domingo, 10 de agosto de 2008

VIVÊNCIA - RAKU E COPPER MATE-SALÃO










Algumas vezes por ano, abro meu espaço de trabalho para oficinas de Raku. Chamo de Vivência.Vivência porque o enfoque vai além da Cerâmica. É um dia de cerâmica que os interessados podem vivenciar. Apresento três peças já previamente torneadas e biscoitadas para que cada participante, no máximo 15, pinte. Depois é queimado, num forno próprio, retirado do forno a 980 graus centígrados e colocado na serragem para a redução química. Esta técnica foi inventada pelos coreanos, eternizada pelos japoneses e popularizada pelo americano Paul Soldner. A oficina começa às 9horas da manhã e termina às 17 horas. O almoço, bem como o lanche de encerramento é preparado pela minha companheira Beatriz, expert em culinária, com enfoque naturalista e com opção para vegetarianos. No dia 23 de agosto farei uma dessas oficinas = Raku e Copper Mate. Custo por pessoa = R$ 120,00. Quem se interessar, passe um e-mail para maiores detalhes.
No meu espaço de trabalho tenho o maior cuidado com a Natureza. Moro numa chácara, onde 50 % é área de Preservação. Meu ateliê está cercado de árvores.
Acho que não se pode separar a vida do trabalho. Por isso, durante anos batalhei para poder realizar aquilo em que acredito: trabalhar de forma independente, associar minha vida profissional à minha própria vida. Ao separar minha vida do meu trabalho uma parte de mim fica perdida, dissociada. Assim,viver de forma independente, tentando não dar força a essa corrente de desenvolvimento que está levando nosso planeta à falência múltipla, preservar o meio ambiente, fazer proselitismo ambiental, tomar atitudes mínimas que ajudem as pessoas menos favorecidas, não julgar os outros pelo seu poder financeiro, não dar importância para a sofisticação da aparência, tentar olhar o ambiente que me cerca, ter compaixão pelos outros, agradecer à vida, à saúde, é a minha meta.
Evidentemente que necessitamos de dinheiro, muito dinheiro! A cultura é caríssima, os livros têm preços absurdos, viajar é uma nota preta, pagar por bons cursos é necessário. O tempo também está muito rápido (efeito Schumann). Vejo as pessoas dizendo sempre isso, que não tem tempo, que não conseguem dar conta dos compromissos, que a vida se esvai mais rapidamente do que o crédito do celular. Então, todos têm sua charada particular. Precisamos matá-la para sobreviver de forma digna, satisfatória.
Todavia, ainda sobra um tempinho para alguma coisa. Agora neste final de julho, começo de agosto, em pleno inverno, aqui no meu ateliê, a cerejeira do Japão, Sakura, numa belíssima e intensa floração, transportou-me para a carta que Shoji Hamada escreveu para Bernard Leach, na década de 30 do século passado, que este reproduz no seu livro “O livro do Ceramista”: “...a cada ano ao contemplar as cerejeiras em flor, sinto que a primavera vai entrando cada vez mais dentro de mim...” Um bando de baitacas (família dos psitacídeos), umas 30, vivendo mais intensamente, aproveitou para saborear as flores da cerejeira. Um belíssimo espetáculo que reparto com vocês na foto acima.
Estou também, neste mês, preparando-me para o Salão de Cerâmica que acontece aqui em Curitiba, juntamente com o Congresso Nacional de Cerâmica. Trabalho algumas peças onde tento colocar minha visão da cerâmica e a minha visão das coisas que me cercam. Como posso expressar todo o sentimento que me impele a seguir adiante na vida e ao mesmo tempo colocar a minha tristeza por compreender que o ser humano socialmente está numa escalada insana, a população mundial sem qualquer possibilidade de controle, as mudanças climáticas já instaladas no planeta, o desenvolvimento tecnológico perscrutando o Universo mostrando maravilhas que somente as gerações atuais estão podendo ver, a Ciência em toda sua plenitude de desenvolvimento, são algumas das emoções contraditórios atuais. Como expressar esta alegria e ansiedade que sinto? Somado a isso, o meu conhecimento cerâmico e habilidade que desenvolvi até o presente.