias-primas não renováveis. Assim, se, mesmo em pequena escala, estivermos usando um material que será descartado e mais, inutilizado, é muito interessante e de uma certa maneira é uma atitude ambientalista. Uma noção mínima para compor uma massa é necessária. Mas a literatura está disponível em todos os lugares e uma massa artesanal, para começar, pode ser composta com 70% de material plástico e 30% de material anti-plástico. Se passar no teste do rolinho, ou anel, já pode ser usado. Teste do Rolinho, ou do anel: misture bem a massa, faça um rolinho de aproximadamente 10 cm de comprimento e 1cm de diâmetro e entorte-o ao redor de um dedo. Se não rachar é plástico, pode ser usado para modelagem. Se rachar necessita de mais material plástico. Já falei sobre isso noutra postagem.É claro que deverá ser testado no momento de confeccionar alguma peça e depois queimar e ver sua qualidade, se serve para aquilo que se deseja. Pode ser adicionado tijolo moído e peneirado como chamote. O material anti-plástico é muito fácil de ser encontrado. É a argila mais abundante em quase todos os terrenos, barrancos, etc. Em todo lugar existe algum movimento de terra, o nosso planeta está sendo rasgado de cima a baixo e sem sua pele natural (vegetais), o material argiloso está exposto em todo parte.
As panelas estão cada vez mais sendo procuradas como produto artesanal. A confecção exige concentração e repetição de algumas panelas para fazer uma de qualidade aceitável, isso para quem nunca trabalhou anteriormente com modelado cerâmico e tem pouca habilidade com artesanato. O método mais simples é o da bola. Amassa-se corretamente o barro (técnica da cara do boi, por exemplo) e faz-se uma bola de argila, com a quantidade de barro para o tamanho da panela. Abre-se um buraco no centro e daí vai abrindo e dando o formato à panela. O dedo indicador curvado e apoiado pelo polegar é a ferramenta que abre a panela. Veja a fotografia da reportagem. A outra forma, sem o torno, é o rolinho ou cordelado. Vai sobrepondo rolinhos já com a espessura da parede da panela até a altura desejada. As tampas podem ser confeccionadas esticando uma placa e deixando secar sobre uma superfície, de preferência gêsso, em, formato de calota. Para impermeabilizar as panelas alguns métodos são adotados. No Estado do Espírito Santo é muito usado a casca da planta do mangue "Risophora mangle". Faz-se uma infusão forte e depois de tiradas as panelas da queima, esta infusão é batida nas panelas ainda quentes com ramo de plantas. No nordeste é muito usado untar as panelas na parte interior com óleo de cozinha e colocar ao sol. Esta operação é repetida umas quatro vezes. Vi no litoral do Paraná a impermeabilização sendo feita fritando com bastante óleo cascas de banana verde. Meia dúzia de cascas de bananas são suficientes. O método mais prático que achei foi fazer um refogado de cebola e alho com bastante óleo e fritar espalhando o óleo por toda a panela. Jogar fora este preparado. Após isso a panela já está pronta para uso.
As panelas dos oleiros de São José, Santa Catarina são impermeabilizadas com vidrado de sal. Esta parece-me a forma mais perfeita de impermeabilização. Mas não está ao alcance de todo ceramista artesanal paneleiro.Nas fotos panela dos Oleiros de São José-SC (amarela), panela Capixaba do Mestre Pixilô (preta) e panela confeccionada por mim, com impermeabilização com líquido da infusão de cascas com taninos de plantas locais: acácia negra e aroeira.
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
SALÃO E CONGRESSO NACIONAL DE CERÂMICA
De 6 a 9 de novembro, aqui em Curitiba, aconteceu o Congresso Nacional de Cerâmica. É do mesmo porte do Contaf de São Paulo. Evento indispensável no mundo cerâmico tupiniquim. São Paulo (na Cerâmica Artística= Megume, Norma Grimberg, Ideko) e o nordeste ( na Cerâmica popular= Mestre Nado, Paneleiras de Belém, Paraíba, Caruaru, Bahia) estão presentes influenciando positivamente o desenvolvimento cerâmico Nacional. O Contaf, infelizmente, dará um tempo, até 2010, para acontecer novamente. Precisamos valorizar cada vez mais o Congresso Nacional patrocinado pelo Governo do Estado do Paraná. Além deste invenstimento, ainda tem o Salão Nacional de Cerâmica, paralelo ao evento, o único deste gênero, em Cerâmica, no Brasil, com prêmio de $7.000,00 para os três primeiros colocados em Cerâmica Artística, Design e Popular. Claro que essa grana é mínima, mas de alguma forma valoriza além do dinheiro aqueles que apresentam um trabalho de qualidade, bem como todos os demais participantes selecionados para o Salão.
O Congresso é um ponto de referência, um lugar de troca de experiências e contactos,
Fiz oficina com o Megume, cujo tema era "O Cadáver Esquisito" um jogo coletivo surrealista inventado na França em 1925. Foi uma Oficina muito bem conduzida e de grande integração entre os participantes que resultou num gran finale emocionante.
O que tenho pensado sobre o trabalho artístico é o que acredito ser a necessidade premente do Ser Humano, frente ao desenvolvimento tecnológico e a degradação acelerada do planeta. Todos os habitantes humanos do Planeta Terra precisam pensar na curta duração da sua existência e que é necessário preservar a Natureza. Não adianta um trabalho de vanguarda, contemporâneo, com conceito, poética, se ao seu lado tudo é destruído: espécies animais e vegetais são extintas. O trabalho artístico precisa conter este grito de desespero e ao mesmo tempo de esperança. O nosso lugar no Cosmos, coordenadas cósmicas, está definido. O limite do nosso mundo visível está quantificado. O homem está no ponto médio entre o macro e o microcosmo. Nossa solidão cósmica aumenta com o aumento da nossa compreensão das dimensões cosmológicas. Todavia, a Vida e o Homem continuam sendo o mistério. A desconstrução desenfreada junto com a Maldição da Tabela Periódica (não teremos descanso enquanto não separarmos todos os elementos químicos do planeta, colocando-os organizadamente cada um no seu lugar...), somado à alugação da nossa cabeça com a sobrevivência diária, tornaram a vida muito rápida e curta, com atrativos reduzidos.... E por aí afora...
Fui selecionado com duas obras para o Salão Nacional de Cerâmica. Numa delas quis sintetizar meu sentimento de oprimido pelas contingências e exigências do dia a dia. São as Balas de Canhão = a vertigem do cotidiano conduzido para o nada, tangido pela força disfarçada dos mais fortes. A obra carece de força, necessita mais poesia, quero desenvolver melhor este tema. Perseguir mais essa idéia, ir mais longe, colocar mais coisas. O título foi inspirado no Riobaldo Tatarana do Guimarães Rosa "... no meio do redemunho!"
A outra obra, chamada Dodecatoplatonis são dodecaedros empilhados, que somados mede 1,55m de altura. A queima é de Raku, com bastante sódio na formulação do vidrado para aumentar o c`raquelê. São todos vidrados formulados para estas peças.
O Congresso é um ponto de referência, um lugar de troca de experiências e contactos,
Fiz oficina com o Megume, cujo tema era "O Cadáver Esquisito" um jogo coletivo surrealista inventado na França em 1925. Foi uma Oficina muito bem conduzida e de grande integração entre os participantes que resultou num gran finale emocionante.
O que tenho pensado sobre o trabalho artístico é o que acredito ser a necessidade premente do Ser Humano, frente ao desenvolvimento tecnológico e a degradação acelerada do planeta. Todos os habitantes humanos do Planeta Terra precisam pensar na curta duração da sua existência e que é necessário preservar a Natureza. Não adianta um trabalho de vanguarda, contemporâneo, com conceito, poética, se ao seu lado tudo é destruído: espécies animais e vegetais são extintas. O trabalho artístico precisa conter este grito de desespero e ao mesmo tempo de esperança. O nosso lugar no Cosmos, coordenadas cósmicas, está definido. O limite do nosso mundo visível está quantificado. O homem está no ponto médio entre o macro e o microcosmo. Nossa solidão cósmica aumenta com o aumento da nossa compreensão das dimensões cosmológicas. Todavia, a Vida e o Homem continuam sendo o mistério. A desconstrução desenfreada junto com a Maldição da Tabela Periódica (não teremos descanso enquanto não separarmos todos os elementos químicos do planeta, colocando-os organizadamente cada um no seu lugar...), somado à alugação da nossa cabeça com a sobrevivência diária, tornaram a vida muito rápida e curta, com atrativos reduzidos.... E por aí afora...
Fui selecionado com duas obras para o Salão Nacional de Cerâmica. Numa delas quis sintetizar meu sentimento de oprimido pelas contingências e exigências do dia a dia. São as Balas de Canhão = a vertigem do cotidiano conduzido para o nada, tangido pela força disfarçada dos mais fortes. A obra carece de força, necessita mais poesia, quero desenvolver melhor este tema. Perseguir mais essa idéia, ir mais longe, colocar mais coisas. O título foi inspirado no Riobaldo Tatarana do Guimarães Rosa "... no meio do redemunho!"
A outra obra, chamada Dodecatoplatonis são dodecaedros empilhados, que somados mede 1,55m de altura. A queima é de Raku, com bastante sódio na formulação do vidrado para aumentar o c`raquelê. São todos vidrados formulados para estas peças.
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